Ensina o Credo Niceno (aceito por todas as confissões de fé cristãs) que a Igreja é objeto de nossa fé. Repete-se, no mesmo, que cremos na Igreja. Entretanto não é qualquer igreja que é objeto da fé cristã. A Igreja, na qual se crê, tem marcas distintivas, como emblemas que a definem e qualificam.
A primeira destas marcas da Igreja é que ela não é múltipla, mas uma única Igreja, ela é Igreja UNA. Só existe uma Igreja: a Igreja de Jesus Cristo, ou a Igreja Cristã. A Igreja tem por marca a sua singularidade. Isso significa que as igrejas que conhecemos, com nomes variados (romana, grega, anglicana, luterana, presbiteriana, batista, metodista...) são denominações e não Igreja, no sentido teológico do termo e que, por isso, não são objetos de nossa fé. Ninguém deve crer na igreja católica, ortodoxa, episcopal etc.
A Igreja não é somente singular, mas também unida. Este é o sentido de Igreja Una. É uma só e unida Igreja. As muitas caras da Igreja (as denominações) e que desembocam, tantas vezes, em grupelhos que alimentam até ódio religioso são, na verdade, a negação da Igreja. Isso significa que a unidade da Igreja não está em suas doutrinas particulares (estas, estabelecem as diferenças), mas em Cristo que morreu pela Igreja. Cristo é o centro da unidade da Igreja e a razão de sua singularidade. Afirma Calvino sobre a Igreja que: Onde quer que vemos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo, aí de modo nenhum se há de contestar está a Igreja de Deus (Institutas, IV, I, 9).
A Igreja é una, visto que a ela tem uma missão só. Ela não tem muitas tarefas, muitas obras, muitas missões. Ser Igreja é que é a missão. Ela recebeu esta missão do Senhor: ser instrumento de Deus na implantação do Seu Reino, ou seja, fazer com que a criação chegue ao alvo determinado por Deus: a redenção! Os frutos deste Reino: paz, amor, justiça, fé, esperança, entre outros mais, são modos distintivos da missão da Igreja. Assim, a missão, base da unidade da Igreja, não é fazer proselitismo (roubar gente de outras denominações para a "nossa igreja"): isso é trabalhar contra a unidade da Igreja. A Igreja é que é a missão assumida pelos eleitos que sabem ser ela instrumento de Deus neste mundo para levar a cabo os propósitos de Deus para a Sua criação.
Ser fiel à pregação da Palavra e à ministração dos sacramentos é, em última análise, permanecer na luta pela libertação deste mundo. Pois esta é a sua preocupação: anunciar o Evangelho que promove a justiça, a paz, o amor, a fé, a esperança.
A segunda destas marcas da Igreja é que ela é santa. Isso significa dizer que ela é separada deste mundo. Realmente este é o significado de Igreja (e k k l e s i a = e k (preposição, deu origem ao sufixo latino "ex", "de fora") + k a l e w (verbo "chamar", numa tradução literal do termo teríamos: "chamados de fora"). Esta é a santidade da Igreja: ela foi chamada por Deus para servi-lo. Este serviço, que se origina do chamado de Deus, é a santidade da Igreja.
Santa, neste caso, não pode ser visto de modo meramente moral (sem pecados ou maldades – neste sentido, somente Deus é Santo, ou seja, sem pecado). A santidade da Igreja é o seu serviço: ela está a serviço do Deus que é Santo. Quem quiser encontrar santidade na Igreja olhando para os membros da Igreja e reparando como eles são "santos", certamente terá uma grande decepção.
A Igreja presta este serviço a Deus no mundo. Ela é separada para servir a Deus e não separada do mundo para ser de Deus. Ela é separada para servir a Deus dentro deste mundo. Se julgar que sua santidade é o seu afastamento do mundo, na verdade afastar-se-á do lugar do serviço de Deus e, por isso, servir-se-á e não ao Deus que a convocou, perdendo, assim, a santidade para qual foi chamada. Este é o ser da Igreja: servir a Deus no mundo. As tarefas realizadas pelas comunidades, em situações históricas diferentes e diante dos desafios das várias e diferenciadas situações, tem como princípio, meio e fim o serviço a Deus.
Isso significa dizer que a Igreja não faz evangelização, atendimento aos necessitados, publicações, cultos dominicais, e seja lá mais o que fizer, a não ser dentro desta perspectiva de sua santidade. Razão porque o Novo Testamento conhece e reconhece que o Culto de Deus é o Serviço de Deus: servir e cultuar a Deus são uma e a mesma coisa. Pode-se, pois, afirmar, com plena convicção, que o culto prestado pela Igreja ao Seu Deus está na vida de serviço que tem.
