quinta-feira, 10 de abril de 2014

Antigamente, o casamento não passava pela Igreja

Atualmente, é comum aos cristãos se casarem na igreja, na presença de um ministro do evangelho.  Mas, nos tempos antigos, o casamento nem passava pela Igreja...

O conceito e prática do casamento de nossos dias não surgiu de forma pronta, é fruto de uma evolução histórica, social e teológica. É interessante notar como se deu a evolução conceitual ao longo dos tempos, desde o AT até a era da Igreja.  

No Antigo Testamento -- como no Oriente Antigo em geral -- o matrimônio não era da alçada religiosa nem civil, mas um assunto privado, entre as famílias interessadas.  Em Israel, não parece estar associada a aplicação de um sentido necessariamente religioso ao casamento.  Ele é uma questão de direito particular e acontece sem a atuação conjunta de instância do Estado e da religião.

Tempos depois, desde a época de Inácio de Antioquia e outros, a aprovação e bênção dos líderes das comunidades cristãs foi considerada desejável, mas foi tardiamente, e com alguma dificuldade, que a Igreja passou a ter influência sobre os enlaces matrimoniais. Até no séc. VII, o Direito Canônico nada fala sobre uma colaboração eclesiástica no contrato matrimonial.

Foi a partir da Idade Média que o casamento foi sendo transferido do âmbito da família para o espaço público eclesiástico, havendo, a partir disto, um maior desenvolvimento litúrgico. É nesta época que começa a se atribuir cada vez mais importância da atuação da Igreja, a ponto de que, por ocasião do enlace, um voto passar a ser uma declaração ministerial ("Deus vos coniungat. Ego vos coniungo."). Naquela época, no entanto, a validade do matrimônio ainda não dependia de uma cerimônia oficial.

No séc. XI, o movimento dos cátaros e dos albigenses (os quais rejeitavam o casamento com base em concepções hostis ao corpo) representou um imenso desafio para a reflexão teológica. Em contraposição a isto, eis que surge a necessidade de aclarar teologicamente a razão de o matrimônio ser valorizado positivamente. Nesse contexto, por meio de um documento eclesiástico oficial, que a Igreja vem designar, no ano de 1184, o matrimônio enquanto sacramento.

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