quinta-feira, 31 de maio de 2007

João Calvino


João Calvino (Jean Calvin) foi um teólogo e reformador cristão francês. A partir de Calvino desenvolveu-se o calvinismo, uma forma de protestantismo durante a Reforma Protestante. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os Afrikaners), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos da América.


Calvino foi inicialmente um humanista, e jamais foi ordenado sacerdote católico. Depois do seu afastamento da Igreja romana, ele, por seu intelecto aprimorado, começou a ser visto como uma poderosa voz do movimento protestante.

Estudou Direito, por influência do pai, mas sua preferência clara era a teologia. Em 1532, foi doutorado em Direito em Orléans, França.

A adesão de Calvino ao protestantismo se deu entre 1532 e 1533, tendo ele 23 ou 24 anos. Em 1534, escreve o primeiro livro sobre religião, intitulado Psychopannychia, onde tece uma crítica aos sectários anabatistas. A obra mais famosa de Calvino chama-se “As Institutas da Religião Cristã”, cuja primeira edição foi publicada em latim, publicada em 1536.

Calvino foi vítima das perseguições aos protestantes na França, vindo a fugir para Genebra (Suíça) em 1536. cidade em que veio a falecer em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.
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O elemento mais conhecido do calvinismo é a Doutrina da Predestinação, baseada na soberania divina, que Calvino desenvolveu a partir da teologia do apóstolo Paulo no Novo Testamento e dos escritos de Santo Agostinho.

Martinho Lutero


Precursor da Reforma Protestante na Europa, Lutero nasceu na Alemanha no ano de 1483 e fez parte da ordem agostiniana.
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Em 1507, ele foi ordenado padre, mas devido as suas idéias que eram contrárias as pregadas pela igreja católica, ele foi excomungado.
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Sua doutrina, salvação pela fé, foi considerada desafiadora pelo clero católico, pois abordava assuntos considerados até então pertencentes somente ao papado. Contudo, esta foi plenamente espalhada, e suas inúmeras formas de divulgação não caíram no esquecimento, ao contrário, suas idéias foram levadas adiante e a partir do século XVI, foram criadas as primeiras igrejas luteranas.

Apesar do resultado, inicialmente o reformador não teve a pretensão de dividir o povo cristão, mas devido à proporção que suas 95 teses adquiriram, este fato foi inevitável. Para que todos tivessem acesso as escrituras que, até então, encontravam-se somente em latim, ele traduziu a Bíblia para o idioma alemão, permitindo a todos um conhecimento que durante muito tempo foi guardado somente pela igreja.

Com um número maior de leitores do livro sagrado, a quantidade de protestantes aumentou consideravelmente e entre eles, encontravam-se muitos radicais. Precisou ser protegido durante 25 anos. Para sua proteção, ele contava com o apoio do Sábio Frederico, da Saxônia.

Foi responsável pela organização de muitas comunidades evangélicas e, durante este período, percebeu que seus ensinamentos conduziam a divisão. Casou-se com a monja Katharina Von Bora, no ano de 1525, e teve seis filhos.


Fonte: http://www.suapesquisa.com/biografias/lutero/

quarta-feira, 30 de maio de 2007

A loucura do ateísmo

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Os ateus existem. Mas será que existe uma base para suas afirmações? Será que é realmente plausível ficar afirmando que “Deus não existe” ?

Para que uma pessoa possa, com convicção, dizer que não há Deus, ela precisa ter um conhecimento absoluto de tudo. De outro modo, como ela poderia afirmar isso? Essa pessoa precisa saber de todas as coisas, ser onisciente. No entanto, toda pessoa equilibrada mentalmente é capaz de reconhecer suas limitações, e obviamente, reconhecer que não é onisciente.

O ateu também precisaria ter visitado todo o universo para afirmar definitivamente que Deus não existe. De outro modo, como poderia afirmar isso? Além disso, é preciso que o ateu esteja em todos os lugares ao mesmo tempo. Observe: Deus poderia estar em um lugar, e quando o ateu o procurasse, Deus poderia ter se retirado para outro lugar.

Evidentemente é mais prudente, razoável e sensato para o incrédulo, simplesmente dizer: “Não sei se Deus existe ou não”. E de fato foi esta a posição de um dos meus professores. Mesmo sendo conhecido em toda a universidade como um fervoroso ateu, quando debati com ele sobre Deus, ele simplesmente me disse: “Não sei quem é Deus! Não conheço Deus!”, ao invés de afirmar categoricamente: “Deus não existe!”.

Ou a pessoa sabe que não há Deus, ou não deve dizer o que não sabe.

Portanto, não se justifica a afirmação de que Deus não existe. Isso é inadmissível. Para se afirmar isso com absoluta certeza e segurança, seria preciso que o ateu fosse onisciente e onipresente! Por outras palavras, teria de ser Deus!

Por isso a Bíblia considera o ateu como louco. “Diz o louco em seu coração: Não há Deus” (Salmo 14:1).

Nunca houve um verdadeiro ateu, alguém que seja sinceramente ateu na maior profundidade do seu ser. O que existe são pessoas críticas do sistema religioso de sua época. O que existe são homens orgulhosos, com lábios cheios de ironia, arrogância por seus conhecimentos e prepotência por seu status na sociedade. Muitos não reconhecem suas limitações e consideram uma demonstração de fraqueza crer em um Deus.

Mas Paulo afirma na carta que escreveu aos cristãos de Roma, que a declaração “Não há Deus” é um suicídio intelectual e moral. Além disso, ele também afirma que o mundo dá farto testemunho da existência de Deus:

Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal” (Romanos 1:20-22).

A verdadeira loucura é não crer em Deus. O ateísmo não se sustenta pelo pensamento cuidadoso. Pensar nele leva a refutá-lo.

Do outro lado, a mensagem cristã é a mais plausível e sensata de todas as mensagens. Nenhuma outra filosofia, crença ou qualquer outra pregação, é capaz de preencher o intelecto como o cristianismo. E muito mais do que isso: Os cristãos não apenas pensam e falam sobre Deus, experimentam e vivenciam sua presença e seu poder!

Abra sua mente. Abandone os pré-conceitos infundados. Não tenha uma mentalidade estreita e mesquinha. Deixe de ser esnobe quer intelectual, social ou moralmente. Busque a Deus com sinceridade e humildade, e você o encontrará!

Que te conheçam, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. (João 17:3).

Fonte: http://xequemategelado.blogspot.com/2005_12_01_archive.html de Davi Lago

Quero ser um cristão diferente...

Quero ser um cristão diferente. Não quero ser conhecido apenas como alguém que "não bebe, não fuma e não joga". Isso é muito pouco. A "geração saúde", que freqüenta as academias e come comida natural, não bebe e não fuma, e nem por isso pode ser chamada de cristã.

Também não me contento em ser chamado de cristão por ter um modo diferente de me vestir. Durante muito tempo, no Brasil, a diferença que os Cristãos queriam mostrar era que eles se vestiam de uma maneira "esquisita", e isso acabou tornando-se motivo de chacota e que em nada engrandecia o Reino. Com certeza, usar uma roupa fora de moda não faz de ninguém um cristão.

Também não me satisfaço com o modelo "gospel" de cristão que há hoje em dia. Broche de Jesus, caneta de Jesus, meias de Jesus, calcinha de Jesus, etc. Sabe-se lá onde isso vai chegar. Tem muita gente ganhando rios de dinheiro com esses cosméticos para o cristão moderno. A grife "JESUS" tem vendido muito. Mas não adianta. Usar toda a parafernália do marketing "gospel" não faz de ninguém um cristão.

Pensei comigo: a moçada evangélica hoje está toda na Internet. E saí à busca de salas de bate-papo de evangélicos. Confesso que tentei inúmeras vezes, mas não consegui. Me adentrava por assuntos importantes e profundos da vida cristã e as respostas eram chavões o tempo todo. Não se pensa, cria ou reflete, só se repete chavão do tipo "glóooooria", "tá amarrado", "é tremendooo", etc. Definitivamente, repetir chavões a todo o momento não faz de ninguém um cristão.

Quero ser um cristão diferente. Que não seja alienado da vida e de seus acontecimentos. Que saiba discutir e entender as questões existenciais, como a dor, a miséria, a sexualidade, a paixão, o amor. Quero ser um cristão que não vive acuado, com medo de tudo, vendo o diabo em toda a parte e querendo amarrá-lo a todo momento: Jesus Cristo o derrotou na cruz, ele é um derrotado, e eu não preciso ficar me preocupando com ele 24 horas por dia. Quero ser um cristão que saiba falar de tudo e não apenas de religião, e que tenha, em todas as áreas, discernimento e sabedoria. Quero ser um cristão que não tenha uma atitude conformista diante do mundo, do tipo: "Ah, Deus quis assim...", mas que eu seja um agente de transformação nas mãos de Deus.

Que a minha diferença não esteja na roupa, mas na essência: coração bom, olhos bons. Quero ser um cristão que cria os filhos com liberdade, apenas corrigindo-lhes, para que cresçam e desabrochem toda a criatividade que Deus lhes deu. Quero ser um cristão que vive bem com o seu próximo. Quero ser reconhecido como um cristão pelo que eu "sou" e não por aquilo que "não faço". Quero ser um cristão simpático aos outros, agradável, piedoso, que se entristece com a dor do próximo, mas também se alegra com o seu sucesso (já reparou que as pessoas se solidarizam com nossas derrotas, mas poucos manifestam alegria quando vencemos?). Não quero ter de falar a todo momento que sou cristão, para que outros saibam, mas quero viver de tal modo que outros percebam Cristo em mim. Que Deus Abençoe a todos.

Fonte: http://rosadesaron.zip.net/

E agora, José?



