domingo, 12 de agosto de 2007
O Pastor e o Ateu
Se o Sr. Bradlaugh não puder apresentar cem, contra os meus cem, Ficarei satisfeito se trouxer cinqüenta homens e mulheres que se levantem e testifiquem que foram transformados duma vida vergonhosa pela influência dos seus ensinos ateus. Se não puder apresentar cinqüenta, desafio-o a apresentar vinte pessoas que testifiquem com rostos radiantes, como o farão os meus cem, que tenham um grande e novo gozo na sua vida elevada, em resultado dos ensinos ateus. Se não puder apresentar vinte, ficarei satisfeito se apresentar dez. Não, Sr. Bradlaugh, desafio-o a trazer um só homem ou uma só mulher que dê tal testemunho acerca da influência enobrecedora dos seus ensinos. Minhas pessoas redimidas trarão prova irrefutável quanto ao poder salvador de Jesus Cristo sobre as suas vidas redimidas da escravidão do pecado e da vergonha. Talvez, senhor Bradlaugh, essa será a verdadeira demonstração da validade das reivindicações do cristianismo.
O Sr. Bradlaugh retirou o seu desafio!
domingo, 10 de junho de 2007
Constrangidos pelo amor: do ateísmo para Cristo
Alderi Souza de Matos
Ao longo da história, não têm sido muito comuns os casos de ateus que se converteram à fé cristã. Em primeiro lugar, isso se deve ao fato de que, durante muito tempo, o número de ateus declarados foi bastante reduzido. O fenômeno do ceticismo religioso tem sido mais visível nos últimos séculos, especialmente a partir do Iluminismo. Em segundo lugar, o ateísmo, quando resulta de uma decisão intelectual consciente e deliberada, é uma posição da qual o indivíduo não é demovido com facilidade. Entretanto, se a incredulidade em suas diversas formas for entendida de maneira mais abrangente, incluindo a indiferença em relação a Deus ou o ateísmo prático, é possível encontrar um maior número de histórias de conversão. Os casos a seguir são uma pequena amostragem dessas diferentes situações, partindo de exemplos pouco conhecidos para concluir com aquele que talvez seja um dos mais famosos ateus convertidos a Cristo nos últimos tempos.
Uma viagem transformadora
O inglês Musgrave Reid, que narrou a sua conversão no livreto From Atheism to Christ (Do Ateísmo para Cristo), havia sido batizado e confirmado na Igreja Anglicana. Com o passar dos anos, desiludiu-se com a igreja e com a fé cristã, vindo a tornar-se discípulo de Charles Bradlaugh, um conferencista ateu. Mais tarde tornou-se secretário da Sociedade Fabiana de Manchester, secretário da Associação Socialista de Lancashire e secretário-geral do Partido Trabalhista Independente. Manteve-se incrédulo por vinte anos.
Sua conversão ocorreu numa viagem de negócios aos Estados Unidos, na qual percorreu todo o país, visitando 62 cidades. Em certa ocasião, atravessando de trem as Montanhas Rochosas cobertas de neve, a 4.500 metros de altitude, ele ficou tão impressionado com o deslumbrante cenário que a sua mente começou instintivamente a buscar uma explicação para aquelas maravilhas. Ao mesmo tempo, começou a questionar as suas posições materialistas, influenciadas em parte pela recente teoria evolucionista. Ele mesmo narra a sua experiência: “Imperceptivelmente, descobri que a minha mente estava experimentando uma mudança. Surgiu um irresistível senso de deslumbramento e a reverência se insinuou em meus pensamentos... Caí de joelhos e clamei: ‘Ó Deus, se tu existes, revela-te!’ Pedi luz e a luz veio como uma torrente”. Tudo isso aconteceu enquanto ele tinha em mãos um dos livros de Robert G. Ingersoll (1833-1899), o conhecido advogado e orador materialista norte-americano.
Voltando para a Inglaterra, o processo de conversão de Reid se completou com a leitura da Bíblia, e especialmente com as palavras de João 3.16. Agora ele não somente cria na existência de Deus, mas o conhecia como aquele que se revelou em Cristo e na cruz. Durante o restante da sua vida, Reid contou aos outros o que Deus havia feito por ele.
O exemplo de um subalterno
Um dos maiores pregadores do Estados Unidos no final do século 19 e início do século 20 foi Russell H. Conwell (1843-1925). Conwell foi um valoroso capitão na Guerra Civil Americana (1862-1865), mas era um firme adepto do ateísmo desde que estudou na Universidade de Yale, para desgosto do pai, um piedoso metodista. Na guerra, ele teve como ordenança um jovem cristão chamado John Ring, a quem Conwell proibia de ler a Bíblia em sua barraca. Durante um batalha na Carolina do Norte, Conwell se esqueceu de levar consigo uma espada folheada a ouro que muito apreciava. O jovem ordenança passou pelas linhas inimigas e pegou a espada, mas ao atravessar uma ponte em chamas sofreu graves queimaduras. Antes de morrer no hospital, deixou uma mensagem para o seu capitão: “Eu queria dar-lhe a sua espada, e então ele saberia o quanto eu o amava”.
Depois disso, Conwell não foi mais o mesmo. Após ser deixado como morto em uma batalha e ter passado por um período de grande aflição interior, ele finalmente encontrou a paz. Sua oração foi: “Senhor, ajuda-me a fazer o meu trabalho e também o trabalho do meu heróico jovem soldado”. Ele se tornou um afamado pregador, foi o criador e o primeiro presidente da Universidade Temple (em Filadélfia), batizou mais de seis mil conversos e fundou três hospitais ligados à sua igreja. Quando morreu, foi enterrado com a espada que durante toda a vida lhe lembrou o fiel soldado John Ring.
Surpreendido pela alegria
C.S. Lewis (1898-1963) foi um dos cristãos mais destacados do século 20. Seus livros continuam sendo muito lidos e dentro em breve estreará nos cinemas do Brasil um filme baseado em uma de suas obras mais conhecidas, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Lewis nasceu em uma família protestante residente em Belfast, na Irlanda do Norte. Desde pequeno, adquiriu um grande amor pelos livros. Quando estava com dez anos, a sua mãe morreu de câncer, o que o deixou profundamente magoado. Começou a ter dúvidas a respeito de Deus e quando foi para um internato tornou-se um ateu confesso. Educado por um professor particular, veio a ser grande conhecedor da literatura clássica e um pensador e escritor de grande capacidade crítica e analítica. Ao mesmo tempo, firmou-se ainda mais em seu ceticismo.
Nos anos seguintes, vários fatores o levaram à fé em Deus. Em primeiro lugar, o terrível sofrimento mental de um veterano de guerra que ficou hospedado por algumas semanas em sua casa e acabou morrendo de um ataque cardíaco. Lewis observou em uma carta: “... é um mundo miserável – e nós havíamos pensado que poderíamos ser felizes com livros e música!” Um segundo instrumento da sua conversão foi a leitura de autores cristãos como George MacDonald (Phantastes) e G.K. Chesterton (The Everlasting Man), que levantaram sérias indagações quanto ao seu materialismo. Finalmente, ele foi ajudado e desafiado por vários amigos cristãos, entre eles o escritor J.R.R. Tolkien. Em 1929, Lewis reconheceu que “Deus era Deus, ajoelhou-se e orou”. Dois anos depois, finalmente admitiu que Jesus Cristo é o Filho de Deus e se tornou um membro comungante da Igreja da Inglaterra. Nessa época era professor do Magdalen College, na Universidade de Oxford; mais tarde haveria de lecionar também em Cambridge.