Isto, porém, não é um "esforço" da Igreja. A sua santidade foi conquistada e é realizada em Cristo: Jesus Cristo é quem apresenta a Igreja, diante de Deus, como santa, inculpável, irrepreensível, sem ruga, sem marca. E, assim como Seu Senhor, a Igreja serve ao Pai no serviço que presta à humanidade neste mundo, lutando pelo amor, a paz e a justiça.
O Espírito, que é Santo, é quem garante a unidade e comunhão desta Igreja, reunindo-a no mundo para proclamar as virtudes d’Aquele que a tirou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Ao, pois, dizer que deve-se depositar confiança (cre) na santa Igreja, afirma-se o amor que Deus tem por esta Igreja, chamando-a, separando-a, vocacionando-a, purificando-a dos seus pecados e dando-lhe comunhão para que seja o "plano-piloto" do seu Reino em meio a este mundo.
A terceira destas marcas da Igreja é que ela é católica. Este é um termo que, lido assim, parece referir-se à Igreja Romana. Pode até ser que sim, mas não só! O termo quer dizer Universal. Mas este é outro termo problemático hoje em dia, pois pode parecer que se está falando da Igreja Universal do Reino de Deus. O termo quer dizer Ecumênica. Mas isso também traz muito problema na maioria das comunidades cristãs.
Primeiramente deve-se destacar que ao falar-se católica não se está pensando quantitativamente, mas qualitativamente. A Igreja não é católica porque é grande, imensa, quantitativamente, espalhada por toda a face do planeta (embora, a bem da verdade, isso seja ótimo!). Se de um lado o termo que dá emblema à Igreja, católica, quer dizer Igreja "abrangente", isso significa, também, Igreja "integral". A Igreja que é objeto de nossa fé não é propriedade de um povo, uma raça, uma nação, de uma classe social, de um segmento etário ou de um dos sexos.
A Igreja destina-se à todos, assim como a salvação em Cristo, objeto central, fundamental e principal da Igreja. Ela transcende as barreiras que dividem a humanidade, sejam fronteiras, sejam governos, partidos, culturas, raças, sexos, classes sociais. Por isso, a Igreja afirma a sua catolicidade na medida que trabalha sempre para derrubar as barreiras criadas pelos homens e que acabam gerando discriminações as mais variadas.
Vê-se, pois, que a questão fundamental que envolve a catolicidade da Igreja é, antes de tudo uma questão qualitativa e que, como conseqüência, acaba por atingir a via quantitativa. Porém, mesmo antes, no início, quando a Igreja era um minúsculo movimento recém saído do judaísmo e constituída de poucas raças e seguimentos sociais, mesmo ali era ela católica, pois apontava seus esforços na direção de todas as nações, de todos os povos, de todas as pessoas e lutava, ainda que pobre e sem poder, contra as barreiras que separavam os seres humanos.
A Igreja, é claro, é a expressão do amor de Deus, revelado na Sua eleição. Entretanto, a Igreja em sua militância não tem como determinar os eleitos, mas somente anunciar a todos o Evangelho do amor de Deus em Cristo: A saber: que Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo (Paulo). Por isso a Igreja insere-se em todas as culturas, em todos os espaços humanos, para trazer a mensagem transformadora do Evangelho de Deus em Cristo.
A quarta destas marcas da Igreja é que ela é apostólica. Este é o fundamento sobre o qual se ergue a Igreja. Aprendemos isso no N.T.: Jesus Cristo é a Pedra Angular que sustenta o edifício; o fundamento é o testemunho, a doutrina, o ensino apostólico; as colunas são os ministérios da Igreja; e, todos nós, as pedras vivas. Deus não tem, nem reconhece, nenhum outro templo onde habitar.
Foram os apóstolos de Jesus Cristo, fundadores da Igreja, que edificaram a Igreja. Por isso receberam o ofício das chaves, ou seja, as "chaves da Igreja", pois a Igreja é, antes de tudo, apostólica. Ela não é de uma pessoa, de um bispado que se prolonga em linha de continuidade, não é propriedade de uma raça, uma nação, um grupo, uma denominação.