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Estátua de Carlos Drummond de Andrade
Praia de Copacabana
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E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Fonte: http://carlos-drummond-de-andrade.letras.terra.com.br/letras/353799/

Todas as cartas de amor...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21-10-1935

Fernando Pessoa, Poesias de Álvaro de Campos

Fonte: domínio público

terça-feira, 29 de maio de 2007

ICTHUS

A palavra grega para peixe é ICHTHUS e as suas cinco letras formam o acrônimo grego com a frase:

"Iesus Christos Theou Uios Soter", que quer dizer: Jesus Cristo, filho de Deus Salvador.

A representação da figura do peixe tornou-se símbolo corrente entre os primeiros cristãos os quais, em tempos de perseguição, a usavam como sinal secreto da fé.

Visando identificar se alguém era irmão na fé em Jesus, um cristão desenhava um arco na areia, fato que se dava também nas catacumbas onde se reuniam em segredo, uma vez que a nova fé era perseguida. Se a outra pessoa também professava a fé cristã, desenhava o arco ao contrário, formando assim o desenho de um peixe.

Com o passar dos anos o simbolismo do peixe associou-se definitivamente à Igreja primitiva. De fato, a figura do peixe remete aos apóstolos Pedro e André (que eram pescadores e irmãos de sangue), à prodigiosa intervenção de Jesus numa pesca abundante e ao milagre da multiplicação dos pães e peixes narrada nos evangelhos.

O que é Teologia?

Teologia é uma palavra da Língua Portuguesa proveniente do idioma grego (Theos = Deus + Logia = Estudo, Tratado). Portanto, Teologia é o estudo de Deus.

Cada credo religioso ou mesmo algumas pessoas têm a sua própria forma de entender Deus. Para a cristandade (católicos, ortodoxos, protestantes), Deus é um Espírito Pessoal, que governa todo o universo criado por Ele mesmo. E esse mesmo Deus - chamado Jeová ou Javé - revelou-se à Humanidade através da Sua Palavra: a Bíblia Sagrada.

Assim sendo, Teologia cristã se baseia nas Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. Ou seja, pode-se dizer que a Teologia cristã é essencialmente Teologia Bíblica.

A Teologia Bíblica divide-se em quatro partes:

I - TEOLOGIA SISTEMÁTICA

Sistemática, porque abrange o entendimento da bíblica por assuntos, buscando compreender o que a Bíblia apresenta sobre determinado assunto ou tema.

A Teologia Sistemática subdivide-se em:

- Bibliologia (Estudo da Inspiração e História da Bíblia)
- Teologia propriamente dita (Estudo da Pessoa de Deus-Pai)
- Cristologia (Estudo da Pessoa de Jesus Cristo)
- Pneumatologia (Estudo da Pessoa do Espírito Santo)
- Antropologia bíblica (Estudo do Ser Humano)
- Angelologia (Estudo dos Anjos)
- Satanologia (Estudo de Satanás)
- Demonologia (Estudo dos Demônios)
- Hamartiologia (Estudo da Doutrina do Pecado)
- Soteriologia (Estudo da Doutrina da Salvação)
- Escatologia (Doutrina das Últimas Coisas)


II - TEOLOGIA BÍBLICA DO ANTIGO TESTAMENTO

Preocupa-se apenas em estudar o entendimento que o Antigo Testamento apresenta a respeito de determinados temas. Estuda-se as formas como Deus lida com o povo de eleito de Israel na época da Lei, os sacrifícios levíticos, as manifestações do Verbo (Jesus Cristo) antes de assumir a forma humana, as profecias sobre Jesus Cristo, etc.

III - TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO

Preocupa-se em estudar a forma como o Novo Testamento apresenta determinados assuntos. Estuda-se a teologia contida nos quatro Evangelhos, em Atos dos Apóstolos, nas Epístolas Paulinas (do apóstolo Paulo), nas epístolas aos Hebreus e Epístolas Universais (Tiago, Pedro, João e Judas) e em Apocalipse. O conteúdo doutrinário de Cristo Jesus e de São Paulo Apóstolo constituem um estudo sumamente importante para que se possa compreender profundamente a teologia do Novo Testamento.

IV - TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA

Trata-se do estudo das modernas reflexões teológicas. Analisa-se os pensamentos de teólogos contemporâneos como Karl Barth, Rudolf Bulltiman, Dietrich Bonhoefer, Paul Tillich, Cornelius Van Til, Hans Küng, dentro outros.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Via et Veritas et Vita

"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim."

"Dicit ei Jesus ego sum via et veritas et vita nemo venit ad Patrem nisi per me" (Evangelho de João 14.6)

Esse versículo do evangelho do apóstolo João foi o que inspirou o título deste blog.





Quem é Jesus ?

Para o cego, Jesus é luz.
Para o faminto, Jesus é o pão.
Para o sedento, Jesus é a fonte.
Para o morto, Jesus é a vida.
Para o enfermo, Jesus é a cura.
Para o prisioneiro, Jesus é a liberdade.
Para o solitário, Jesus é o companheiro.
Para o mentiroso, Jesus é a Verdade.
Para o viajante, Jesus é o caminho.
Para o visitante, Jesus é a porta.
Para o sábio, Jesus é a sabedoria.
Para a medicina, Jesus é o médico dos médicos.
Para o réu, Jesus é o advogado.
Para o advogado, Jesus é o Juiz.
Para o Juiz, Jesus é a justiça.
Para o cansado, Jesus é o alívio.
Para o medroso, Jesus é a coragem.
Para o agricultor, Jesus é a árvore que dá fruto.
Para o pedreiro , Jesus é a pedra principal.
Para o jardineiro, Jesus é a Rosa de Sharon.
Para o floricultor, Jesus é o lírio dos vales.
Para o tristonho , Jesus é a alegria.
Para o leitor, Jesus é a palavra.
Para o pobre, Jesus é o tesouro.
Para o devedor, Jesus é o perdão.
Para o aluno, Jesus é o professor.
Para o professor, Jesus é o mestre.
Para o fraco, Jesus é a força.
Para o forte, Jesus é o vigor.
Para o inquilino, Jesus é a morada certa.
Para o incrédulo, Jesus é a prova.
Para o fugitivo, Jesus é o esconderijo.
Para o obstinado, Jesus é o conselheiro.
Para o navegante, Jesus é o capitão.
Para o soldado, Jesus é o general.
Para a ovelha, Jesus é o bom pastor.
Para o problemático, Jesus é a solução.
Para o holocausto, Jesus é o cordeiro.
Para o sábado, Jesus é o Senhor.
Para o astrônomo, Jesus é a estrela da manhã.
Para os magos, Jesus é a estrela do oriente.
Para o mundo, Jesus é o salvador.
Para Judas, Jesus é inocente.
Para os demônios, Jesus é o santo de Deus.
Para o tempo, Jesus é o relógio de Deus.
Para o relógio, Jesus é a última hora.
Para Israel, Jesus é o Messias.
Para as nações, Jesus é o desejado.
Para a Igreja, Jesus é o noivo amado.
Para o vencedor, Jesus é a coroa.
Para a gramática, Jesus é o verbo.
Para Deus, Jesus é o Filho amado.
Pra mim, JESUS é o grande EU SOU, O SALVADOR.

E pra você, quem é JESUS?

Autor: Solrac

A Teologia do Milagre

Desde os princípios da humanidade, os fenômenos extraordinários, assombrosos ou maravilhosos causaram não apenas estupefação, mas também reflexão e pensamento religioso, seja na autenticidade, seja no imaginário. Mesmo nos dias atuais, eivado de racionalismo, é fácil perceber a influência de tais fenômenos. Curas, possessões, exorcismos, fantasmas, mau-olhado, encosto, casas mal-assombradas, trabalhos-magias, fenômenos carismáticos e tantos outros assuntos similares pertencem aos âmbitos religioso, ficcional, de superstição, de cinema, de processos psiquiátricos ou de sensacionalismo. Somente alguém distanciado das lides pastorais da Igreja desconsideraria sua relevância.

No âmbito judaico-cristão, os fenômenos extraordinários têm importância capital. A Revelação de Deus, que tem uma natureza pública e social, expressa-se por palavras, mas também através de fatos e mesmo através de fatos prodigiosos que chamamos milagres. Os milagres fazem parte da Revelação e como tal devem ser considerados.

Assim, convém esclarecer alguns aspectos gerais que facilitam a compreensão e o oportuno julgamento que muitas vezes é requerido ao teólogo-pastor. Negar a possibilidade de fenômenos extraordinários ou sobrenaturais seria puro ceticismo. Acreditar na veracidade e sobrenaturalidade de todos os pretensos casos seria colecionar o maravilhoso imprudentemente, expondo a Igreja ao risível. Nada dizer seria deixar livre curso ao imaginário. O presente artigo é uma sistematização a partir de uma importante bibliografia sobre o assunto[1], porém não pretende ser exaustivo. Além disso, pode-se encontrar ampla e diversa bibliografia relacionada[2].

1 O que é um milagre?

Milagre vem do latim miraculum. Na Antigüidade clássica era um fato excepcional ou inexplicável, um fato maravilhoso ou extraordinário que suscita admiração, considerado como sinal e manifestação de uma vontade divina[3].

A partir do testemunho bíblico, percebe-se uma evolução na compreensão teológica do milagre. Os momentos centrais dessa compreensão foram a doutrina de Santo Agostinho, de Santo Tomás e a resposta apologética à crítica ilustrada. O Magistério da Igreja ocupou-se do milagre, sobretudo a partir do Concílio Vaticano I.

a) Na Sagrada Escritura

As coordenadas da linguagem bíblica sobre o milagre são diversas. O termo traduziu a riqueza expressiva dos termos hebraicos ot, nifla’ot, nora’ot, môfét, e os termos gregos sêmeia, dýnamis, thaúmata, térata, parádoxa, etc.

Para o aspecto psicológico do milagre: no Antigo Testamento encontramos môfét, que significa prodígio, um fato insólito, que provoca assombro, admiração, surpresa. No Novo Testamento, encontramos thaumázo e téras, com o mesmo tipo de significado. No entanto, esse prodígio, aos olhos da Sagrada Escritura, não é um prodígio profano, mas sagrado.