Durante 30 anos, Lewis tornou-se um “evangelista literário”, comunicando a sua fé através de um grande número de livros para adultos e crianças, voltados para a apologética e o discipulado cristão. Escreveu, entre outros, O Retorno do Peregrino, Longe do Planeta Silencioso, Perelandra, As Crônicas de Nárnia, O Problema do Sofrimento, Cartas do Diabo a seu Aprendiz, O Grande Abismo, Cristianismo Puro e Simples, Até que Tenhamos Rostos (considerado por ele a sua melhor obra de ficção) e um livro autobiográfico, Surpreendido pela Alegria. Em 1956, Lewis casou-se com uma antiga admiradora, Joy Davidson, que morreu de câncer em 1960, três anos antes da morte do próprio Lewis.
Conclusão
Muitos ateus e agnósticos militantes procuram desqualificar relatos de conversão ao cristianismo semelhantes a estes. Eles geralmente argumentam que os indivíduos convertidos não eram ateus de fato, nunca abraçaram uma posição de incredulidade de modo consciente e racional. Insistem que a experiência religiosa carece de autenticidade, sendo sempre condicionada por experiências negativas, sofrimento ou medo da morte, entre outras causas. Todavia, deliberadamente esquecem que o materialismo também pode ser, e com freqüência é, condicionado por fatores externos com influências familiares, intelectuais e culturais. Do ponto de vista bíblico, o ceticismo é uma das mais dolorosas manifestações da rebeldia e ingratidão humana contra Deus (Sl 14.1-3; Rm 1.18-21), reprimindo e sufocando o senso do transcendente que existe no íntimo de cada um. As narrativas acima mostram que há esperança para os que não querem ou acham que não podem crer.
Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidadede Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. Fonte: site da Editora Ultimato.
domingo, 3 de junho de 2007
Ateísmo e Fé
Os autores da “brilhante” idéia criaram um site com a lista dos maiores ateus da história, “para encorajar outros a assumir seu ceticismo, sua noção não-religiosa da realidade, sua dúvida em relação a entidades imateriais”, acrescenta o ateu nativo.
Outro americano, um biólogo, também gestor de um site, que logo aderiu ao movimento, anotou que “nós, os brilhantes, não acreditamos em fantasmas ou elfos ou no coelhinho da Páscoa – nem em Deus”.
Não há como deixar de sorrir ao ler a proposta, pela franqueza quase ingênua com que essas mentes “brilhantes” desvendaram em público as mais recônditas razões de seu ateísmo, que se entremostram sob a convencional ostentação vaidosa, baseada na pseudofundamentação científica de sua crença.
O ateísmo rejeita a natureza espiritual do homem, embora a sua mera existência e condição de ser racional clamem em favor dela. O ateísmo é, portanto, uma revolta contra a natureza. Daí a aversão que a própria palavra suscita - como bem observaram os proponentes da idéia - no comum das pessoas. Daí também a inutilidade de mudar-lhe o nome – “a rosa, com outro nome, teria o mesmo cheiro”, diz a Julieta de Shakespeare – pois certas coisas têm odor inconfundível com qualquer nome.
Não deixa de ser curiosa a solução proposta. Assim como a alegria genuína só pode florescer na conformidade com a própria natureza - e por isso mesmo os santos são com justeza chamados “Beatos” (felizes), pois realizaram a plenitude de sua individualidade num desabrochar espiritual – também a razão humana só refulge plenamente ao reconhecer a própria contingência, e sujeitar-se à suprema inteligência do Criador do universo.
Analogamente, a palavra “brilhante”, em sentido figurado, sempre significou “ilustre”, “próspero”, “arrebatador”, e também “feliz”, aplicando-se em especial àquelas mentes privilegiadas, capazes, não só de um relâmpago de súbita compreensão, mas também de reduzir as outras pelo fulgor da inteligência. Ao contrário, é um paradoxo autodenominarem-se “brilhantes” indivíduos cuja mente opaca, porque centrada num auto-suficiente narcisismo, revela-se mais impenetrável à luz da verdadeira intelectualidade. Para esses mais calharia o epíteto de “tenebrosos”.
Ao inverso do que procuram fazer crer alguns ateus, o ateísmo nunca é conseqüência de madura reflexão, ou resultante inelutável do conhecimento científico ou filosófico; é freqüentemente uma escolha pré-racional de ordem metafísica, fruto de orgulho e rebeldia, uma manifestação da puberdade intelectual, como a acne o é da biológica.
Para afirmar o próprio ego, o adolescente busca rejeitar a autoridade; a constatação é de psicologia elementar. Não é raro, nesta fase, a rebeldia juvenil manifestar-se como ateísmo Só que com o tempo o jovem normal supera essa etapa, insere-se como indivíduo e como ser humano na ordem hierárquica da sociedade e do mundo. Amadurece e torna-se adulto, freqüentemente retornando à fé aprendida na infância, numa volta superior da espiral de crescimento intelectual, ou, se não a teve, buscando com sinceridade respostas às grandes questões metafísicas, o que pode levar à conversão.
Pode dar-se que o ateísmo juvenil perdure por inércia na idade adulta, por falta de reflexão ou desinteresse; assim também há indivíduos “religiosos” por inércia, a carregar uma “fé” puramente social e convencional. Ateus (e crentes) deste tipo são em geral tolerantes, e, se bem formados, respeitadores das crenças alheias.
Coisa bem diversa é ateísmo militante, cujos aderentes encaram a descrença como dogma, e a destruição da fé em Deus como um apostolado. Esses, em sua revolta anti-espiritual contra a autoridade divina, fixam-se na adolescência, e elegem o próprio ego como deus de si mesmos. A posteriori, buscando justificativas racionais para a escolha feita, encantam-se ainda mais com a própria inteligência, sobretudo se adquiriram um cabedal de informações científicas e filosóficas, ou lograram reconhecimento da seleta igrejinha do mundo acadêmico, cujo shibboleth consiste precisamente na profissão de fé materialista e atéia.
Todavia, ao contrário do que propalam, sua opção nada tem de racional, explicando-se melhor por um processo emocional.
Ilustração exemplar desse processo é fornecida, numa narrativa autobiográfica, pelo jornalista e escritor Paulo Francis, ex-guru de uma geração de esquerdistas brasileiros antes de renegar o marxismo, o que o transformou ipso facto na besta-fera do seu antigo cortejo de aduladores
Francis, que infelizmente recalcitrou no ateísmo até sua morte repentina, assim descreve o episódio de sua “conversão”:
“Foi no estribo de um bonde, ... que, finalmente, cheguei à conclusão de que God não existia. Eu vinha discutindo comigo mesmo há (sic) meses, a polêmica mais difícil que já tive na minha vida, e, de repente, as peças do quebra-cabeça entraram todas no lugar. Uma sensação maravilhosa, uma prize (sic), o corpo todo se relaxou, o vento na cara ficou vivo, a mão no balaústre se fortaleceu (“Paulo Francis Nu e Cru”- Editora Codecri – Rio, 1976 – p. 89)”.
Como se vê, a opção ateísta nada tem de racional: onde se nota, no relato de um dos mais brilhantes e festejados intelectuais brasileiros do último quartel do século XX, qualquer indício de racionalidade? Onde o silogismo, onde a prova intelectual, onde o cabedal de informação científica que é alardeado pelos “brilhantes” como fundamento de seu ceticismo?
