terça-feira, 17 de julho de 2007

A Gratuidade do Amor

A melhor definição de Graça no sentido religioso de um dom de Deus, específico, deu-a, há uns 60 anos o padre português José Lourenço: “ Graça é um dom sobrenatural que Deus nos concede gratuitamente e pelos merecimentos de Jesus Cristo, para podermos santificar a nossa vida e obter a nossa salvação eterna. A Graça é um bem maior que todos os bens do Universo” (...)

Só este período já dá para escrever um tratado que minhas trinta linhas deste canto de página, não permitem. Vou falar de amor, não vou falar de religião, mas vou falar da expressão “gratuitamente”. Pena que o caráter mercantil do século vinte transformou o conceito de dom gratuito e as palavras, tanto Graça e Gratuito em termos econômicos. Graça chegou a ser até sinônimo de coisa para rir.

O grande sentido do amor (a Deus, a alguém, ao país) é ser gratuito. Diria mais: só é amor quando é gratuito. Por gratuito entenda-se algo que se estabelece com total verdade, desinteresse e autenticidade, independente até da vontade.

Por isso, o amor nos traz possibilidades sempre novas, um vigor peculiar antes inexistente em nós. Diferente da Paixão que é tudo isso em estado de exaltação febril, por isso passageiro. A gratuidade do amor é a sua conexão com o mistério de cada existência humana e dos desígnios impossíveis de serem alcançados por nossa inteligência. Existe porque existe. Independe de causa. É só efeito.

Segundo os teólogos, a Graça é comunicada diretamente por Deus através de meios nem sempre perceptíveis mas bem definidos: quando nos inspira a um bom pensamento, alguma obra, ainda que humilde, para o bem. O conceito vai tão longe, no plano religioso, que o apóstolo São Paulo chegava a dizer: “ A Graça de Deus é a vida eterna em Nosso Senhor Jesus Cristo”.

A gratuidade do amor é a presença da Graça entre dois seres humanos. Por isso sempre digo: quando é amor a gente sabe. Ficou em dúvida, vacilou, pode ser tudo de bom porém amor não é. O amor é a despeito, é além, é sobre, é apesar. Existe e se manifesta com uma inviolável certeza. A forma talvez mais evidente do amor é o maternal ou o paternal. Não há explicações para o ser humano amar os filhos. Ele apenas ama, gratuitamente. É a presença de um dom especial dotado pelo Mistério através do qual Deus manifesta um desejo de bem, de construção de uma nova vida.

Sim, o amor é gratuito e nisso consiste a sua maravilha e a sua superioridade. E como dizia o sábio padre português José Lourenço: “A Graça já é um princípio da vida celeste em nós; é Deus vindo até nós com o seu auxílio para nos elevarmos até Ele”.

Autor: Artur da Távola

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