Para o aspecto factual, ontológico: no Antigo Testamento, encontramos nifla’ôt, que são obras próprias de Deus e impossíveis para o homem (ações divinas), manifestações e efeitos do poder divino. É o aspecto ontológico do milagre: obra transcendente, impossível às criaturas, o que supõe uma intervenção especial da causalidade divina.

Para o aspecto intencional ou semiológico ou noético: no Novo Testamento, encontramos sêmeion (l. signum), pois o milagre não é somente um prodígio que suscita o assombro, mas um sinal que Deus dirige aos homens. O milagre é portador de uma intenção divina que há de ser lida. Assim, ora Deus dá a entender que está com o seu enviado (p. ex., Moisés, Elias), ora que chegou o Reino (p. ex., nos “sinais” operados por Jesus).

Assim, para a Sagrada Escritura, o milagre é um prodígio religioso (aspecto psicológico), uma obra de poder (aspecto da causalidade), um sinal dirigido por Deus (aspecto da intencionalidade). Especialmente nos Evangelhos, é considerado como sinal, isto é, como “palavra plástica” de Deus que interpela o homem e o ajuda a proferir um ato de fé na mensagem transmitida por Cristo. Ou seja, os milagres são sinais divinos que não podem dar-se separados ou isolados da Revelação de Deus à qual pertencem e que expressam.

b) Em Santo Agostinho

Nos Padres, o milagre é apresentado dentro do conjunto da Revelação e da fé, destacando seu caráter de sinal assim como a função que lhe é própria: orientar à Revelação.

Santo Agostinho foi o primeiro a estabelecer uma doutrina sistemática sobre o milagre, que influirá até ao século XII. Considera o milagre no horizonte da atividade criadora de Deus, que deixou sementes e virtualidades nas coisas (rationes seminales). No milagre importa mais o seu valor de sinal e não tanto o de transcendência física. Ele reconhece no milagre a intervenção divina, que não consiste, no entanto, em um ato de poder criador de Deus, mas em um desígnio de sua providência, mediante o qual desperta “a energia” que já havia depositado nas coisas. Os milagres seriam fenômenos que Deus provoca a partir das sementes secretas que se encontravam em germe desde a criação. Portanto, de certa forma, tudo, na natureza e no mundo, pode ser considerado como milagre, e os milagres especiais o são por seu caráter insólito e extraordinário. O fundamental neles não é o poder que mostram, mas que Deus pode utilizá-los de modo especial como sinais. Em De Trinitate, são propriamente milagres e sinais aqueles fatos que se apresentam a nossos sentidos para transmitir-nos algo divino[4]. Em De utilitate credendi, milagre é tudo o que, sendo difícil e não-habitual, supera as esperanças e o poder do espectador assombrado[5]. Portanto, um acento no psicológico: para Santo Agostinho, o importante no milagre é sua capacidade de elevar o homem à inteligência das realidades do mundo da graça. Não nega a intervenção direta de Deus, mas acima de tudo é um sinal devido ao seu caráter não-habitual ou extraordinário. Uma síntese do pensamento agostiniano sobre o milagre encontra-se no comentário sobre a multiplicação dos pães, em Tractatus in Ioannis Evangelium[6].

c) Em Santo Anselmo e Santo Tomás

Santo Anselmo distingue tríplice causalidade: a da natureza, a do homem, a de Deus. A natureza e o homem não podem fazer nada sem Deus, mas Deus pode atuar sem a natureza e sem o homem. O milagre tem que ver com a causalidade divina, independentemente de toda causa segunda; é um fato transcendente, que só pode atribuir-se a Deus. Portanto, um acento no ontológico.

Santo Tomás de Aquino ocupou-se do milagre em diversos lugares[7]. O Aquinate retoca a definição de Santo Agostinho: Miraculum dicitur arduum et insolitum supra facultatem naturae et spem admirantis proveniens[8]. Afirma que nos milagres podemos distinguir: primeiro, o que nele ocorre, quer dizer, algo que supera as forças da natureza, que é o que faz designar o milagre como ato de poder; em segundo lugar, a finalidade do milagre, isto é, a manifestação de um caráter sobrenatural; finalmente, seu caráter excepcional é que os faz designar como prodígios ou maravilhas[9].

Ainda, o Doutor Angélico distingue três gêneros de milagres, segundo a distância entre o fato devido à intervenção divina e as possibilidades das causas segundas: milagres em que Deus obra algo que a natureza nunca pode fazer; milagres em que Deus obra algo que a natureza pode realizar, mas em outra ordem; milagres em que Deus obra algo que também as criaturas fazem, mas o faz sem ater-se a determinadas exigências[10].

d) Na crítica ilustrada e na Apologética

Depois de Santo Tomás, acentuou-se o aspecto ontológico, sem preocupação demasiada com os outros aspectos. A própria idéia de Santo Tomás sobre lei e natureza acabaram cedendo espaço às idéias racionalistas: a lei no contexto moderno. A natureza, pensam os deístas e ilustrados, está regida por leis necessárias e inalteráveis, postas por Deus. Postula-se, então, sobre bases filosóficas, uma visão determinista da natureza. Um determinismo que acabou adversário da possibilidade do milagre. Nessa visão da natureza, o milagre torna-se impossível; claro está, dentro da visão da crítica ilustrada onde a noção de Deus é a própria do deísmo ou do panteísmo, onde Deus é entendido como suprema Razão que se manifesta na universalidade e necessidade, mas que se vê incapacitada de integrar a liberdade.

A resposta da Apologética teológica insistiu sobretudo na possibilidade dos milagres e na “quebra” das leis naturais que os caracteriza e que somente Deus pode realizar. Ao centrar-se de maneira preponderante na transcendência física do milagre, a Apologética deixou, de certo modo, que o caráter de sinal caísse no esquecimento. Ao ater-se somente à consideração do milagre/prodígio, concebido como um fato de ordem física que supera a força eficiente de todas as criaturas, sem apelar ao caráter intencional, reduz um problema religioso a um problema de pura causalidade eficiente. Pois o milagre em sua especificidade mais profunda é um sinal de uma ordem da graça dirigido por Deus.

e) Numa renovação na idéia de milagre

Uma fonte de renovação sobre o pensamento em torno ao milagre deve-se ao filósofo Maurice Blondel. Para ele, o milagre não é somente um prodígio físico que se refere exclusivamente aos sentidos, à ciência ou a filosofia, mas que é, ao mesmo tempo, um sinal dirigido a todo homem, um sinal de ordem espiritual e de caráter moral e religioso, um sinal que revela, não apenas a existência da Causa Primeira (do que os fatos naturais são suficientes para assegurar-nos), mas, sobretudo, a bondade de um Deus Pai que marca sua intervenção especial e que autentica desse modo um dom sobrenatural.

Assim, o milagre tem uma realidade física. Não é somente um fato extraordinário, percebido aos olhos da fé; é um testemunho escrito por Deus nos fatos. Se o milagre é verdadeiramente figurativo da bondade “anormal” de Deus, é preciso que possua uma realidade física. Os milagres são benefícios temporais verdadeiros e reais. O milagre é o análogo do sobrenatural. Situa-se no juízo mesmo de dois mundos: é sinal sensível das realidades invisíveis.

Mais. O milagre tem uma função no tempo presente: um benefício real. Mas este benefício não é mais que uma prefiguração, uma antecipação fugidia da “terra prometida”. O milagre pertence ao mundo da Revelação divina. Por sua própria natureza, o homem não pode ser mais que servidor, amigo, “filho adotivo”: numa invenção sobre-humana e supradivina do amor. O milagre é a “teofania” da bondade misericordiosa e favorável que triunfa sobre a natureza e sobre o tempo no tempo e na natureza mesma. Os milagres são “atos falantes”, “palavras atuantes”. Se o milagre nos desconcerta e nos inquieta, é porque nos urge à conversão. Em sua relação com a doutrina da fé, o milagre é motivo de credibilidade. Mostra a bondade da mensagem em exercício.

Ainda: é impossível demonstrar cientificamente a transcendência de um fato. Mas o milagre não se situa nesse nível. Não fala a linguagem da ciência. O que se pode constatar é seu caráter extraordinário e perceber sua relação com a mensagem de Deus. O milagre é o que na ordem sensível se leva a cabo divinamente, com vistas ao sobrenatural. O milagre recorda-nos que o mundo é criado por Deus, que não existe mais que nEle e para Ele.

Portanto, para Blondel, o milagre é ao mesmo tempo um fato extraordinário que rompe bruscamente com o curso habitual das coisas e uma manifestação absolutamente particular da bondade de Deus Pai. Um sinal figurativo e confirmativo da mensagem cristã. Um sinal da “anormal” bondade de Deus. Um prodígio significante: aurora da nova criação.

Segundo R. Latourelle, milagre é um prodígio religioso, que expressa na ordem cósmica (o homem e o universo) uma intervenção especial e gratuita do Deus de poder e de amor, que dirige aos homens um sinal da presença ininterrupta de uma palavra de salvação no mundo.
Assim, em primeiro lugar, é um prodígio na ordem cósmica, um fenômeno insólito que altera o curso habitual das coisas e que causa surpresa e admiração. Em segundo lugar, é um prodígio religioso ou sagrado, ou seja, realizado num contexto religioso (não-fantasmagórico, fabuloso ou mítico). No contexto profano, o milagre não teria nenhum sentido e nenhuma razão de ser. Em terceiro lugar, é uma intervenção especial e gratuita do Deus de poder e de amor. Em quarto lugar, é um sinal divino, ou seja, é um prodígio com significado.

f) No Magistério Católico

Não há uma definição completa de milagre dada pelo Magistério da Igreja, ou seja, nunca o julgou necessário ou nunca a quis dar. O Concílio Vaticano I indica as características do milagre: são fatos divinos, isto é, têm Deus como autor, ao menos como causa principal, e são fatos distintos dos da Providência ordinária supondo uma intervenção especial de Deus; são sinais dirigidos por Deus aos homens para ajudar-nos a reconhecer que Deus falou à humanidade; causam assombro[11].