Isso significa que na Igreja não se acredita no que se tem na cabeça, como se a fonte de nossa fé fosse somente a nossa exclusiva relação com Deus. Nossa relação com Jesus Cristo, sua doutrina, seus ensinos, suas intenções santas, estão relacionadas aos apóstolos. Ora, o ensino apostólico encontra-se nas Escrituras Sagradas do Novo Testamento, assim, as questões doutrinárias de fé, de prática e de consciência devem estar coerentes com o ensino dos santos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta é a única autoridade da Igreja: ser apostólica. Ela fala com autoridade porque fala conforme os apóstolos. Porém, e mais importante, ela age com autoridade porque age conforme agiram os apóstolos. Ela dá testemunho apostólico e exemplo apostólico. Os ministérios da Igreja estão sob uma ordem: a ordem apostólica. Por isso, quer na palavra (pregação sobre a obra redentora de Jesus Cristo), quer nos sacramentos (apresentação da obra redentora de Jesus Cristo), a Igreja segue os apóstolos e, assim, e somente assim, podemos falar com toda a tranqüilidade em sucessão apostólica (que nada tem haver com episcopado monárquico).
A Igreja vive dessa seqüência (de seguir, ou suceder) aos apóstolos. Isso significa que de um lado ela preserva, guarda, defende o que recebeu por herança dos apóstolos, persevera naquilo que deles aprendeu. De outro, na imitação de suas práticas, a Igreja renova e inova, recriando nos diferentes contextos da história e da geografia deste mundo (ela é católica) a prática libertadora, purificadora, santificadora, dos apóstolos de Cristo. Na pobreza e simplicidade apostólicas a Igreja estende ao mundo a mão abençoadora de Jesus livrando os homens das garras do mal, da opressão, das injustiças e do diabo.
Aprendemos com João Calvino que "onde quer que vemos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo, aí, de modo nenhum, se há de contestar, está uma Igreja de Deus..." (Institutas, IV, I, 9). Isso significa que, por esses sinais identifica-se a Igreja.
A Igreja, por ser apostólica, tem como sinal claro a pregação apostólica, ou seja, conforme ensinaram os apóstolo. Tudo o que deveríamos conhecer e saber foi-nos dado por Deus, através dos santos apóstolos, na Escritura Sagrada. Por essa razão, este sinal da Igreja (a correta pregação da Palavra de Deus) está ligado à sua marca preponderante (ser a Igreja apostólica).
A Palavra de Deus deve ser pregada sinceramente. Este é um termo muito cheio de significado: sincero quer dizer sem cera. As ceras eram usadas para esconder rachaduras em vasos por comerciantes que desejavam enganar os consumidores. A correta pregação da Palavra não esconde a verdade, antes a coloca claramente aos ouvintes. Por isso, parte dessa marca não é somente a sincera pregação, mas a correspondente escuta da mesma. Na Igreja a Palavra deve ser acolhida, quando pregada na linha apostólica e com sinceridade, de modo manso e obediente. Por isso diz Tiago: Acolhei com mansidão a Palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas (1:21).
Vê-se, pois, que a pregação e o acolhimento da Palavra de Deus são indiscutíveis sinais da Igreja de Jesus Cristo. Mas o que Calvino quer destacar é que não é somente um mero falar e um mero ouvir. Não é uma questão de comunicação somente. Está implícito que este falar e este ouvir correspondem a um praticar. Considerando que na tradição calvinista o único intérprete fiel da Palavra é o Espírito Santo, pois é Ele quem nos revela a Cristo e aplica os benefícios da graça ao nosso coração, a aplicação da Palavra de Deus ao coração do cristão é obra eficaz do Espírito Santo. Conseqüência disso é a prática desta Palavra: Tornai-vos, pois, praticantes da Palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos (Tg. 1:22).
Neste sinal fala-se de duas submissões: do ministro no falar e da comunidade no ouvir. Ambos, como sinal da Igreja, quer no anunciar, quer no ouvir e praticar, devem estar submissos a Deus que opera, pela Palavra, através do Espírito Santo. A Igreja de Cristo está submissa à Palavra de Cristo, pois é a Igreja Apostólica, unida no poder do Evangelho, santificada pelo Espírito que a consagra para si.
A Igreja, por ser apostólica, expressa como seu claro sinal, conforme o ensino de Jesus que nos advêm destes mesmos apóstolos, os Santos Sacramentos. Este é um termo latino, tradução do termo grego bíblico mysterion (m u s t h r i o n ). Este termo, na Bíblia, é usado para descrever todas as coisas ou sinais que representam sublimidades espirituais.
A pregação da Palavra de Deus nos orienta a fé e a conduz às verdades de Deus, os Sacramentos, foram instituídos por Deus para o mesmo fim. Eles consistem em um sinal externo mediante o qual o Senhor sela a nossa consciência com as verdades eternas de suas promessas (que outra coisa não é senão a Sua bondade para conosco), para sustentar a debilidade de nossa fé e nos fortalecer nas promessas de Sua Palavra. Seria como que um modo de calcar e recalcar as verdades do Evangelho de Jesus Cristo em nosso coração tardo e néscio para compreende-las.