Ao contrário, a crer em Francis (e nada indica que o seu processo difira do de outros ateus, a não ser na sinceridade do relato), a opção pela descrença antes resulta de uma prise pré-intelectual que se aproxima curiosamente do que um zen-budista denominaria de “pequeno satori”. O processo vivenciado por ele guarda analogias com a técnica zen denominada koan: o praticante rumina continuamente durante longo tempo um paradoxo insolúvel (por exemplo: “como era meu rosto antes de nascer?”), até que a mente exausta rende-se e deixa ruir o arcabouço conceitual.
Isto permite que o indivíduo experimente uma súbita percepção da realidade sem a interferência dos processos mentais, cujo sintoma mais claro, no caso de Francis, foi a nitidez de suas sensações físicas: o vento no rosto, a força ao empunhar o balaústre. Ao mesmo tempo, “todas as peças do quebra-cabeças encaixaram-se em seus lugares”. Trata-se, obviamente, de uma experiência emocional, quase mágica, logo anti-racional.
A diferença é que o praticante zen interpreta essa experiência em termos da Weltanschhaung budista: “não há eu nem outro, apenas a natureza de Buda”, e a isto denomina satori, ou iluminação. Francis, sem essa referência, interpretou-a em termos de uma “conclusão” pela inexistência de Deus, quando o que se esfumara fora apenas a “idéia” de Deus por ele formulada: na verdade um ídolo modelado pela mente do próprio sujeito. Trata-se aqui, mais uma vez, do clássico erro do pensamento moderno, de tomar o “conhecer” pelo “ser”, a confusão entre gnosiologia e ontologia: “o que existe em minha mente é real; o que não existe em minha mente não é real”. Eis aí toda a tragédia do nosso tempo.
Por conseguinte, embora ostentados como de rigor pelos ateus falantes, tais como os auto-intitulados “brilhantes”, o descortino intelectual e o conhecimento científico nada têm a ver com o ateísmo. Muitos dos ateus mais empedernidos ostentam uma ignorância impenetrável sobre tudo o que não se relacione aos seus próprios conceitos, que a seu ver constituem nada menos que a enciclopédia do conhecimento.
Acreditando compor uma seleta elite, esses ateus, ao fazerem da própria descrença um dogma e da “ciência” uma seita, olham de cima para os que crêem em Deus, considerando-os como pessoas de mentes infantis, incapazes de escalar as alturas de sua própria compreensão. Isso os infla ainda mais de auto-importância e satisfação consigo mesmos.
Essa visão tem a vantagem suplementar de permitir a criação de uma moral “ad hoc”, da qual tudo que é penoso pode ser excluído. “Se não há Deus, tudo é permitido”, clama uma personagem de Dostoievsky”, creio que o Raskolnikov de ”Crime e Castigo”. Sendo assim, cada um pode gozar a vida como lhe parecer. Isso e mais o louvor dos doutos: que mais pode um ego desejar?
Como a inexistência de Deus carece de prova filosófica – ao contrário de sua existência, demonstrada racionalmente desde Aristóteles (vide artigo a tal propósito neste site) – o ateu inseguro, mas presunçoso, precisa reforçar a própria descrença (ou antes, crendice) pela corroboração de outros egos e o aplauso público.
Daí a necessidade de criar um site com o rol dos ateus famosos, em cuja seleta companhia o ateu medíocre complacentemente se coloca, “brilhante” entre seus iguais, mas olimpicamente acima da humanidade ordinária. Apenas, infelizmente, não se podem incluir naquele rol Aristóteles, fundador da ciência ocidental; nem Descartes, pai do racionalismo moderno; nem Galileu, ícone predileto do martiriológio anti-católico, mas ele próprio auto-proclamado católico; nem Einstein; et caeteri , apenas para citar alguns dos reconhecidos pelo establishment acadêmico.
Daí também a arrogância ridícula de lançar no mesmo balaio a crença em Deus e no coelhinho da Páscoa, como fez o tal biólogo ianque, para desqualificar intelectualmente, de maneira bem pouco científica e nada ética, aqueles que professam ponto de vista diverso do dele próprio. A crença em elfos e fantasmas calha melhor ao ateísmo que ao teísmo, pois, como disse Chesterton, o problema do cético não é não crer em nada, mas sim crer em tudo.
Os falsos “brilhantes” crêem, sim, em elfos, fantasmas e no coelhinho da Páscoa, desde que convenientemente apresentados em jargão acadêmico, bem disfarçados com a capa do racionalismo – essa fé irracional na razão – e devidamente chancelados com o aval da “comunidade científica”.
Embora invocando Dawkins, autor de “O Relojoeiro Cego” (ou seria “O Biologista Cego”?), que afirma que a natureza tem design, mas não designer, o subscritor do artigo admite que “afinal, a ciência não pode responder a perguntas como ‘O que existia antes do que existe?’”.
Trata-se de um rasgo de honestidade intelectual que obrigaria qualquer ateu, que não cegado pela paixão dogmática, a conceder à crença em Deus pelo menos o benefício da dúvida.
Não é essa a conduta de Dawkins, que no livro citado busca precisamente comprovar “cientificamente” a inexistência do “Designer” da natureza. É uma tentativa canhestra. Numa de suas linhas de argumentação vale-se de um programa de computador, apto a formar uma sentença de Shakespeare a partir da combinação “casual” das letras do alfabeto.
Esqueceu-se o ilustre sábio de que, sem um experimentador inteligente, capaz de conceber o computador e o programa, e determinado a alcançar um objetivo preciso (a “demonstração” em causa), não haveria experimento possível. Isto para não mencionar a necessária preexistência do idioma inglês e da obra do dramaturgo de Stratford, presumivelmente, também, produtos da inteligência e da intenção.
Para efetivamente comprovar a possibilidade de produzir-se um “design” sem “designer”, o sagaz cientista deveria realizar um experimento sem experimentador, pois este, forçosamente, assume a função de Criador do seu micro-sistema, demonstrando assim o oposto do que pretendia.
Mas não se trata de uma exceção, pois muitos ateus e materialistas abusam da equivocidade do termo “ciência” para eximir-se de comprovar a razoabilidade da própria crença.
Cumpre distinguir entre ciência como método de conhecimento experimental do mundo fenomênico, apto a produzir conclusões verdadeiras no estreito âmbito de sua competência, mas que obviamente não pode mesmo responder às grandes indagações metafísicas, e “ciência” como seita, pseudo-religião, ou anti-religião, e como tal congregação de aderentes a um conjunto de proposições filosóficas hipotéticas, mas tidas como apodícticas, porque pretensamente demonstradas pela “ciência” na primeira acepção.
Essa distinção é propositalmente escamoteada pelos ideólogos do ateísmo, que deslealmente apresentam teorias e hipóteses incomprovadas e incomprováveis como verdades científicas cabalmente demonstradas, no afã de demolir a fé em Deus e ridicularizar aqueles que nele crêem. Não por acaso, em recente entrevista, aquele mesmo ideólogo materialista declarou seu “desprezo” por quem crê num Deus criador. Tal comportamento sectário aproxima-o dos mais estreitos fanáticos de falsas crenças religiosas - “et pour cause”.
O “ateu de passeata” é o análogo complementar do falso crente: acredita piamente em si mesmo e na própria incredulidade, como aquele na própria “idéia” de Deus. Ambos são, no fundo, adoradores de si mesmos.
Ao revés, o homem que crê em Deus e professa a Revelação contida na doutrina católica, embora também sujeito, em razão do pecado original, à tirania do egoísmo, aceita a priori a própria contingência: sabe-se finito, mortal e sujeito a leis – naturais e morais - que não criou nem pode alterar. Essa humildade embrionária é o solo no qual pode germinar, pela graça da Fé, a virtude da Fé.