Pio X recolhe no juramento antimodernista o mesmo ensinamento do Vaticano I, insistindo na idéia de que os milagres são motivos de credibilidade acomodados a toda época[12]. Pio XII refere-se também ao juízo certo de credibilidade, que se apóia nos milagres, acerca da origem divina da religião cristã[13].

No Concílio Vaticano II mencionam-se: “obras, sinais e milagres pelos quais Cristo revela e atesta a Revelação”[14]; “os milagres de Jesus permitem comprovar que o Reino de Jesus já chegou à terra”[15]; Cristo “apoiou e confirmou sua pregação com milagres para excitar e robustecer a fé dos ouvintes, mas não para exercer coação sobre eles”[16].

2 As condições de um milagre

A Teologia afirma que o milagre é essencialmente um sinal ou palavra-feito de Deus, dotada de três características. Com efeito, o milagre é: a) um fato real, b) totalmente inexplicável pela ciência contemporânea ao mesmo, c) realizado em autêntico contexto religioso, como sinal ou resposta de Deus a esse contexto.

Um fato real: porque requer-se que o episódio apresentado seja histórico, autêntico, real. Sabe-se quanto a imaginação é fértil em criar casos maravilhosos ou, ao menos, em aumentar as dimensões estranhas de determinado fato. Também o subconsciente, com suas aspirações íntimas, a alucinação, a sugestão, é responsável por muitos dos casos tidos como milagres pelo vulgo.

Um fato inexplicável pela ciência contemporânea ao mesmo: a ciência moderna tem elucidado numerosos fenômenos que, na época de sua ocorrência, foram tidos como milagres. Mas há fatos (p. ex., nos Evangelhos) que a ciência não explica, nem jamais explicará. Mas basta para ser “sinal” que a ciência contemporânea não o saiba explicar, nem conheça pista para explicá-lo futuramente.

Um fato realizado em autêntico contexto religioso: o milagre vem confirmar, da parte de Deus, uma atitude religiosa do homem. Ora, Deus só pode confirmar valores autênticos e verdadeiros. Por isso, mesmo quando a ciência considera inexplicável um fato, a Igreja permanece reticente. Ela examina as circunstâncias: terá sido resposta a uma prece humilde, confiante, inspirada na verdadeira fé? Terá servido para confirmar um servidor de Deus cuja doutrina ou cujo comportamento precisavam da chancela do próprio Deus? Será que o prodígio se verificou em contexto de magia, crendices, superstições, culto ao demônio?

Portanto, por sua própria índole, o milagre é um sinal, ou uma palavra “plástica” dirigida por Deus a determinada porção da humanidade, a fim de suscitar a fé dos homens ou tornar mais facilmente acreditável aquilo que o milagre assinala (a mensagem ou a pessoa). O milagre é uma das formas da comunicação reveladora de Deus. Forma parte das obras, através das quais, junto com as palavras, tem lugar a Revelação. Às obras concretamente compete manifestar e confirmar a doutrina[17]. A função significativa que os milagres oferecem da Revelação realiza-se em vários níveis: são sinais do poder misericordioso de Deus (p. ex., Mt 9, 1-8); são sinais do Reino messiânico (p. ex. Mc 1, 35-39); são sinais da missão divina de seus enviados (p. ex., Ex 4, 1; 14,31; 1 Re 18, 37-39; Mt 11, 21; Jo 3, 2; 7, 31; At 2, 22; 10, 38); são sinais da glória de Cristo (p. ex., Mt 11, 27; Jo 1, 14; 3, 35); são sinais de salvação (p. ex., Mc 1, 40-45; Lc 5, 10); são sinais escatológicos (p. ex., Cl 1, 18; Rm 8, 11).

3 Aspectos positivos e negativos a observar nos fenômenos

Podemos observar aspectos positivos e negativos durante a análise de um possível milagre. Critérios negativos (não são reconhecidos como milagres) são:

- os fenômenos ambivalentes: suscetíveis de dupla interpretação (natural ou transcendental). Certos acontecimentos podem verificar-se tanto em contexto religioso como em contexto puramente natural (p. ex., vozes interiores, êxtases, sonhos premonitórios, adivinhação do pensamento, visões, etc). Muitas vezes será difícil distinguir;

- os fenômenos de experiência meramente individual: só uma determinada pessoa o vive e o conhece. São verdadeiros sinais para a pessoa, inclusive podem ser de Deus, mas não podem ser utilizados como mensagem destinada a mais pessoas. Tais sinais têm algo de incomunicável, pois implicam um tanto de experiência imediata e de intuição, que não se pode enquadrar em um esquema objetivo e válido para o grande público (p. ex., sinais da Divina Providência, sonhos, iluminações, etc). Muitas vezes poder-se-ia apelar à mera coincidência e, em outros casos, à sugestão;

- as curas de moléstias funcionais. As curas de doenças são os mais comuns “milagres”. Devem-se distinguir-se doenças orgânicas das funcionais. As doenças orgânicas são as doenças nas quais há um ou mais órgãos afetados na sua integridade anatômica ou histológica, ou deformado e degenerescente, de modo a estar em vias de perecer. As doenças meramente funcionais são as doenças que não dependem de lesão física mas de perturbação do sistema nervoso. Existem perturbações histéricas pseudo-orgânicas que apresentam todos os sintomas de uma lesão orgânica, sem que esta exista realmente. Há quem mencione também as doenças psicossomáticas, nas quais um fundo nervoso está associado a lesões orgânicas. Em alguns casos, o elemento psíquico predomina e é diretamente responsável por irritações orgânicas (p. ex., dermatoses, moléstias cardíacas). Em outros casos, o fator orgânico predomina, mas o estado psíquico ou afetivo do paciente influi. Para “milagres” interessam as lesões orgânicas nitidamente diagnosticadas e tidas como incuráveis pela medicina contemporânea.

Existem também circunstâncias que desabonam um pretenso “milagre”: ambiente de irreverência a Deus, imoralidade, charlatanismo ou ilusionismo, cobiça de lucros materiais ou aceitação destes, ocasião de orgulho, vaidade ou sensualidade e culto da personalidade; ambientes de sensacionalismo e alarde, de fantasia e vã curiosidade, pois as obras de Deus costumam ser discretas; espírito de arrogância e de domínio com que alguém trata as coisas de Deus.

São critérios positivos:

- no caso de cura, em se tratando de doença orgânica grave, consistindo em alterações anatômicas significativas (modificação, perda ou hiperprodução de tecidos). Esta doença terá sido diagnosticada pelos métodos mais seguros e considerada totalmente incurável aos olhos da medicina contemporânea;

- no caso de cura, tenham sido ineficientes todos os meios terapêuticos devidamente aplicados;

- no caso de cura, verifique-se a restauração dos órgãos ou tecidos lesados em espaço de tempo tão breve que possa ser considerado instantâneo;

- no caso de cura, não se tenha registrado o prazo ordinariamente necessário para a recuperação gradual da função lesada (a pessoa retoma suas atividades com naturalidade em tempo extraordinariamente pequeno);

- seja a cura duradoura, capaz de ser comprovada por exames sucessivos, feitos a intervalos regulares durante longo espaço de tempo;

- autênticas atitudes de fé (oração e humildade); os efeitos do “milagre” são confirmação dos homens na verdade e no bem, repúdio ao pecado, conversões à reta fé, paz na alma, concórdia e caridade entre as pessoas, fidelidade ao dever de estado, obediência à autoridade eclesiástica, etc.

4 Etapas da verificação de milagres

Existem questões decisivas e sucessivas na análise de um possível milagre. Realmente sucedeu esse fato prodigioso? Não existe uma causa natural para o fato? O agente do milagre foi Deus? Qual a mensagem que Deus quis transmitir?

Daí, pode-se dizer que são quatro as etapas para verificação dos milagres:
a) verificar a autenticidade do fato;
b) verificar a possibilidade de explicação científica (de parte das ciências físicas, químicas, biológicas, médicas ou psicológicas);
c) verificar a explicação teológica (explicação sobrenatural);
d) verificar o significado (o motivo da permissão ou realização do específico fenômeno).

Na primeira etapa, da verificação da autenticidade do fato, o rigor da análise quer excluir possibilidade de mentira, de boato, de fraude, de falsas recordações ou deformações da memória, de ilusões ou alucinações, da mitomania dos histéricos ou da interpretação delirante dos paranóicos, etc.

Na segunda etapa, constatado o fato, procede-se à investigação sobre possível causa natural. Intervêm as diversas ciências teóricas, experimentais ou aplicadas, de acordo com a natureza do fenômeno: física, química, biologia, medicina, psiquiatria, engenharia, astronomia, etc.

Na terceira etapa, o processo teológico, apela-se à Revelação e à Teologia. Tal etapa deve realizar-se apenas quando a anterior estiver decididamente esgotada em suas possibilidades. Ou seja, vai-se à causalidade sobrenatural, depois de eliminada a causalidade natural.

Na quarta etapa, do significado, quer-se descobrir o motivo da realização ou permissão, por parte de Deus, do específico fenômeno. Além da Revelação e da Teologia, há que estar atento às circunstâncias e às repercussões pessoais, comunitárias ou até mundiais do fenômeno. Evidente, enquanto sinais de poder que permitem captar a presença e a ação salvífica de Deus, os milagres não têm todos o mesmo valor. Existe entre eles uma graduação. O decisivo no milagre é sua significância salvífica. Traduzindo: “O que Deus quis com isso?”