Na pregação da Palavra de Deus existe um sinal externo (a Escrituras Sagradas), nos Sacramentos há, também, um sinal externo (que é o elemento material neles usados – água, pão e vinho). Como a Palavra de Deus nos promete a boa e misericordiosa graça de Deus, os Sacramentos também não existem sem uma promessa que os fundamente e garanta. Por isso, Calvino, ensinando sobre o Sacramento, diria que o mesmo é a Palavra visível (...) Destrate, certo é serem-nos pelo Senhor oferecidos a misericórdia e o penhor de Sua graça tanto por Sua sagrada Palavra, quanto pelos Sacramentos (Institutas, IV, XIV, 6 e 7).
Assim como na Palavra torna-se necessária a fé para que a sua mensagem seja compreendida e apreendia, nos Sacramentos, também, sem a fé de nada aproveitam. Não há outro modo de atuação da graça de Deus, que nos é apresentada na Sua Palavra, a não ser pela fé. Assim, também, a graça de Deus, que nos é apresentada nos Sacramentos, torna-se eficaz e eficiente no coração que tem fé. Como a fé é um dom de Deus aos eleitos, deve-se afirmar, com toda a certeza, que os Sacramentos de Deus são oferecidos, somente, aos Seus eleitos que já foram despertados pelo dom da fé.
Assim como a atuação da graça de Deus torna-se eficiente ao coração que a recebe por fé, somente por meio do Espírito Santo, também, o Sacramento, somente pela atuação poderosa do Espírito Santo, aplicando-nos os benefícios apresentados no Sacramento, torna-se eficaz na vida do crente. Por isso, os Sacramentos confirmam a Palavra Deus, pois, representam a Cristo e nos apresentam a Sua graça bendita, no poder do Espírito.
Outro sinal fundamental da Igreja de Cristo é a sua disciplina. Tal disciplina está relacionada à sua fidelidade à Palavra de Deus. Razão porque nós, presbiterianos, ao recebemos um membro à comunhão de nossa fé exigimos fidelidade à disciplina às autoridades constituídas para seu governo enquanto forem fiéis à Palavra de Deus.
Infelizmente este termo tem sido muito mal interpretado dentro da Igreja, confundindo-se disciplina com castigo e governo com autoritarismo. Mas disciplina tem muito mais a ver com ensinar, educar, corrigir do que com julgar, condenar e punir. Veja-se, por exemplo, o verbo grego que traduzimos por exortar. Pode parecer a alguns que seu sentido seja "chamar a atenção" no sentido de "passar um ‘sermão’", o que nada se coaduna com o significado do termo.
Exortar vem do verbo grego p a r a k a l e w (parakaleo), que é a junção da preposição p a r a (para = do lado, ao lado, junto de) e do verbo k a l e w (chamar), literalmente, significa chamar ao lado, ou chamar para ficar ao lado. A idéia seria um apelo, ou rogo para estar ao lado, estar no mesmo caminho, estar junto. Por esta razão ele é traduzido por pedir, convidar, rogar, consolar, encorajar. Esta não é outra senão a missão do Espírito Santo, que foi denominado por Jesus de outro Õ a r a k l h t o s (parakletos) ou seja Consolador.
Disciplinar, neste sentido, significa ficar ao lado de alguém, instar, ensinar, encorajar, dar o suporte e o amparo necessários para que não haja quedas, ou tropeços, ou desvios do caminho. Isso nada tem a ver com julgar, punir, condenar. Antes é um chamado à Igreja se responsabilizar pela educação, correção, orientação pedagógica e pastoral de todos os seus membros. Destarte tem mais ligação com misericórdia, amor, consolo e animação. Por esta razão Paulo exorta "através de Cristo", "por meio de Cristo", "na misericórdia do Senhor" (Rm. 12:1), "pelo amor do Espírito" (Rm. 15:30), por meio da "mansidão e da benignidade de Cristo" (II Co. 10:1).
Em Paulo o termo é o oposto de tribulação, sofrimento, morte (I Co. 1: 3-11). Razão porque prometeu Jesus que os que choram, receberiam consolo (Mt. 5:4). Não é outra a disciplina da Igreja senão curar, educar, assumindo o lado do outro, entrando no seu caminho para lhe endireitar as veredas. Julgar, condenar e punir gera tribulação, sofrimento e dor e nada tem que ver com o consolo amoroso do Espírito.