Fé não é crendice, nem ausência de dúvida, inerente à própria condição humana, tal como se apresenta após a queda. Fé é, ao mesmo tempo, graça e virtude.
A Fé enquanto graça é um Dom gratuito de Deus: não pode crer senão aquele a quem Deus concedeu esse favor, sendo a predisposição necessária para tanto a constatação da própria insignificância, aquela humildade embrionária acima referida, e a aceitação do magistério da Igreja. A graça, uma vez aceita e não impedida, torna-se habitual no “estado de graça”, cultivado pela observância dos Mandamentos e a freqüência aos Sacramentos. Age eficazmente na alma, suscitando a virtude teologal do mesmo nome, coirmã da Esperança e da Caridade.
Fé enquanto virtude é algo que pode crescer, como um “organismo espiritual”, em sinergia com outras virtudes, pela prática da oração e sempre sob o influxo da graça, até o desabrochar de uma plenitude de certeza, que já é contemplação. O fim da contemplação é o amor de Deus, a Caridade, a última das virtudes, a consumar-se na visão Beatífica, e o primeiro e maior dos mandamentos:
“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças” (Mc 12, 28).
Consulta:
Victor Peregrino - "Ateísmo e Fé" MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=religiao&artigo=brilhantes_ateus&lang=bra
quarta-feira, 30 de maio de 2007
A loucura do ateísmo
Os ateus existem. Mas será que existe uma base para suas afirmações? Será que é realmente plausível ficar afirmando que “Deus não existe” ?
Para que uma pessoa possa, com convicção, dizer que não há Deus, ela precisa ter um conhecimento absoluto de tudo. De outro modo, como ela poderia afirmar isso? Essa pessoa precisa saber de todas as coisas, ser onisciente. No entanto, toda pessoa equilibrada mentalmente é capaz de reconhecer suas limitações, e obviamente, reconhecer que não é onisciente.
O ateu também precisaria ter visitado todo o universo para afirmar definitivamente que Deus não existe. De outro modo, como poderia afirmar isso? Além disso, é preciso que o ateu esteja em todos os lugares ao mesmo tempo. Observe: Deus poderia estar em um lugar, e quando o ateu o procurasse, Deus poderia ter se retirado para outro lugar.
Evidentemente é mais prudente, razoável e sensato para o incrédulo, simplesmente dizer: “Não sei se Deus existe ou não”. E de fato foi esta a posição de um dos meus professores. Mesmo sendo conhecido em toda a universidade como um fervoroso ateu, quando debati com ele sobre Deus, ele simplesmente me disse: “Não sei quem é Deus! Não conheço Deus!”, ao invés de afirmar categoricamente: “Deus não existe!”.
Ou a pessoa sabe que não há Deus, ou não deve dizer o que não sabe.
Portanto, não se justifica a afirmação de que Deus não existe. Isso é inadmissível. Para se afirmar isso com absoluta certeza e segurança, seria preciso que o ateu fosse onisciente e onipresente! Por outras palavras, teria de ser Deus!
Por isso a Bíblia considera o ateu como louco. “Diz o louco em seu coração: Não há Deus” (Salmo 14:1).
Nunca houve um verdadeiro ateu, alguém que seja sinceramente ateu na maior profundidade do seu ser. O que existe são pessoas críticas do sistema religioso de sua época. O que existe são homens orgulhosos, com lábios cheios de ironia, arrogância por seus conhecimentos e prepotência por seu status na sociedade. Muitos não reconhecem suas limitações e consideram uma demonstração de fraqueza crer em um Deus.
Mas Paulo afirma na carta que escreveu aos cristãos de Roma, que a declaração “Não há Deus” é um suicídio intelectual e moral. Além disso, ele também afirma que o mundo dá farto testemunho da existência de Deus:
“Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal” (Romanos 1:20-22).
A verdadeira loucura é não crer em Deus. O ateísmo não se sustenta pelo pensamento cuidadoso. Pensar nele leva a refutá-lo.
Do outro lado, a mensagem cristã é a mais plausível e sensata de todas as mensagens. Nenhuma outra filosofia, crença ou qualquer outra pregação, é capaz de preencher o intelecto como o cristianismo. E muito mais do que isso: Os cristãos não apenas pensam e falam sobre Deus, experimentam e vivenciam sua presença e seu poder!
Abra sua mente. Abandone os pré-conceitos infundados. Não tenha uma mentalidade estreita e mesquinha. Deixe de ser esnobe quer intelectual, social ou moralmente. Busque a Deus com sinceridade e humildade, e você o encontrará!
“Que te conheçam, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. (João 17:3).
Fonte: http://xequemategelado.blogspot.com/2005_12_01_archive.html de Davi Lago
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Diálogo com um ateu
Acercando-me do homem – provavelmente um turista de recursos, e uma pessoa excêntrica, por estar ali completamente só –, comentei, para iniciar uma conversa:
— As caravelas portuguesas disparavam salvas, quando passavam à vista deste cabo, para saudar a Nossa Senhora de Nazaré, que tem sua imagem na ermida junto ao farol...
Ele, que já me fitava, respondeu com vagar:
— Gastavam pólvora assim? Pobre gente! – disse. – Tipos supersticiosos, aqueles nossos avós. Corajosos no mar e ao mesmo tempo medrosos do destino; hoje somos escravos de crenças ridículas transmitidas por esses nossos ancestrais incultos.
— Não tem religião? – perguntei-lhe.
— Sou ateu, respondeu ele. – Mas não sou esse ateu comum, que nega sem pensar e sem refletir. Eu refleti muito para chegar à convicção de que Deus não existe.
— Sou católico – disse eu. — Ah!... Humm... A maioria é... – murmurou o ateu, observando-me enquanto eu me acomodava sobre a muralha, onde também coloquei minha mochila. Lá em baixo, as ondas avançavam com violência e estrondo sobre as rochas do penhasco, para recuar mansamente espalhando sua espuma branca entre labirintos de pedras negras. O céu ganhava tintas alaranjadas, reflexos do sol que se punha do lado oposto, oculto pela mata luxuriante. Tanto poder e beleza, não seria uma prova de que Deus de fato existe?
Era a primeira vez que eu falava com um ateu convicto. Encarei-o com um sorriso – para evitar qualquer suspeita de antagonismo da minha parte – e indaguei que razão tinha para não crer. Sua fisionomia permaneceu calma e amistosa, enquanto respondia:
― Acompanhe o meu raciocínio – pediu ele. – Se Deus existe, não poderia existir sem ter criado este mundo que conhecemos. E neste mundo predomina o mal, ele está cheio do mal. Portanto ou – primeiro –, Deus criou o mundo e também o mal que nele vemos, e então não é um deus perfeito; ou, – segundo –, criou o mundo e não tem poder bastante para afastar o mal, logo não é infinitamente poderoso; ou – terceiro –, colocou propositadamente o mal no mundo para nos afligir e, nesse caso, não é sumamente bom e misericordioso.
Ensaiei interrompê-lo para protestar, mas ele se me antecipou:
― Não me diga, como o seu filósofo Agostinho, que o mal não tem existência própria, e apenas significa a ausência do bem. Não concordo. Ele mesmo considerava como mal alguém agir contra as Tábuas da Lei. Portanto, o mal existe e pode ser praticado. Ora, se Deus criou o bem e o mal para ver qual dos dois vence na alma de uma pobre criatura, isto ainda é pior.