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Fonte: Presbiteros.com


[1] R. LATOURELLE, Milagros de Jesús y Teología del Milagro, Salamanca: Sígueme, 1990. Id., “Milagre”, in: R. LATOURELLE; R. FISICHELLA (dir.), Dicionário de Teologia Fundamental, Petrópolis-Aparecida: Vozes-Santuário, 1994, p. 624-640. W. MUNDLE; O. HOFIUS, “Milagro”, in L. COENEN; E. BEYREUTHER; H. BIETENHARD, Diccionario Teológico del Nuevo Testamento, v. III, p. 85-94. J. A. SAYÉS, Compendio de Teología Fundamental, Valencia: Edicep, 1998, p. 157s, 179-182, 272-276, 279-304. F. OCÁRIZ; A. BLANCO, Revelación, Fe y Credibilidad, Madrid: Palabra, 1998, p. 388-392, 555-572. J. METZ, “Milagro”, in: Sacramentum Mundi, Barcelona: Herder, 1984, v. 4, p. 595-599. E. MARTÍN NIETO, “Milagro”, in: F. RAMOS, Diccionario de Jesús de Nazaret, Burgos: Monte Carmelo, 2001, p. 825s. L. PIMENTEL CINTRA, Ciência e Milagres, São Paulo: Quadrante, 1994. R. BAUMANN, “Milagro”, in: Diccionario de Conceptos Teológicos, Barcelona: Herder, 1990, v. 2, p. 69-80. C. IZQUIERDO URBINA, Teología Fundamental, Pamplona: Eunsa, 1998, p. 391-407. M. SCHMAUS, A Fé da Igreja, Petrópolis: Vozes, 1982, v. 1, p. 93-97. N. ABBAGNANO, “Milagre”, in: Dicionário de Filosofia, 2ed., São Paulo: Mestre Jou, 1982, p. 641.
[2] P. ex.: G. AMORTH, Un esorcista racconta, Roma: Dehoniane, 1990. C. BALDUCCI, La possessione diabolica, 9ed., Roma: Mediterranee, 1988. M. ELIADE, Tratado de História das Religiões, Lisboa: Cosmos, 1990. E. FRIEDRICHS, Onde os espíritos baixam, São Paulo: Paulinas, 1965. P. A. GRAMAGLIA, Espiritismo; dimensões ocultas da realidade, São Paulo: Paulus, 1995. G. HUBER, O diabo, hoje, São Paulo: Quadrante, 1999. W. KASPER et alii, Diabo, demônios, possessão, São Paulo: Loyola, 1992. B. KLOPPENBURG, Espiritismo e fé, São Paulo: Quadrante, 1990. Id., Espiritismo; orientação para os católicos, São Paulo: Loyola, 1986. Id., O Espiritismo no Brasil, Petrópolis: Vozes, 1960. E. LA PORTA, Estudo psicanalítico dos rituais afro-brasileiros, Rio de Janeiro, 1979. R. LAURENTIN, Il demonio mito o realtà?, Milano-Udine: Massimo-Segno, 1995. V. MARCOZZI, Fenômenos paranormais e dons místicos, São Paulo: Paulinas, 1993. A. SCOLA et alii, Sectas satánicas y fe cristiana, Madrid: Palabra, 1998. A. STILL, Nas fronteiras da ciência e da parapsicologia, São Paulo: IBRASA, 1965. B. WENISH, Satanismo, Petrópolis: Vozes, 1992.

[3] Cf. Ilíada, II, 234; Odisséia, III, 173; XII, 394.
[4] Cf. PL 42, 879.
[5] Cf. PL 42, 90: “Miraculum voco quidquid arduum aut insolitum supra spem vel facultatem mirantis apparet”.
[6] Cf. PL 35, 1592.
[7] Cf. sobretudo em De potentia q. 6; S. Th. I, q. 105, aa. 6-8.
[8] S. Th. I, q. 105, a. 7, ad. 2.
[9] Cf. S. Th. II-II, q. 178, a. 1, ad. 1: “In miraculis duo attendi possunt: unum quidem est id quod fit, quod quidem est aliquid excedens facultatem naturae, et secundum hoc miracula dicuntur virtutes; aliud est id propter quod miracula fiunt, scilicet ad manifestandum aliquid supernaturale, et secundum hoc communiter dicuntur signa; propter excellentiam autem dicuntur portenta vel prodigia, quasi procul aliquid ostendentia”.
[10] Cf. Contra Gentiles III, c. 100.
[11] Cf. DS 3009.
[12] Cf. DS 3539.
[13] Cf. DS 3876.
[14] DV 4.
[15] LG 5.
[16] Dignitatis humanae 11.
[17] Cf. DV 2.

Diálogo com um ateu

Foi um encontro casual, em uma tarde, no alto do Cabo de Santo Agostinho, um penhasco na fímbria do mar, no extremo nordeste do Brasil. Voltando de uma longa caminhada pela mata, decidi descansar por alguns instantes no forte português abandonado, gozando a brisa fresca, nas sombras da tarde. Um homem de idade aparentando uns 60 anos, vestindo uma bermuda branca e uma camisa de seda azul que o vento agitava velozmente nas suas costas, estava sentado sobre um velho canhão. A peça de ferro, recém-pintada em preto luzidio, apontava para o horizonte na posição, talvez, de seu último tiro contra as esquadras holandesas.

Acercando-me do homem – provavelmente um turista de recursos, e uma pessoa excêntrica, por estar ali completamente só –, comentei, para iniciar uma conversa:

— As caravelas portuguesas disparavam salvas, quando passavam à vista deste cabo, para saudar a Nossa Senhora de Nazaré, que tem sua imagem na ermida junto ao farol...

Ele, que já me fitava, respondeu com vagar:

— Gastavam pólvora assim? Pobre gente! – disse. – Tipos supersticiosos, aqueles nossos avós. Corajosos no mar e ao mesmo tempo medrosos do destino; hoje somos escravos de crenças ridículas transmitidas por esses nossos ancestrais incultos.

— Não tem religião? – perguntei-lhe.

— Sou ateu, respondeu ele. – Mas não sou esse ateu comum, que nega sem pensar e sem refletir. Eu refleti muito para chegar à convicção de que Deus não existe.

— Sou católico – disse eu. — Ah!... Humm... A maioria é... – murmurou o ateu, observando-me enquanto eu me acomodava sobre a muralha, onde também coloquei minha mochila. Lá em baixo, as ondas avançavam com violência e estrondo sobre as rochas do penhasco, para recuar mansamente espalhando sua espuma branca entre labirintos de pedras negras. O céu ganhava tintas alaranjadas, reflexos do sol que se punha do lado oposto, oculto pela mata luxuriante. Tanto poder e beleza, não seria uma prova de que Deus de fato existe?

Era a primeira vez que eu falava com um ateu convicto. Encarei-o com um sorriso – para evitar qualquer suspeita de antagonismo da minha parte – e indaguei que razão tinha para não crer. Sua fisionomia permaneceu calma e amistosa, enquanto respondia:

― Acompanhe o meu raciocínio – pediu ele. – Se Deus existe, não poderia existir sem ter criado este mundo que conhecemos. E neste mundo predomina o mal, ele está cheio do mal. Portanto ou – primeiro –, Deus criou o mundo e também o mal que nele vemos, e então não é um deus perfeito; ou, – segundo –, criou o mundo e não tem poder bastante para afastar o mal, logo não é infinitamente poderoso; ou – terceiro –, colocou propositadamente o mal no mundo para nos afligir e, nesse caso, não é sumamente bom e misericordioso.

Ensaiei interrompê-lo para protestar, mas ele se me antecipou:

― Não me diga, como o seu filósofo Agostinho, que o mal não tem existência própria, e apenas significa a ausência do bem. Não concordo. Ele mesmo considerava como mal alguém agir contra as Tábuas da Lei. Portanto, o mal existe e pode ser praticado. Ora, se Deus criou o bem e o mal para ver qual dos dois vence na alma de uma pobre criatura, isto ainda é pior.

― Você falou de alma... Acredita que o homem seja corpo e espírito?

― Não acredito em almas, retrucou. – Apenas citava o seu filósofo. E posso dizer que, se existem almas e Deus perde uma delas, esta perda é um mal que atinge a Deus, e ser atingido pelo mal não vai bem com a idéia de perfeição e infinito poder. O que me diz?

― Posso facilmente responder-lhe, por partes, porque são duas as conseqüências de haver Deus dado ao homem a vontade livre. A alma somente é perdida quando exerce sua vontade para pecar. Seria uma contradição se Deus a impedisse de pecar, pois teria criado uma falsa vontade livre, e um falso livre arbítrio. Portanto, não é uma imperfeição de Deus que Ele perca uma alma.

― Mas, e o sofrimento? Um mundo que, como lembrou Voltaire, sofre tragédias como a de um grande terremoto, com perda de milhares de vidas, não é um mundo impregnado do mal?

― Ora! Você sabe que ele criticava o relativismo de Leibniz e de São Tomás, para os quais do mal podia resultar algum bem e neste caso o mal era bom. Mas eu vejo o mal por um ângulo muito diverso: ele em hipótese alguma é bom ou pode ser tolerado. Deixa-me dizer por quê: Deus criou as leis que regem o universo, as quais, seguidas à risca pela natureza, surpreendem os homens a todo instante e, quando as desconhecemos ou não podemos vencê-las, elas são a origem do sofrimento para nós. Porém, essas leis eram necessárias! Não seria possível a vontade livre se nada se movesse, se o mundo fosse rígido, imóvel; e também não seria possível exercê-la se, ao contrário, o mundo fosse completamente caótico.

Dito isto, pensei: se não existissem as leis naturais, os milagres também não aconteceriam!... – mas prossegui:

― Talvez o homem conhecesse perfeitamente essas leis naturais – esse conhecimento explicaria sua felicidade e sua pureza no Paraíso -, mas tenha perdido sua sabedoria devido a um primeiro pecado; não por praticar o mal, mas por orgulho...