Vê-se, pois, que a primeira Igreja, descrita pelo autor do Livro dos Atos dos Apóstolos, a destacar o modo apostólico de viver-se Igreja, que a mesma "perseverava na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At. 2:42). O ensino apostólico (didaskalia), a comunhão que gera e produz unidade (koinonia), o repartir do alimento e dos bens (diakonia) e a vida de culto onde ouve-se a Palavra e fala-se com o Senhor da Igreja (liturgia), eram as características da Igreja de Cristo. A Igreja de Cristo está, pois, fundamentada na Palavra, nos Sacramentos e na Disciplina, garantia de sua unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade.
Por: Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Oração ao Nosso Senhor Jesus Cristo
Ó Senhor de grande misericórdia e de suprema compaixão, Jesus Cristo, meu Deus, que pelo Teu amor infinito desceste e Te encarnaste para salvar a todos. Eu Te peço, ainda uma vez, ó Salvador, salva-me por graça. Posto que se me salvas em virtude de minhas obras, não é mais graça nem dom, antes dívida. Eis que Tu próprio disseste, ó meu Cristo, grande em ternura e inefável em misericórdia: quem crê em Mim, viverá e jamais verá a morte. Se então a fé em Ti salva os desesperados, eu creio: salva-me, pois Tu és o meu Deus e Criador. Seja-me a fé contada no lugar das obras, ó meu Deus, pois não encontrarás nada para justificar-me. Que esta minha fé possa as substituir, responder em meu favor, justificar-me e revelar-me como participar à Tua glória eterna; que Satanás não se apodere de mim e nem se vã-glorie, ó Verbo, por tomar-me de Tuas mãos e de Tua salvaguarda. Querendo eu ou não, salva-me, ó Cristo meu Salvador, apressa-Te pois estou em perigo, Tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe. Torna-me digno, Senhor, de agora Te amar tal como outrora amava o pecado, e que eu novamente Te sirva sem negligência como dantes a Satanás. Eu Te servirei cada vez mais, Senhor e Deus meu, Jesus Cristo, a cada dia de minha vida, agora e sempre e pelos séculos dos séculos. Amém.
Fonte: http://ortodoxia-brasil.blogspot.com/2007/10/orao-ao-nosso-senhor-jesus-cristo.html
Fonte: http://ortodoxia-brasil.blogspot.com/2007/10/orao-ao-nosso-senhor-jesus-cristo.html
sábado, 2 de agosto de 2008
Adoração na igreja evangélica contemporânea
Há dois tipos de música, a boa e a ruim — seja ela erudita, MPB, sertaneja, reggae, rap, rock ou gospel. O que me surpreende é a capacidade de o mercado absorver a música ruim. Com a proliferação de compositores, intérpretes, bandas e gravadoras, o cenário evangélico não poderia ser diferente. Tem música boa, mas também tem muita música ruim.
Passamos séculos louvando a Deus com hinos históricos da Reforma. Bastava um hinário, e tínhamos músicas com letras densas, boa teologia e linha melódica harmoniosa.
Nos últimos anos surgiu o que chamamos de louvorzão. Jogamos fora os hinários, a liturgia, aposentamos o piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as coreografias e a aeróbica. Surgiu também a figura do dirigente de louvor, responsável por animar a congregação. Daí para a frente há muito barulho, muitas palmas, muitas mãos levantadas, muitos abraços, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica é: temos adoração?
O lado positivo do louvorzão é o interesse e a integração na igreja de milhares de jovens. Trata-se de uma oportunidade única para ensinar estes jovens, através do exemplo e da Palavra, o caminho do discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estarão estes jovens crescendo na santidade e no serviço?
Alguns cultos se tornaram verdadeiras produções dignas da Broadway. Músicos profissionais, cenários, bailarinos e iluminação. Mas fica uma pergunta: toda esta parafernália cênica tem levado o povo de Deus a uma genuína adoração?
A história da Igreja é rica em manifestações artísticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso através de várias expressões musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o negro espiritual e os cânticos contemporâneos deixaram sua contribuição à boa música ao longo destes últimos séculos.
Trata-se, portanto, de um equívoco jogar fora toda a herança histórica e achar que esta geração descobriu a forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos que a história nos legou uma herança preciosa. Na cultura gospel do louvorzão tem muita música ruim, muita letra questionável e muito dirigente de louvor que mais parece um animador de auditório.