― Você falou de alma... Acredita que o homem seja corpo e espírito?
― Não acredito em almas, retrucou. – Apenas citava o seu filósofo. E posso dizer que, se existem almas e Deus perde uma delas, esta perda é um mal que atinge a Deus, e ser atingido pelo mal não vai bem com a idéia de perfeição e infinito poder. O que me diz?
― Posso facilmente responder-lhe, por partes, porque são duas as conseqüências de haver Deus dado ao homem a vontade livre. A alma somente é perdida quando exerce sua vontade para pecar. Seria uma contradição se Deus a impedisse de pecar, pois teria criado uma falsa vontade livre, e um falso livre arbítrio. Portanto, não é uma imperfeição de Deus que Ele perca uma alma.
― Mas, e o sofrimento? Um mundo que, como lembrou Voltaire, sofre tragédias como a de um grande terremoto, com perda de milhares de vidas, não é um mundo impregnado do mal?
― Ora! Você sabe que ele criticava o relativismo de Leibniz e de São Tomás, para os quais do mal podia resultar algum bem e neste caso o mal era bom. Mas eu vejo o mal por um ângulo muito diverso: ele em hipótese alguma é bom ou pode ser tolerado. Deixa-me dizer por quê: Deus criou as leis que regem o universo, as quais, seguidas à risca pela natureza, surpreendem os homens a todo instante e, quando as desconhecemos ou não podemos vencê-las, elas são a origem do sofrimento para nós. Porém, essas leis eram necessárias! Não seria possível a vontade livre se nada se movesse, se o mundo fosse rígido, imóvel; e também não seria possível exercê-la se, ao contrário, o mundo fosse completamente caótico.
Dito isto, pensei: se não existissem as leis naturais, os milagres também não aconteceriam!... – mas prossegui:
― Talvez o homem conhecesse perfeitamente essas leis naturais – esse conhecimento explicaria sua felicidade e sua pureza no Paraíso -, mas tenha perdido sua sabedoria devido a um primeiro pecado; não por praticar o mal, mas por orgulho...
― No paraíso?... – perguntou o ateu com polida ironia. Era evidente que a questão o interessava. Talvez não fosse um ateu tão convicto quanto acreditava ser.
― Sim – respondi-lhe –, e tem, na Terra, que lutar para redescobri-las, a fim de dominar a natureza, evitar o sofrimento, e reconquistar sua felicidade. Porém, quando descobre uma dessas leis, não a conhece completamente. Precisa procurar também os princípios dos quais ela deriva e chegar a princípios e leis anteriores, de modo que busca incessantemente as causas das causas. A ciência cada vez mais sente a necessidade de uma fórmula universal, um princípio que ela não possa desmontar e reduzir a outros princípios. Assim, a ciência, sem o saber, está procurando Deus, que é essa causa última.
― Aristóteles parece que foi o primeiro a falar de uma causa suficiente das coisas. Mas isto não é uma prova da existência de Deus – alegou o ateu. – Em todo efeito permanece alguma coisa do que foi a sua causa, e nas coisas do mundo não vemos nada que tenha pertencido a algo ou alguém senão ao mundo mesmo. Existem os princípios da física, os princípios da química, eles, sim, princípios perfeitos e eternos, leis imutáveis, indiferentes ao bem e ao mal.
― Não há nenhum vestígio de Deus no mundo por que Deus não se confunde nem é parte da coisa por Ele mesmo criada. Se você olha um quadro pintado a óleo, também não encontra nada do pintor, se ele não deixar seu nome escrito. Se você não quisesse acreditar na existência do pintor, você teria que supor que o pincel que deixou as marcas na tela seria a única razão do quadro existir. A ação do pincel estaria muito bem explicada pelos princípios da química e da física. Estes princípios lhe diriam, por exemplo, a força com que o pincel atingiu cada parte da tela. A disposição das linhas lhe permitiria descobrir as leis da estética aplicadas à pintura. Porém, a rigor, o quadro jamais lhe provaria a existência do pintor mais que as coisas do mundo provam que Deus existe.
O velho ergueu-se da ponta do canhão, bateu alguma poeira de sua bermuda branca e veio apoiar-se na muralha, fitando o mar. De perto, deu-me outra impressão. Talvez seu rosto não tivesse tantas rugas quanto seria de esperar devido à aparência alquebrada e gasta de sua figura. Já não lhe daria mais que uns cinqüenta e poucos anos de idade. Parecia disposto a continuar a me ouvir.
― Retornando à questão do bem e do mal, é quando cremos em Deus e na palavra revelada – continuei –, que podemos distinguir o que pode ser o verdadeiro bem e o verdadeiro mal para nós. Então se torna importante o problema da conduta moral. É incerto o que esperar de quem não tem Deus como referência moral!
― Não diga isso, por favor! protestou o ateu. – A filosofia pode nos fornecer regras para a boa conduta. Temos um dever natural que é usar nossa razão para fazermos somente o que for mais adequado, e fazê-lo segundo um raciocínio o mais amplo possível. Deus fica totalmente fora disto. Há, portanto, como ser um bom ateu desde criança – arrematou ele.
― Porém sem incluir Deus, o raciocínio não será cabalmente completo e abrangente, não será “o mais amplo possível” como você exige. Seria, como no exemplo que dei, raciocinar sobre um quadro sem levar em conta o seu autor. Afinal, quem fez o homem? Quem lhe deu consciência? Foram os princípios da física? Isto, sim! é impossível. E se você sabe que existe um Criador, você quer conhecê-Lo e ouvir Sua palavra.
Ambos falávamos sem nos exaltar – a serenidade em nosso diálogo permitia que fizessem parte do momento sensações várias que estimulavam nossa reflexão: a visão do mar azul, a brisa morna, o borrifo das ondas que vez por outra nos atingia sobre a muralha.
― Deixa-me devolver-lhe a pergunta – disse ele no mesmo tom bem humorado que mantivera em toda a conversa. – Você tem algum motivo que não aquele da “causa última das coisas” ou “porque fui educado na santa fé católica” e coisas do gênero, para acreditar em Deus?
Sua pergunta levou-me a sorrir.
― Sou um geólogo! – respondi. – O estudo da Terra leva qualquer um a refletir sobre um Criador. Imagina aqueles que estudam os astros!...
Foi só então que finalmente nos apresentamos, sem que ele dissesse muito a seu respeito. Apenas que era do Sul, estava num programa de turismo de grupo e que os companheiros haviam decidido ir até São José da Coroa Grande, e o apanhariam ali no retorno.
― Está hospedado na pensão? – perguntei-lhe. – Lá poderemos continuar a discutir o assunto, esperando pelo jantar. Talvez Dona Baixa nos ajude com alguma luz sobre a questão.
Descemos a senda do penhasco sem pressa, alcançamos o baixio que ia dar na praia norte e, pelo caminho entre os coqueiros, fomos nos acercando do aldeamento de pescadores, nos últimos momentos da luz da tarde. A pensão era um casebre um pouco mais amplo que os demais, numa posição privilegiada na longa fileira de choupanas, com um extenso coqueiral e a ampla praia bem à sua frente. Entre os coqueiros havia um pequeno coreto de paus roliços, com uma lanterna a gás pendurada no centro do teto de palha. No mar, as ondas rolavam sua longa faixa de espuma já sem brilho, em um vasto arco que atingia ao mesmo tempo as areias ao longo de toda a praia próxima e distante.