― No paraíso?... – perguntou o ateu com polida ironia. Era evidente que a questão o interessava. Talvez não fosse um ateu tão convicto quanto acreditava ser.

― Sim – respondi-lhe –, e tem, na Terra, que lutar para redescobri-las, a fim de dominar a natureza, evitar o sofrimento, e reconquistar sua felicidade. Porém, quando descobre uma dessas leis, não a conhece completamente. Precisa procurar também os princípios dos quais ela deriva e chegar a princípios e leis anteriores, de modo que busca incessantemente as causas das causas. A ciência cada vez mais sente a necessidade de uma fórmula universal, um princípio que ela não possa desmontar e reduzir a outros princípios. Assim, a ciência, sem o saber, está procurando Deus, que é essa causa última.

― Aristóteles parece que foi o primeiro a falar de uma causa suficiente das coisas. Mas isto não é uma prova da existência de Deus – alegou o ateu. – Em todo efeito permanece alguma coisa do que foi a sua causa, e nas coisas do mundo não vemos nada que tenha pertencido a algo ou alguém senão ao mundo mesmo. Existem os princípios da física, os princípios da química, eles, sim, princípios perfeitos e eternos, leis imutáveis, indiferentes ao bem e ao mal.

― Não há nenhum vestígio de Deus no mundo por que Deus não se confunde nem é parte da coisa por Ele mesmo criada. Se você olha um quadro pintado a óleo, também não encontra nada do pintor, se ele não deixar seu nome escrito. Se você não quisesse acreditar na existência do pintor, você teria que supor que o pincel que deixou as marcas na tela seria a única razão do quadro existir. A ação do pincel estaria muito bem explicada pelos princípios da química e da física. Estes princípios lhe diriam, por exemplo, a força com que o pincel atingiu cada parte da tela. A disposição das linhas lhe permitiria descobrir as leis da estética aplicadas à pintura. Porém, a rigor, o quadro jamais lhe provaria a existência do pintor mais que as coisas do mundo provam que Deus existe.

O velho ergueu-se da ponta do canhão, bateu alguma poeira de sua bermuda branca e veio apoiar-se na muralha, fitando o mar. De perto, deu-me outra impressão. Talvez seu rosto não tivesse tantas rugas quanto seria de esperar devido à aparência alquebrada e gasta de sua figura. Já não lhe daria mais que uns cinqüenta e poucos anos de idade. Parecia disposto a continuar a me ouvir.

― Retornando à questão do bem e do mal, é quando cremos em Deus e na palavra revelada – continuei –, que podemos distinguir o que pode ser o verdadeiro bem e o verdadeiro mal para nós. Então se torna importante o problema da conduta moral. É incerto o que esperar de quem não tem Deus como referência moral!

― Não diga isso, por favor! protestou o ateu. – A filosofia pode nos fornecer regras para a boa conduta. Temos um dever natural que é usar nossa razão para fazermos somente o que for mais adequado, e fazê-lo segundo um raciocínio o mais amplo possível. Deus fica totalmente fora disto. Há, portanto, como ser um bom ateu desde criança – arrematou ele.

― Porém sem incluir Deus, o raciocínio não será cabalmente completo e abrangente, não será “o mais amplo possível” como você exige. Seria, como no exemplo que dei, raciocinar sobre um quadro sem levar em conta o seu autor. Afinal, quem fez o homem? Quem lhe deu consciência? Foram os princípios da física? Isto, sim! é impossível. E se você sabe que existe um Criador, você quer conhecê-Lo e ouvir Sua palavra.

Ambos falávamos sem nos exaltar – a serenidade em nosso diálogo permitia que fizessem parte do momento sensações várias que estimulavam nossa reflexão: a visão do mar azul, a brisa morna, o borrifo das ondas que vez por outra nos atingia sobre a muralha.

― Deixa-me devolver-lhe a pergunta – disse ele no mesmo tom bem humorado que mantivera em toda a conversa. – Você tem algum motivo que não aquele da “causa última das coisas” ou “porque fui educado na santa fé católica” e coisas do gênero, para acreditar em Deus?
Sua pergunta levou-me a sorrir.

― Sou um geólogo! – respondi. – O estudo da Terra leva qualquer um a refletir sobre um Criador. Imagina aqueles que estudam os astros!...

Foi só então que finalmente nos apresentamos, sem que ele dissesse muito a seu respeito. Apenas que era do Sul, estava num programa de turismo de grupo e que os companheiros haviam decidido ir até São José da Coroa Grande, e o apanhariam ali no retorno.

― Está hospedado na pensão? – perguntei-lhe. – Lá poderemos continuar a discutir o assunto, esperando pelo jantar. Talvez Dona Baixa nos ajude com alguma luz sobre a questão.

Descemos a senda do penhasco sem pressa, alcançamos o baixio que ia dar na praia norte e, pelo caminho entre os coqueiros, fomos nos acercando do aldeamento de pescadores, nos últimos momentos da luz da tarde. A pensão era um casebre um pouco mais amplo que os demais, numa posição privilegiada na longa fileira de choupanas, com um extenso coqueiral e a ampla praia bem à sua frente. Entre os coqueiros havia um pequeno coreto de paus roliços, com uma lanterna a gás pendurada no centro do teto de palha. No mar, as ondas rolavam sua longa faixa de espuma já sem brilho, em um vasto arco que atingia ao mesmo tempo as areias ao longo de toda a praia próxima e distante.

No trajeto havíamos conversado sobre os hábitos daquele povo simples e ao jantar, tendo o sulista se interessado pelo que lhe falei do meu trabalho, não retornamos ao assunto de nosso debate anterior.

À noite houve um ensaio de música para uma festa tradicional que estava próxima. Alguns músicos, sentados nos bancos toscos do coreto, tocaram pífaro e uma rabeca, e alguns pescadores cantaram versos ligeiros de muita rima, um canto meio gritado e aflito, até que as rodadas de cachaça reduziram o canto a conversas arrastadas e muito riso. Já havíamos nos recolhido aos nossos pequenos quartos quando as vozes cessaram e apenas o ronco das ondas vez por outra se fazia ouvir no silêncio da noite. No entanto, eram apenas 9 horas!

Na manhã seguinte, levantei-me cedo, e saí para fazer observações no penhasco e nas rochas vulcânicas circunvizinhas cobertas pela mata. Após um dia de trabalho, caminhando para oeste até onde principiava o canavial, e retornando pelo sul ao cair da tarde, foi com verdadeiro prazer que, depois de um mergulho no mar e um banho de caneco para retirar o sal, voltei a encontrar o ateu na pensão. Como eu, ele ia passar ainda uma noite no local.

Ao jantar, depois de trocarmos algumas palavras sobre o nosso dia, de prosearmos um pouco com Dona Baixa e saborearmos o seu pirão de peixe, voltamos ao assunto da véspera:

— Você ficou me devendo a resposta à minha pergunta – disse-me ele. – Além de uma conjectura sobre a “causa última”, ou do fato de ter sido educado católico, existe na verdade algo que o convença da existência de Deus? Nos distraímos com outros assuntos e você não chegou a expor suas razões.— Bem... Uma coisa que me impressiona muito são os milagres – respondi. – Eu os tomo como a principal, e talvez a única prova direta que se pode ter da existência de Deus, e também dos Santos, de Maria e de Cristo.

— Fale-me apenas de Deus – atalhou ele.

— Mas você certamente considera ridículo alguém acreditar em milagres...

— Oh, não! Não considero essa crença ridícula. Na verdade, porque a idéia da bondade infinita faz parte da idéia de perfeição, a um ser que fosse perfeito não poderia faltar o deixar-se provar concretamente. Se Deus existe como os judeus e os cristãos o idealizam, como um ser perfeito e misericordioso, negar Ele próprio a prova de sua existência haveria de contrariar Sua perfeição. Apenas não entendo porque os milagres seriam prova, uma vez que não passam de fatos mal interpretados, como está definitivamente demonstrado.

A conversa que iniciamos à hora do jantar, continuamos depois à beira da praia, sob a luz de intenso luar, sentados na borda de uma jangada deixada na areia ao pé dos coqueiros.

― Não seria possível provar Deus somente no campo físico, como se prova em laboratório a pressão dos gases, a dilatação dos metais. As provas da existência de Deus precisam ser buscadas onde a Sua natureza e a natureza do homem se tocam, ou seja, onde a espiritualidade e acontecimentos extraordinários ocorrem juntos. E também não seria possível essa prova, sem que fosse vontade Dele. E, para mim, os fatos que representam essa convergência das duas naturezas e das duas vontades são principalmente os milagres. Deus se deixa provar numa relação de sua vontade com a vontade humana, justamente quando concede o milagre. É uma relação íntima em que apenas o indivíduo que recebe o milagre tem absoluta certeza de que é um ato extraordinário em que Deus se manifestou, e somente para ele trata-se de uma resposta às suas súplicas e à sua fé.

Esperei por uma objeção que não veio. Meu companheiro, curvado e algo absorto, desenterrava uma pequena concha da areia. Vez por outra pequenos caranguejos emergiam de seus buracos e saíam a andar de lado; alguns se detinham para nos fitar.

Como o ateu nada dissesse, prossegui:

– Para me fazer mais claro, deixa-me dar um exemplo. Um colega meu, passando por um lugar ermo ao norte da serra da Bocaina, em Minas, soube de uma criança que fora mordida por uma cascavel. Tomou a criança dos braços da mãe e a levou em seu carro para um hospital distante algumas centenas de quilômetros, em tempo de salvar-lhe a vida. Ora, somente para a mãe da criança o acontecido foi um milagre em resposta às suas orações. Qualquer outra pessoa dirá que não foi nada de particular entre Deus e aquela mãe, e que foi apenas sorte.

― Então, Deus apenas manipula probabilidades?