A igreja pode ser a ponte entre as gerações, entre o antigo e o novo e integrar na adoração tudo o que há de bom na sua herança histórica. Tem muita gente cansada do louvorzão barulhento de letras rasas, de bandas que tocam no último volume, de coreografias esvoaçantes e de ordens do dirigente para abraçar o irmão da frente, de trás e do lado dizendo que o amamos. É constrangedor abraçar alguém e dizer que o amamos quando nem sequer o conhecemos.
A igreja perde quando a ênfase do louvor se desloca da congregação para o palco. Com raras exceções a música é ruim, a letra não tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia reformada e a performance no palco é apelativa.
A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditório e já não cultiva a boa música com cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. E perde muito mais quando a adoração se torna um evento estimulado sensorialmente e não uma melodia que emerge de um coração quebrantado e temente a Deus. Adoração é sempre uma resposta humilde, alegre, reverente àquilo que Deus é e faz. Adoramos porque algo aconteceu, algo nos foi revelado, e não o contrário, como pensam alguns, que recebemos a revelação e as coisas acontecem porque adoramos.
A igreja perde quando não há reverência ou temor. O que resta é euforia, excitação e sensações prazerosas. O que é bom em si mesmo, mas não é necessariamente adoração.
É um equívoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Antes, ele acolhe muito mais nossos gestos simples do cotidiano, fruto de um coração humilde e quebrantado, que busca se desprender de ambições e serve ao próximo com alegria. Adoração não é um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de vida que glorifica ao Senhor.
Durante séculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balcão posterior ao coro, ao órgão e à orquestra. Na igreja da Reforma os músicos e o coro se posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao lado. Mesmo o púlpito não estava no centro, mas ao lado. No centro havia, quando muito, alguns símbolos da fé, que ajudam a despertar a consciência para a experiência do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. A congregação ficava em face ao altar de Deus, sem que nada se interpusesse entre a Santa Presença e a congregação. Este lugar só pode ser ocupado por Jesus Cristo. Ele é o único mediador, ele é o único que pode dirigir o louvor.
Hoje o que se vê é o apóstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos levando de volta à Antiga Aliança, quando sacerdotes e levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A conseqüência é uma geração de crentes que dependem de homens, coreografias e data-shows para adorar e para ouvir a voz de Deus.
O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Espírito Santo para seguirem a Cristo, que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a crescerem e amadurecerem na fé, na esperança e no amor, integrando adoração, oração e leitura das Escrituras no seu cotidiano.
A contextualização se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu. Na tentativa de se identificar com o mundo ela ficou cada vez mais parecida com ele. A cultura gospel é autocentrada, materialista, acha-se dona da verdade, tornou-se uma religião que nos faz prosperar, que não nos pede para renunciar a nada e que resolve todos os nossos problemas. Há um abismo colossal entre a cultura gospel e o evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar sacrificalmente o nosso próximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na experiência existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz.
Estas reflexões já estavam fervilhando no meu coração há algum tempo. Pensei que estas coisas só aconteciam em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a colocá-las no papel foi ter participado de um culto numa Igreja Batista da Convenção.
• Autor: Osmar Ludovico da Silva (pastor da Igreja Evangélica Comunidade de Cristo em Cabedelo, PB), ministra cursos de espiritualidade cristã, formação de líderes e restauração para missionários.
Passamos séculos louvando a Deus com hinos históricos da Reforma. Bastava um hinário, e tínhamos músicas com letras densas, boa teologia e linha melódica harmoniosa.
Nos últimos anos surgiu o que chamamos de louvorzão. Jogamos fora os hinários, a liturgia, aposentamos o piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as coreografias e a aeróbica. Surgiu também a figura do dirigente de louvor, responsável por animar a congregação. Daí para a frente há muito barulho, muitas palmas, muitas mãos levantadas, muitos abraços, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica é: temos adoração?
O lado positivo do louvorzão é o interesse e a integração na igreja de milhares de jovens. Trata-se de uma oportunidade única para ensinar estes jovens, através do exemplo e da Palavra, o caminho do discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estarão estes jovens crescendo na santidade e no serviço?
Alguns cultos se tornaram verdadeiras produções dignas da Broadway. Músicos profissionais, cenários, bailarinos e iluminação. Mas fica uma pergunta: toda esta parafernália cênica tem levado o povo de Deus a uma genuína adoração?
A história da Igreja é rica em manifestações artísticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso através de várias expressões musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o negro espiritual e os cânticos contemporâneos deixaram sua contribuição à boa música ao longo destes últimos séculos.
Trata-se, portanto, de um equívoco jogar fora toda a herança histórica e achar que esta geração descobriu a forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos que a história nos legou uma herança preciosa. Na cultura gospel do louvorzão tem muita música ruim, muita letra questionável e muito dirigente de louvor que mais parece um animador de auditório.