No trajeto havíamos conversado sobre os hábitos daquele povo simples e ao jantar, tendo o sulista se interessado pelo que lhe falei do meu trabalho, não retornamos ao assunto de nosso debate anterior.
À noite houve um ensaio de música para uma festa tradicional que estava próxima. Alguns músicos, sentados nos bancos toscos do coreto, tocaram pífaro e uma rabeca, e alguns pescadores cantaram versos ligeiros de muita rima, um canto meio gritado e aflito, até que as rodadas de cachaça reduziram o canto a conversas arrastadas e muito riso. Já havíamos nos recolhido aos nossos pequenos quartos quando as vozes cessaram e apenas o ronco das ondas vez por outra se fazia ouvir no silêncio da noite. No entanto, eram apenas 9 horas!
Na manhã seguinte, levantei-me cedo, e saí para fazer observações no penhasco e nas rochas vulcânicas circunvizinhas cobertas pela mata. Após um dia de trabalho, caminhando para oeste até onde principiava o canavial, e retornando pelo sul ao cair da tarde, foi com verdadeiro prazer que, depois de um mergulho no mar e um banho de caneco para retirar o sal, voltei a encontrar o ateu na pensão. Como eu, ele ia passar ainda uma noite no local.
Ao jantar, depois de trocarmos algumas palavras sobre o nosso dia, de prosearmos um pouco com Dona Baixa e saborearmos o seu pirão de peixe, voltamos ao assunto da véspera:
— Você ficou me devendo a resposta à minha pergunta – disse-me ele. – Além de uma conjectura sobre a “causa última”, ou do fato de ter sido educado católico, existe na verdade algo que o convença da existência de Deus? Nos distraímos com outros assuntos e você não chegou a expor suas razões.— Bem... Uma coisa que me impressiona muito são os milagres – respondi. – Eu os tomo como a principal, e talvez a única prova direta que se pode ter da existência de Deus, e também dos Santos, de Maria e de Cristo.
— Fale-me apenas de Deus – atalhou ele.
— Mas você certamente considera ridículo alguém acreditar em milagres...
— Oh, não! Não considero essa crença ridícula. Na verdade, porque a idéia da bondade infinita faz parte da idéia de perfeição, a um ser que fosse perfeito não poderia faltar o deixar-se provar concretamente. Se Deus existe como os judeus e os cristãos o idealizam, como um ser perfeito e misericordioso, negar Ele próprio a prova de sua existência haveria de contrariar Sua perfeição. Apenas não entendo porque os milagres seriam prova, uma vez que não passam de fatos mal interpretados, como está definitivamente demonstrado.
A conversa que iniciamos à hora do jantar, continuamos depois à beira da praia, sob a luz de intenso luar, sentados na borda de uma jangada deixada na areia ao pé dos coqueiros.
― Não seria possível provar Deus somente no campo físico, como se prova em laboratório a pressão dos gases, a dilatação dos metais. As provas da existência de Deus precisam ser buscadas onde a Sua natureza e a natureza do homem se tocam, ou seja, onde a espiritualidade e acontecimentos extraordinários ocorrem juntos. E também não seria possível essa prova, sem que fosse vontade Dele. E, para mim, os fatos que representam essa convergência das duas naturezas e das duas vontades são principalmente os milagres. Deus se deixa provar numa relação de sua vontade com a vontade humana, justamente quando concede o milagre. É uma relação íntima em que apenas o indivíduo que recebe o milagre tem absoluta certeza de que é um ato extraordinário em que Deus se manifestou, e somente para ele trata-se de uma resposta às suas súplicas e à sua fé.
Esperei por uma objeção que não veio. Meu companheiro, curvado e algo absorto, desenterrava uma pequena concha da areia. Vez por outra pequenos caranguejos emergiam de seus buracos e saíam a andar de lado; alguns se detinham para nos fitar.
Como o ateu nada dissesse, prossegui:
– Para me fazer mais claro, deixa-me dar um exemplo. Um colega meu, passando por um lugar ermo ao norte da serra da Bocaina, em Minas, soube de uma criança que fora mordida por uma cascavel. Tomou a criança dos braços da mãe e a levou em seu carro para um hospital distante algumas centenas de quilômetros, em tempo de salvar-lhe a vida. Ora, somente para a mãe da criança o acontecido foi um milagre em resposta às suas orações. Qualquer outra pessoa dirá que não foi nada de particular entre Deus e aquela mãe, e que foi apenas sorte.
― Então, Deus apenas manipula probabilidades?
― Não digo isso, mas, ainda que Ele intervenha e inverta a ordem natural, o milagre é sempre contestável, sempre é explicável como simples fenômeno físico, ou como um fenômeno psicológico ou simplesmente atribuível à sorte, a uma certa probabilidade estatística, como se nenhuma lei da natureza houvesse sido transgredida.
O ateu objetou:
– Mas o significado de Milagre é, sabidamente, o contrário do que você diz: de acordo com a palavra latina miraculum, é alguma coisa maravilhosa, que é evidente para todos.
― Perfeitamente! O indivíduo se maravilha e em grande emoção paga uma promessa difícil, quando ele ou a sua família recebem um milagre como clara resposta às suas preces.
― Mas teria que ser algo inquestionável, como um homem que não tivesse as duas pernas e de repente se apresentasse com elas! – impacientou-se o ateu. – Uma coisa assim jamais aconteceu... Que eu saiba!
― Veja! Se tal fato acontecesse, estaria claramente e perante todos violada a lei natural. Não sobraria para ninguém aquela margem de dúvida que, em minha opinião, caracteriza o milagre. O poder de Deus estaria claramente manifestado a todos, o que tornaria completamente dispensável uma fé previamente existente. Para acontecimentos assim, capazes de despertar a fé naqueles que não a têm, deveríamos reservar a expressão testemunho.
― O milagre – prossegui – resulta de uma súplica feita com fé, enquanto o testemunho é um ato espontâneo de Deus. O milagre é secreto; o testemunho, ao contrário, é público e precisa ser investigado. O milagre, mesmo quando pedido simultaneamente por muitos, é para cada pessoa um entendimento particular com Deus. O testemunho apenas raramente é dirigido a um só homem, como foi excepcionalmente no caso do apóstolo Tomé. Enquanto o milagre inunda de felicidade, o testemunho infunde respeito e temor.
― Fico surpreso! – disse o outro. – Os fatos que estão no chamado Novo Testamento, em que a natureza teria sido claramente contrariada, assim como Cristo caminhar sobre as águas ou elevar-se ao céu ou, no que é dito ser o Velho Testamento, a travessia do Mar Vermelho pelos judeus, são narrados como milagres.
― O filósofo David Hume faz uma crítica aos fatos bíblicos dessa natureza – respondi. – Mas lhe faz falta essa distinção que eu faço, entre milagres e testemunhos. Apesar de que ele se refere indistintamente às duas coisas, seu texto é dirigido mais ao “testemunho”, e neste caso está também São Tomás, de quem se pode ver que Hume tomou parte da sua definição de milagre.
― Entendo seu ponto de vista – disse o ateu. – Resumindo: não se prova a existência de Deus com a evidência própria do método científico, porém está ao alcance do homem encontrar essa prova de modo particular, nos milagres...
— E como todo aquele que procura tal prova com certeza a encontrará, ela tem a universalidade necessária a toda demonstração científica – completei sem vacilar.
A lua cheia trouxera a maré alta; franjas de espuma arrojavam-se aos nossos pés. A aldeia estava adormecida; já passava muito das nove horas!