― Não digo isso, mas, ainda que Ele intervenha e inverta a ordem natural, o milagre é sempre contestável, sempre é explicável como simples fenômeno físico, ou como um fenômeno psicológico ou simplesmente atribuível à sorte, a uma certa probabilidade estatística, como se nenhuma lei da natureza houvesse sido transgredida.

O ateu objetou:

– Mas o significado de Milagre é, sabidamente, o contrário do que você diz: de acordo com a palavra latina miraculum, é alguma coisa maravilhosa, que é evidente para todos.

― Perfeitamente! O indivíduo se maravilha e em grande emoção paga uma promessa difícil, quando ele ou a sua família recebem um milagre como clara resposta às suas preces.

― Mas teria que ser algo inquestionável, como um homem que não tivesse as duas pernas e de repente se apresentasse com elas! – impacientou-se o ateu. – Uma coisa assim jamais aconteceu... Que eu saiba!

― Veja! Se tal fato acontecesse, estaria claramente e perante todos violada a lei natural. Não sobraria para ninguém aquela margem de dúvida que, em minha opinião, caracteriza o milagre. O poder de Deus estaria claramente manifestado a todos, o que tornaria completamente dispensável uma fé previamente existente. Para acontecimentos assim, capazes de despertar a fé naqueles que não a têm, deveríamos reservar a expressão testemunho.

― O milagre – prossegui – resulta de uma súplica feita com fé, enquanto o testemunho é um ato espontâneo de Deus. O milagre é secreto; o testemunho, ao contrário, é público e precisa ser investigado. O milagre, mesmo quando pedido simultaneamente por muitos, é para cada pessoa um entendimento particular com Deus. O testemunho apenas raramente é dirigido a um só homem, como foi excepcionalmente no caso do apóstolo Tomé. Enquanto o milagre inunda de felicidade, o testemunho infunde respeito e temor.

― Fico surpreso! – disse o outro. – Os fatos que estão no chamado Novo Testamento, em que a natureza teria sido claramente contrariada, assim como Cristo caminhar sobre as águas ou elevar-se ao céu ou, no que é dito ser o Velho Testamento, a travessia do Mar Vermelho pelos judeus, são narrados como milagres.

― O filósofo David Hume faz uma crítica aos fatos bíblicos dessa natureza – respondi. – Mas lhe faz falta essa distinção que eu faço, entre milagres e testemunhos. Apesar de que ele se refere indistintamente às duas coisas, seu texto é dirigido mais ao “testemunho”, e neste caso está também São Tomás, de quem se pode ver que Hume tomou parte da sua definição de milagre.

― Entendo seu ponto de vista – disse o ateu. – Resumindo: não se prova a existência de Deus com a evidência própria do método científico, porém está ao alcance do homem encontrar essa prova de modo particular, nos milagres...

— E como todo aquele que procura tal prova com certeza a encontrará, ela tem a universalidade necessária a toda demonstração científica – completei sem vacilar.

A lua cheia trouxera a maré alta; franjas de espuma arrojavam-se aos nossos pés. A aldeia estava adormecida; já passava muito das nove horas!

Ergui-me, mas o ateu permaneceu sentado. Olhava o mar que se avolumava mais a cada onda, como se estivesse hipnotizado pela massa negra que agitava tentáculos para nos alcançar.

Surpreendeu-me o tom amargo de suas palavras quando disse, a voz embargada pela emoção:

― Sabe?... Eu e minha esposa nos separamos, por culpa minha! meus filhos não me perdoam. Viajo a fim de esquecer a coisa toda.

Ao ouvi-lo percebi, consternado e surpreso, que ele realmente sofria. Já o considerava um amigo. Diante do seu abatimento, esvaiu-se de súbito o meu entusiasmo pelas minhas teses.
Porém, forçado a ser coerente com tudo que havia dito, ainda lhe disse, hesitante: – Confie em Deus!

Ele baixou a cabeça e nada disse, talvez resignado a fazer uma concessão absurda.

Retornamos à pensão, passando pelos casebres brancos, fechados e silenciosos. A noite havia esfriado. A maré trouxera um vento frio; o farfalhar das palmas do coqueiral agora era mais forte e opressivo, e no céu a lua começava a ser oculta por farrapos de nuvens escuras que se moviam ligeiro para o continente.

*
Passado não muito tempo, tive notícias do meu amigo. Sobre a mesa em meu escritório, no Recife, estava um envelope com carimbo do Sul. Continha uma fotografia em que, bastante rejuvenescido, ele tinha um braço sobre os ombros de uma mulher, olhando-a com ternura, os dois ladeados por um casal de jovens, todos sorridentes.

No verso havia apenas uma frase: “Caro geólogo, anote este milagre!”

Por Rubem Queiroz Cobra


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NOTA: Este conto foi incluído corno complemento no livrode R. Q. Cobra AS FILHAS ADOTIVAS e outros enredos psicotemáticos,Capítulo 7, p.87-98. Edições COBRA PAGES, Brasília, 2005, 136 p., ISBN 85-905519-1-1.
Fonte: Cobra, Rubem Queiroz - Diálogo com um Ateu. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 2000. ("www.geocities.com/cobra_pages" é "Mirror Site" de COBRA.PAGES)

Como o crente convenceu o ateu

(Resumo do artigo God In The Details, de Mark Stuertz)

Roy Abraham Varghese, fundador do Institute for Metascientific Research, uma vez disse: "O mundo moderno mal conhece a sensação de maravilha. Algum monstrinho roubou a mágica que nos fazia maravilhar e transformou o paraíso que chamamos de mundo em uma selva desolada.

"Esse "monstrinho" responsável por roubar a emoção de maravilhar-se, segundo Varghese, é um bando de intelectuais aprisionados em abstrações vazias e ideologias irracionais. Eles são cegos para a glória e o mistério do mundo. Não conseguem ver a floresta do universo e atentam apenas para as árvores da teoria científica, esperimentação e descoberta.

"A bactéria mais ínfima é um milagre absolutamente inacreditável. Como pode isso acontecer num universo de matéria uniforme?"

Estranhamente, tudo que está diante de nossos olhos e o que está além deles segue leis exatas e possui atributos que podem ser expressos em números e equações. Essa qualidade pressupõe um pensamento profundo e esse pensamento pressupõe uma mente infinita. O universo é abundante de inteligência em todos os níveis e essa inteligência se expressa nas leis da natureza, que foram implantadas no universo por uma inteligência infininta.

Varghese baseia seu argumento na racionalidade do universo físico, na consciência, nos pensamentos conceituais, na auto-consciência e na existência da matéria e da vida. Essas coisas todas são evidências irrefutáveis da existência de Deus.

Elas não podem emergir de um universo de matéria indistinta onde não há inteligência. Essas coisas não podem emergir exclusivamente de mecanismos passivos de seleção natural evolucionária e mutação genética aleatória. Como surgiu a consciência? Como se pode falar que a consciência foi produzida por algo que não possui a propriedade de consciência?

O mundo está cheio de agentes autônomos, seres que percebem seu ambiente e atuam nele ao longo do tempo na busca de seus próprios objetivos.

"Todos esses caras que falam das origens da vida não têm idéia do que significa vida. Não há uma coisa abstrata chamada vida. O que existe são seres vivos. Seres vivos são agentes autônomos que atuam numa infraestrutura de inteligência."

O fundamento do ato de se maravilhar, segundo Varghese, é o que ele apelida de "matriz", uma espécie de teoria de tudo baseada em quatro grandes pensadores religiosos: Maimônides (Judaísmo), Tomás de Aquino (Cristianismo), Avicena (Islã) e Shri Madhvacharya (Hiduísmo).

Essa matriz é a engrenagem de lógica que é a base do método científico: o mundo existe; o universo é inteligível e racional porque foi criado pela inteligência suprema; os seres humanos podem descobrir e conhecer verdades sobre o mundo porque os humanos têm mentes distintas da matéria e funcionam racionalmente e distinguem os significados.

Varghese argumenta que a ciência não prosseguiria sem a fé em premissas científicamente improváveis. As premissas são as de que o universo é lógico, racional e governado por um conjunto consistente de leis físicas. Essas premissas são válidas e por isso nós podemos explorar e compreender o que é observado.

Se o universo no fundo fosse irracional, resultado do acaso sem propósito e sem inteligibilidade, se fosse meramente uma construção aleatória de átomos e campos de força, então nós não poderíamos estar seguros de nossos julgamentos a respeito desse universo. O ateísmo é contraditório por negar a racionalidade do universo e ao mesmo tempo se apegar à racionalidade e à consistência lógica na superfície das coisas.

É notável a tendência de todos os cientistas, mesmo os ateus, em atribuir todas as características que seriam de Deus à natureza. Eles normalmente atribuem vontade, inteligência, criatividade, propósito, poder e até senso de humor ao que é, em sua teoria, uma coisa acidental, impessoal, aleatória e, portanto, sem significado. Parece que eles não conseguem evitar trair suas próprias palavras e esconder o seu maravilhar-se, seu temor e seu respeito pela "natureza".

Segundo Varghese, o fundamento da matriz é a equação de Deus: Deus deve existir e não pode inexistir.

Em outras palavras, se determinada coisa existe, então algo deve ter sempre existido para ter dado origem à coisa. Essa essência primária não pode possuir nenhuma limitação porque então seria necessária uma fonte que transcendesse tal limitação, e assim por diante, indefinidamente, até chegar à Deus.

"Foi um triunfo do pensamento humano chegar à essa conclusão. Por que buscaríamos descobrir leis quando se diz que as leis são impossíveis?"

Essa matriz foi o útero da ciência, o começo das premissas básicas no coração da lógica e investigação científicas. A matéria não é capaz de gerar conceitos, padrões ou constantes matemáticas. Campos de força não planejam, não pensam e nem calculam, mas algo ou alguém o faz.