A igreja pode ser a ponte entre as gerações, entre o antigo e o novo e integrar na adoração tudo o que há de bom na sua herança histórica. Tem muita gente cansada do louvorzão barulhento de letras rasas, de bandas que tocam no último volume, de coreografias esvoaçantes e de ordens do dirigente para abraçar o irmão da frente, de trás e do lado dizendo que o amamos. É constrangedor abraçar alguém e dizer que o amamos quando nem sequer o conhecemos.
A igreja perde quando a ênfase do louvor se desloca da congregação para o palco. Com raras exceções a música é ruim, a letra não tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia reformada e a performance no palco é apelativa.
A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditório e já não cultiva a boa música com cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. E perde muito mais quando a adoração se torna um evento estimulado sensorialmente e não uma melodia que emerge de um coração quebrantado e temente a Deus. Adoração é sempre uma resposta humilde, alegre, reverente àquilo que Deus é e faz. Adoramos porque algo aconteceu, algo nos foi revelado, e não o contrário, como pensam alguns, que recebemos a revelação e as coisas acontecem porque adoramos.
A igreja perde quando não há reverência ou temor. O que resta é euforia, excitação e sensações prazerosas. O que é bom em si mesmo, mas não é necessariamente adoração.
É um equívoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Antes, ele acolhe muito mais nossos gestos simples do cotidiano, fruto de um coração humilde e quebrantado, que busca se desprender de ambições e serve ao próximo com alegria. Adoração não é um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de vida que glorifica ao Senhor.
Durante séculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balcão posterior ao coro, ao órgão e à orquestra. Na igreja da Reforma os músicos e o coro se posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao lado. Mesmo o púlpito não estava no centro, mas ao lado. No centro havia, quando muito, alguns símbolos da fé, que ajudam a despertar a consciência para a experiência do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. A congregação ficava em face ao altar de Deus, sem que nada se interpusesse entre a Santa Presença e a congregação. Este lugar só pode ser ocupado por Jesus Cristo. Ele é o único mediador, ele é o único que pode dirigir o louvor.
Hoje o que se vê é o apóstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos levando de volta à Antiga Aliança, quando sacerdotes e levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A conseqüência é uma geração de crentes que dependem de homens, coreografias e data-shows para adorar e para ouvir a voz de Deus.
O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Espírito Santo para seguirem a Cristo, que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a crescerem e amadurecerem na fé, na esperança e no amor, integrando adoração, oração e leitura das Escrituras no seu cotidiano.
A contextualização se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu. Na tentativa de se identificar com o mundo ela ficou cada vez mais parecida com ele. A cultura gospel é autocentrada, materialista, acha-se dona da verdade, tornou-se uma religião que nos faz prosperar, que não nos pede para renunciar a nada e que resolve todos os nossos problemas. Há um abismo colossal entre a cultura gospel e o evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar sacrificalmente o nosso próximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na experiência existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz.
Estas reflexões já estavam fervilhando no meu coração há algum tempo. Pensei que estas coisas só aconteciam em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a colocá-las no papel foi ter participado de um culto numa Igreja Batista da Convenção.
• Autor: Osmar Ludovico da Silva (pastor da Igreja Evangélica Comunidade de Cristo em Cabedelo, PB), ministra cursos de espiritualidade cristã, formação de líderes e restauração para missionários.
O Anglicanismo e sua Liturgia
A beleza e a ordem nascem do coração de Deus, que concede ao ser humano a inata sensibilidade estética, que pode ser aperfeiçoada com a educação. Daí o mandato cultural à humanidade incluir o desenvolvimento da Arte, em suas diversas expressões (plásticas, dramáticas, musicais etc.). A Arte Sacra tem sido aspecto central das manifestações culturais em todas as épocas. Ela destina-se a glorificar a Deus e aproximar o ser humano do Sagrado.
Deus, nosso Pai, na Primeira Aliança, comunicou todos os detalhes da construção do Santuário: arquitetura, decoração, móveis e utensílios, e as próprias vestes dos sacerdotes. O templo, construído por Salomão, além da sua funcionalidade para o Culto e o Sacrifício, era marcado por sua beleza, dedicado a Deus, o Sumo Belo, e o Criador da Beleza. A feiúra, a inestética, o não-belo, em todas as suas expressões, é um resultado do pecado, e a plena beleza, como no Jardim do Éden, será restaurada, após o Juízo Final, na Nova Jerusalém.