Ergui-me, mas o ateu permaneceu sentado. Olhava o mar que se avolumava mais a cada onda, como se estivesse hipnotizado pela massa negra que agitava tentáculos para nos alcançar.
Surpreendeu-me o tom amargo de suas palavras quando disse, a voz embargada pela emoção:
― Sabe?... Eu e minha esposa nos separamos, por culpa minha! meus filhos não me perdoam. Viajo a fim de esquecer a coisa toda.
Ao ouvi-lo percebi, consternado e surpreso, que ele realmente sofria. Já o considerava um amigo. Diante do seu abatimento, esvaiu-se de súbito o meu entusiasmo pelas minhas teses.
Porém, forçado a ser coerente com tudo que havia dito, ainda lhe disse, hesitante: – Confie em Deus!
Ele baixou a cabeça e nada disse, talvez resignado a fazer uma concessão absurda.
Retornamos à pensão, passando pelos casebres brancos, fechados e silenciosos. A noite havia esfriado. A maré trouxera um vento frio; o farfalhar das palmas do coqueiral agora era mais forte e opressivo, e no céu a lua começava a ser oculta por farrapos de nuvens escuras que se moviam ligeiro para o continente.
*
Passado não muito tempo, tive notícias do meu amigo. Sobre a mesa em meu escritório, no Recife, estava um envelope com carimbo do Sul. Continha uma fotografia em que, bastante rejuvenescido, ele tinha um braço sobre os ombros de uma mulher, olhando-a com ternura, os dois ladeados por um casal de jovens, todos sorridentes.
No verso havia apenas uma frase: “Caro geólogo, anote este milagre!”
Por Rubem Queiroz Cobra
Como o crente convenceu o ateu
Roy Abraham Varghese, fundador do Institute for Metascientific Research, uma vez disse: "O mundo moderno mal conhece a sensação de maravilha. Algum monstrinho roubou a mágica que nos fazia maravilhar e transformou o paraíso que chamamos de mundo em uma selva desolada.
"Esse "monstrinho" responsável por roubar a emoção de maravilhar-se, segundo Varghese, é um bando de intelectuais aprisionados em abstrações vazias e ideologias irracionais. Eles são cegos para a glória e o mistério do mundo. Não conseguem ver a floresta do universo e atentam apenas para as árvores da teoria científica, esperimentação e descoberta.
"A bactéria mais ínfima é um milagre absolutamente inacreditável. Como pode isso acontecer num universo de matéria uniforme?"
Estranhamente, tudo que está diante de nossos olhos e o que está além deles segue leis exatas e possui atributos que podem ser expressos em números e equações. Essa qualidade pressupõe um pensamento profundo e esse pensamento pressupõe uma mente infinita. O universo é abundante de inteligência em todos os níveis e essa inteligência se expressa nas leis da natureza, que foram implantadas no universo por uma inteligência infininta.
Varghese baseia seu argumento na racionalidade do universo físico, na consciência, nos pensamentos conceituais, na auto-consciência e na existência da matéria e da vida. Essas coisas todas são evidências irrefutáveis da existência de Deus.
Elas não podem emergir de um universo de matéria indistinta onde não há inteligência. Essas coisas não podem emergir exclusivamente de mecanismos passivos de seleção natural evolucionária e mutação genética aleatória. Como surgiu a consciência? Como se pode falar que a consciência foi produzida por algo que não possui a propriedade de consciência?
O mundo está cheio de agentes autônomos, seres que percebem seu ambiente e atuam nele ao longo do tempo na busca de seus próprios objetivos.
"Todos esses caras que falam das origens da vida não têm idéia do que significa vida. Não há uma coisa abstrata chamada vida. O que existe são seres vivos. Seres vivos são agentes autônomos que atuam numa infraestrutura de inteligência."
O fundamento do ato de se maravilhar, segundo Varghese, é o que ele apelida de "matriz", uma espécie de teoria de tudo baseada em quatro grandes pensadores religiosos: Maimônides (Judaísmo), Tomás de Aquino (Cristianismo), Avicena (Islã) e Shri Madhvacharya (Hiduísmo).
Essa matriz é a engrenagem de lógica que é a base do método científico: o mundo existe; o universo é inteligível e racional porque foi criado pela inteligência suprema; os seres humanos podem descobrir e conhecer verdades sobre o mundo porque os humanos têm mentes distintas da matéria e funcionam racionalmente e distinguem os significados.
Varghese argumenta que a ciência não prosseguiria sem a fé em premissas científicamente improváveis. As premissas são as de que o universo é lógico, racional e governado por um conjunto consistente de leis físicas. Essas premissas são válidas e por isso nós podemos explorar e compreender o que é observado.
Se o universo no fundo fosse irracional, resultado do acaso sem propósito e sem inteligibilidade, se fosse meramente uma construção aleatória de átomos e campos de força, então nós não poderíamos estar seguros de nossos julgamentos a respeito desse universo. O ateísmo é contraditório por negar a racionalidade do universo e ao mesmo tempo se apegar à racionalidade e à consistência lógica na superfície das coisas.
É notável a tendência de todos os cientistas, mesmo os ateus, em atribuir todas as características que seriam de Deus à natureza. Eles normalmente atribuem vontade, inteligência, criatividade, propósito, poder e até senso de humor ao que é, em sua teoria, uma coisa acidental, impessoal, aleatória e, portanto, sem significado. Parece que eles não conseguem evitar trair suas próprias palavras e esconder o seu maravilhar-se, seu temor e seu respeito pela "natureza".
Segundo Varghese, o fundamento da matriz é a equação de Deus: Deus deve existir e não pode inexistir.
Em outras palavras, se determinada coisa existe, então algo deve ter sempre existido para ter dado origem à coisa. Essa essência primária não pode possuir nenhuma limitação porque então seria necessária uma fonte que transcendesse tal limitação, e assim por diante, indefinidamente, até chegar à Deus.
"Foi um triunfo do pensamento humano chegar à essa conclusão. Por que buscaríamos descobrir leis quando se diz que as leis são impossíveis?"
Essa matriz foi o útero da ciência, o começo das premissas básicas no coração da lógica e investigação científicas. A matéria não é capaz de gerar conceitos, padrões ou constantes matemáticas. Campos de força não planejam, não pensam e nem calculam, mas algo ou alguém o faz.
Desde que Varghese convenceu o proeminente ateu Anthony Flew, a pregação ateísta virou uma febre. Nos últimos meses, vários livros de autores que atacam a crença religiosa têm surgido e ocupado as listas de mais vendidos, incluindo Richard Dawkins, Sam Harris e Daniel Dennett.
O movimento do Novo Ateísmo não apenas condena a crença em Deus, mas também prega que não se deve respeitar quem acredite e profetiza o fim da civilização se a fé religiosa não for extinta.
Segundo o filósofo e físico ateu Victor Stenger, essa erupção súbita de ataques ferozes contra os crentes em Deus é uma reação contra a "direita religiosa" que estaria tentando converter os Estados Unidos em uma teocracia. Sua queixa específica seria sobre as reinvindicações sociais e políticas dos conservadores: proibir o aborto e a distribuição de preservativos, reverter a sanção estatal das relações homossexuais e a educação sexual nas escolas, promover padrões de decência e a tolerância aos símbolos e textos cristãos no âmbito público.
Isso tudo significa apenas uma volta ao status da sociedade dos anos 50 - longe de ser uma teocracia.