Desde que Varghese convenceu o proeminente ateu Anthony Flew, a pregação ateísta virou uma febre. Nos últimos meses, vários livros de autores que atacam a crença religiosa têm surgido e ocupado as listas de mais vendidos, incluindo Richard Dawkins, Sam Harris e Daniel Dennett.

O movimento do Novo Ateísmo não apenas condena a crença em Deus, mas também prega que não se deve respeitar quem acredite e profetiza o fim da civilização se a fé religiosa não for extinta.

Segundo o filósofo e físico ateu Victor Stenger, essa erupção súbita de ataques ferozes contra os crentes em Deus é uma reação contra a "direita religiosa" que estaria tentando converter os Estados Unidos em uma teocracia. Sua queixa específica seria sobre as reinvindicações sociais e políticas dos conservadores: proibir o aborto e a distribuição de preservativos, reverter a sanção estatal das relações homossexuais e a educação sexual nas escolas, promover padrões de decência e a tolerância aos símbolos e textos cristãos no âmbito público.

Isso tudo significa apenas uma volta ao status da sociedade dos anos 50 - longe de ser uma teocracia.

Outros cientistas acreditam que o atual surto de ateísmo ranzinza pode ter sido a decepção dos evolucionistas ao se deparar com as descobertas das últimas décadas. Por exemplo, os registros fósseis agora sugerem que as bactérias e as algas apareceram quase imediatamente depois que o planeta se resfriou e a água apareceu em estado líquido há uns 3,5 bilhões de anos atrás.

Antigamente, os cientistas pensavam que seriam necessários bilhões de anos de dinamismo evolucionário para que os aminoácidos se formassem e se combinassem ao acaso para formar as primeiras formas de vida no chamado caldo primordial.

"O caldo já era e eles estão tão longe de encontrar a origem da vida como nunca estiveram."

Também há o espetáculo bizarro da "Explosão Cambriana", uma era geológica há 500-550 milhões de anos atrás, na qual praticamente todas as formas de vida e todas as estruturas que existem hoje - intestinos, juntas, guelras, olhos - emergiram totalmente formados a partir de formas de vida simples e unicelulares sem nenhum antecessor evolucionário aparente.

Essa explosão a partir da simplicidade unicelular para a complexidade multicelular ocorreu em um momento geológico de 5 a 10 milhões de anos. Antes das descobertas Cambrianas, os cientistas acreditavam que mais de 100 milhões de anos de incrementalismo evolucionário seria exigido para que as estruturas corporais básicas das formas de vida mais avançadas fossem desenvolvidas à partir de formas de vida simples, que perambularam no planeta durante 3 bilhões de anos antes dessa explosão biológica.

O professor de física-matemática Frank Tipler, autor de "The Physics of Christianity", pensa que as descobertas recentes no campo da física perturbaram profundamente os cientistas que uma vez acreditaram em um universo material eterno.

Em 1929, o astrônomo Edwin Hubble postulou que o universo estava se expandindo. Suas descobertas deram o primeiro ponto de apoio empírico à cosmologia do Big Bang porque indicavam que o universo tinha um início finito no tempo - uma singularidade, uma causa supostamente não-causada. Os cientistas ateus não gostam da idéia de que o universo começou com uma causa primária não causada.

A cosmologia do Big Bang foi uma das descobertas que balançaram o ateísmo estridente de Antony Flew. "Se não houvesse motivo para pensar que o universo tem um começo, então não haveria necessidade de postular que algo criou a coisa toda", disse ele no documentário de Varghese "Has Science Discovered God?""Quanto mais entendemos a complexidade da vida e de como improvável é que tudo tenha acontecido ao acaso, mais fortes terão de ser os argumentos a favor de um mundo não-teleológico, um mundo sem presença metafísica", diz o físico Gerald Schroeder, autor de "The Science of God" e "The Hidden Face of God", explicando a atual polarização dos ateus contra os crentes.

É essa negação da presença metafísica no universo que Varghese busca desmanchar. Essa metafísica e sua inteligência profunda pode ser encontrada em todo lugar, nas leis físicas que governam as partículas, campos e energia. Einstein uma vez comentou que a coisa mais incompreensível acerca do universo é que ele é compreensível.

Varghese insiste que essa compreensibilidade tem uma fonte distinta: "Há uma fonte infinita de racionalidade. Há uma mente infinita por trás de tudo. Isso é algo que você não conseguirá negar sem tropeçar em uma incoerência.

"Em maio de 2004, Gerald Schroeder e Roy Varghese organizaram um congresso com os maiores pensadores de renome. Lá, o filósofo inglês Antony Flew, que havia patrocinado o ateísmo desde 1950 com seu tratado "Teologia e Falsificação", anunciou que ele renunciara o ateísmo e passou a aceitar a existência de Deus graças aos argumentos de Varghese e Schroeder.

Uma tempestade acadêmica explodiu e os ateus se sentiram traídos, chegando até a acusar Flew de senilidade.

"O ateísmo pode ser uma neurose do inconsciente"
Talvez ainda mais ultrajante para os ateus seja que o documentário "Has Science Discovered God?" tenha mostrado o psicólogo Paul Vitz com sua sugestão de que o ateísmo é uma neurose do subconsciente que incentivaria uma pessoa a matar o próprio pai e para substituí-lo.

Tal neurose seria ativada por um abandono paterno, como o caso de Friedrich Nietzsche, que clamava "Deus está morto". Ele perdeu o pai com 4 anos de idade. Sigmund Freud, ateu inveterado, não respeitava seu pai por ser fraco. O pai do filósofo inglês Thomas Hobbes abandonou seus 3 filhos quando Hobbes era um adolescente.

Vitz sugere que o ateísmo é uma ilusão neurótica que aparece em tais circunstâncias.

O escritor e proponente da teoria de Projeto Inteligente, George Gilder, afirma que os cientistas confundem as informações e a estrutura das moléculas de DNA, implicando que a vida é meramente bioquímica em vez do processamento de informações que ela consiste. O programa do DNA é discreto e digital, e sua informação é transferida em receptores químicos mas não é especificado por forças químicas", diz ele.

Matéria e energia são meramente veículos de todas as informações no universo conhecido. Varghese concorda, "A informação precede sua manifestação na matéria. A próxima grande descoberta é reconhecer que o fundamento de tudo isso é a inteligência. Em todas as fases de descoberta está o grande discernimento da ciência moderna: Tudo é inteligência."

Essa inteligência é claramente visível no fenômeno de dobra de proteínas, o processo pelo qual as proteínas se auto-constróem a partir de sequências diferentes de 20 moléculas-padrão de aminoácidos. De forma precisa, essas proteínas assumem papéis na estrutura e funções dos tecidos e são construídas à uma velocidade de cerca de 2 mil proteínas por segundo em cada célula do organismo (exceto células do sangue e de reprodução) a partir de milhares desses ácidos.

O processo é tão complexo que, segundo artigo da revista Scientific American, um supercomputador programado com as regras precisas de dobra de proteínas levaria bilhões de anos para gerar uma proteína dobrada a partir de 100 aminoácidos. As leis químicas podem explicar os componentes de açúcar, base e fosfato do DNA mas não explicam seu conteúdo rico em informação.

O princípio antrópico, a idéia de que o universo foi precisamente ajustado desde o início para o surgimento da vida, é outro argumento de Varghese. Essa "sintonia fina" é expressa em um conjunto de leis físicas e constantes matemáticas. Se um único desses parâmetros variasse à uma fração ínfima, o universo existente jamais existiria e a vida não seria possível.

"Como surgiu a reprodução? Ninguém ousa discutir isso."

A reprodução é o mecanismo que rege todo o processo evolucionário. "Como é que o primeiro ser vivente teve o poder de replicação? Como é que a vida surgiu com essa capacidade fundamentalmente proposital pré-instalada?" O materialismo evolucionário fica aí encurralado contra a parede. Darwin mesmo admitiu que sua teoria dependia da existência de um ser inexplicável que já possuísse os poderes de reprodução, ser esse no qual a vida surgiu.

Antony Flew, disse que descartou seu ateísmo devido às descobertas recentes sobre o DNA e a improbabilidade de uma explicação naturalista para sua enorme complexibilidade; à evidência do Big Bang que assume que o universo teve um começo; e a falta de teorias plausíveis que expliquem as primeiras formas de vida auto-replicantes. À respeito da reprodução, ele diz "Eu não sei de ninguém que tenha oferecido teoria alguma. É praticamente um problema sem solução."

Varghese e Flew estão trabalhando no livro "There is a God", que vai articular o pensamento de Flew e as evidências e raciocínios que levaram Flew a abandonar o ateísmo. A previsão de publicação do livro é para novembro de 2007.

Além desse, Varghese está trabalhando em outros livros - um explora o assunto de vida após a morte, outro crítica os vários erros de Richard Dawkins e discute evolução e outro é à respeito de "10 verdades que impedem você de ficar louco".

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Trechos do documentário "Has Science Discovered God?"
Does God Exist? - The Message of Modern ScienceBeyond Intelligent Design - the Scientific Case for a CreatorBlog do Institute for Metascientific Research

O mundo é grande



O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

(Carlos Drummond de Andrade)

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

(Manuel Bandeira)

domingo, 27 de maio de 2007

Credo Atanasiano

Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica*. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente.

E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.

Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo. Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo. Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo. Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; Contudo, não são três eternos, mas um único eterno; Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso. Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; E todavia, não há três Deuses, porém um único Deus. Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; Entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor.

Porque, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores.

O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem negado. O Filho é só do Pai; não feito, nem criado, mas gerado.
O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.

E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade.

Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade. Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.

A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.

É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe. Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade. Ainda que é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa.
Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo;
O qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos; E aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno.

Esta é a fé católica. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.
"Também falarei dos teus testemunhos na presença dos reis, e não me envergonharei".

P.S.: (*) Fé católica aqui significa universal, ou seja, para todo a raça humana.

Credo Apostólico

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo. Seu único Filho nosso Senhor. O qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja de Cristo, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna.

Amém.