Outros cientistas acreditam que o atual surto de ateísmo ranzinza pode ter sido a decepção dos evolucionistas ao se deparar com as descobertas das últimas décadas. Por exemplo, os registros fósseis agora sugerem que as bactérias e as algas apareceram quase imediatamente depois que o planeta se resfriou e a água apareceu em estado líquido há uns 3,5 bilhões de anos atrás.
Antigamente, os cientistas pensavam que seriam necessários bilhões de anos de dinamismo evolucionário para que os aminoácidos se formassem e se combinassem ao acaso para formar as primeiras formas de vida no chamado caldo primordial.
"O caldo já era e eles estão tão longe de encontrar a origem da vida como nunca estiveram."
Também há o espetáculo bizarro da "Explosão Cambriana", uma era geológica há 500-550 milhões de anos atrás, na qual praticamente todas as formas de vida e todas as estruturas que existem hoje - intestinos, juntas, guelras, olhos - emergiram totalmente formados a partir de formas de vida simples e unicelulares sem nenhum antecessor evolucionário aparente.
Essa explosão a partir da simplicidade unicelular para a complexidade multicelular ocorreu em um momento geológico de 5 a 10 milhões de anos. Antes das descobertas Cambrianas, os cientistas acreditavam que mais de 100 milhões de anos de incrementalismo evolucionário seria exigido para que as estruturas corporais básicas das formas de vida mais avançadas fossem desenvolvidas à partir de formas de vida simples, que perambularam no planeta durante 3 bilhões de anos antes dessa explosão biológica.
O professor de física-matemática Frank Tipler, autor de "The Physics of Christianity", pensa que as descobertas recentes no campo da física perturbaram profundamente os cientistas que uma vez acreditaram em um universo material eterno.
Em 1929, o astrônomo Edwin Hubble postulou que o universo estava se expandindo. Suas descobertas deram o primeiro ponto de apoio empírico à cosmologia do Big Bang porque indicavam que o universo tinha um início finito no tempo - uma singularidade, uma causa supostamente não-causada. Os cientistas ateus não gostam da idéia de que o universo começou com uma causa primária não causada.
A cosmologia do Big Bang foi uma das descobertas que balançaram o ateísmo estridente de Antony Flew. "Se não houvesse motivo para pensar que o universo tem um começo, então não haveria necessidade de postular que algo criou a coisa toda", disse ele no documentário de Varghese "Has Science Discovered God?""Quanto mais entendemos a complexidade da vida e de como improvável é que tudo tenha acontecido ao acaso, mais fortes terão de ser os argumentos a favor de um mundo não-teleológico, um mundo sem presença metafísica", diz o físico Gerald Schroeder, autor de "The Science of God" e "The Hidden Face of God", explicando a atual polarização dos ateus contra os crentes.
É essa negação da presença metafísica no universo que Varghese busca desmanchar. Essa metafísica e sua inteligência profunda pode ser encontrada em todo lugar, nas leis físicas que governam as partículas, campos e energia. Einstein uma vez comentou que a coisa mais incompreensível acerca do universo é que ele é compreensível.
Varghese insiste que essa compreensibilidade tem uma fonte distinta: "Há uma fonte infinita de racionalidade. Há uma mente infinita por trás de tudo. Isso é algo que você não conseguirá negar sem tropeçar em uma incoerência.
"Em maio de 2004, Gerald Schroeder e Roy Varghese organizaram um congresso com os maiores pensadores de renome. Lá, o filósofo inglês Antony Flew, que havia patrocinado o ateísmo desde 1950 com seu tratado "Teologia e Falsificação", anunciou que ele renunciara o ateísmo e passou a aceitar a existência de Deus graças aos argumentos de Varghese e Schroeder.
Uma tempestade acadêmica explodiu e os ateus se sentiram traídos, chegando até a acusar Flew de senilidade.
Tal neurose seria ativada por um abandono paterno, como o caso de Friedrich Nietzsche, que clamava "Deus está morto". Ele perdeu o pai com 4 anos de idade. Sigmund Freud, ateu inveterado, não respeitava seu pai por ser fraco. O pai do filósofo inglês Thomas Hobbes abandonou seus 3 filhos quando Hobbes era um adolescente.
Vitz sugere que o ateísmo é uma ilusão neurótica que aparece em tais circunstâncias.
O escritor e proponente da teoria de Projeto Inteligente, George Gilder, afirma que os cientistas confundem as informações e a estrutura das moléculas de DNA, implicando que a vida é meramente bioquímica em vez do processamento de informações que ela consiste. O programa do DNA é discreto e digital, e sua informação é transferida em receptores químicos mas não é especificado por forças químicas", diz ele.
Matéria e energia são meramente veículos de todas as informações no universo conhecido. Varghese concorda, "A informação precede sua manifestação na matéria. A próxima grande descoberta é reconhecer que o fundamento de tudo isso é a inteligência. Em todas as fases de descoberta está o grande discernimento da ciência moderna: Tudo é inteligência."
Essa inteligência é claramente visível no fenômeno de dobra de proteínas, o processo pelo qual as proteínas se auto-constróem a partir de sequências diferentes de 20 moléculas-padrão de aminoácidos. De forma precisa, essas proteínas assumem papéis na estrutura e funções dos tecidos e são construídas à uma velocidade de cerca de 2 mil proteínas por segundo em cada célula do organismo (exceto células do sangue e de reprodução) a partir de milhares desses ácidos.
O processo é tão complexo que, segundo artigo da revista Scientific American, um supercomputador programado com as regras precisas de dobra de proteínas levaria bilhões de anos para gerar uma proteína dobrada a partir de 100 aminoácidos. As leis químicas podem explicar os componentes de açúcar, base e fosfato do DNA mas não explicam seu conteúdo rico em informação.
O princípio antrópico, a idéia de que o universo foi precisamente ajustado desde o início para o surgimento da vida, é outro argumento de Varghese. Essa "sintonia fina" é expressa em um conjunto de leis físicas e constantes matemáticas. Se um único desses parâmetros variasse à uma fração ínfima, o universo existente jamais existiria e a vida não seria possível.
A reprodução é o mecanismo que rege todo o processo evolucionário. "Como é que o primeiro ser vivente teve o poder de replicação? Como é que a vida surgiu com essa capacidade fundamentalmente proposital pré-instalada?" O materialismo evolucionário fica aí encurralado contra a parede. Darwin mesmo admitiu que sua teoria dependia da existência de um ser inexplicável que já possuísse os poderes de reprodução, ser esse no qual a vida surgiu.
Antony Flew, disse que descartou seu ateísmo devido às descobertas recentes sobre o DNA e a improbabilidade de uma explicação naturalista para sua enorme complexibilidade; à evidência do Big Bang que assume que o universo teve um começo; e a falta de teorias plausíveis que expliquem as primeiras formas de vida auto-replicantes. À respeito da reprodução, ele diz "Eu não sei de ninguém que tenha oferecido teoria alguma. É praticamente um problema sem solução."
Varghese e Flew estão trabalhando no livro "There is a God", que vai articular o pensamento de Flew e as evidências e raciocínios que levaram Flew a abandonar o ateísmo. A previsão de publicação do livro é para novembro de 2007.
Além desse, Varghese está trabalhando em outros livros - um explora o assunto de vida após a morte, outro crítica os vários erros de Richard Dawkins e discute evolução e outro é à respeito de "10 verdades que impedem você de ficar louco".
Trechos do documentário "Has Science Discovered God?"
Does God Exist? - The Message of Modern ScienceBeyond Intelligent Design - the Scientific Case for a CreatorBlog do Institute for Metascientific Research