A Arte Sacra, elaborada por corações contritos, é forma de adoração: os templos, as cerimônias, os ritos ali realizados são Liturgias (no original leitourgia = trabalho do povo). Todas as igrejas, de todas as correntes, são litúrgicas, valorizando ou não a História, com maior ou menor elaboração, conteúdo, nível estético ou doutrinário. As chamadas “liturgias improvisadas” são tão cristalizadas quanto qualquer outra, pois se pode prever cada passo do “improviso” .
Apesar das perseguições do Império Romano, a Igreja Primitiva adotou símbolos, como a cruz e o peixe, e elaborou formas de culto, especialmente para a celebração dominical do Sacramento da Ceia do Senhor. Pode-se verificar esse fato na Carta de Clemente Romano aos Coríntios, ainda no final do primeiro século, e, no segundo século, em textos como o Didaquê, a Carta de Plínio ao Imperador Trajano, e o texto de Justino, o Mártir, sobre o Culto Dominical. No terceiro século, os textos de Hipólito e Cirilo já explicitam Ritos Eucarísticos plenamente elaborados, com as diversas partes que adotamos hoje. No Oriente, as Igrejas Pré-Calcedônias vão adotar o Rito atribuído a Tiago, o irmão do Senhor, e as Igrejas Bizantinas, o rito atribuído a João Crisóstomo. No Ocidente, durante a Idade Média, vão surgir, influenciados pelas culturas regionais, dentre outros, os ritos Romano, Galicano e de Sarum (este na Inglaterra).
Com a Reforma Protestante, foi no Luteranismo onde se expressou uma maior preocupação estética, com a preservação dos antigos templos, e a reelaboração de Símbolos, Cerimônias e Ritos, mantidos em sua beleza histórica, porém expurgados dos desvios doutrinários surgidos na Igreja de Roma no período anterior. A posição Luterana foi: “Devemos manter tudo aquilo que a Igreja Cristã elaborou, e que não se choque com a Palavra de Deus” . O Anglicanismo – como parte da mesma Primeira Reforma – seguiu a orientação Luterana. Isso contrastava com radicalismos encontrados entre Calvinistas: o culto como “quatro paredes caiadas e um sermão” , ou entre setores Anabatistas, que, adotando a incorreta teoria da “apostasia geral da Igreja” , negava toda criação de quinze séculos, e pretendia uma ahistórica reconstituição idealizada da Igreja Primitiva. Lutero sai do seu exílio, onde estava traduzindo a Bíblia, para combater a Iconoclastia (destruição das obras de Arte Sacra) empreendida pelo extremista Carlstad . O radicalismo iconoclasta surge sempre da generalizada identificação entre Arte Sacra e Idolatria, que não tem base nem no Judaísmo, nem no Cristianismo, mas que vai se instalar no Islamismo, e em setores do Protestantismo posterior.
Apesar da importância do trabalho teológico de um Richard Hooker , e do conteúdo doutrinário dos XXXIX Artigos de Religião, o Anglicanismo, pelo gênio do Arcebispo Thomas Cranmer , coloca nossos princípios doutrinários na Liturgia popularizada do Livro de Oração Comum (LOC), dando lugar à compreensão, entre nós, do “Lex Credendi, Lex Orandi” , confessamos aquilo que oramos. O Livro de Oração Comum teve várias edições, refletindo um período de instabilidade política da Inglaterra (com governos protestantes – anglicanos e presbiterianos – e católicos romanos): 1549, 1552, 1559, 1604, e, finalmente, 1662, adotada desde então. O objetivo do Livro de Oração Comum foi sistematizar e simplificar um conjunto de liturgias históricas reformadas no vernáculo, colocada nas mãos do clero e do povo.
O Livro de Oração Comum de 1662 foi o único adotado pela Igreja da Inglaterra dos séculos XVI a XIX, em todo o mundo, com profundas influências em outras denominações. Com o surgimento da Comunhão Anglicana, no século XIX, cada Província viria a adotar sua própria versão do LOC, além de ritos complementares ou alternativos, mantidos a estrutura e a doutrina originais. O Conselho Consultivo Anglicano (ACC) tem orientado como princípios para essas reelaborações: a) a fidelidade às Sagradas Escrituras; b) a flexibilidade pastoral; c) a Inculturação; d) a Inclusividade/Ecumenicidade
No Brasil, um excelente trabalho foi empreendido por nosso segundo Bispo, Dom Thomas , resultando no LOC brasileiro de 1930, contendo: Calendário e Lições para o Ano Cristão, Batismo, Matrimônio, Ofícios de Sepultura, Oração Matutina, Oração Vespertina, Ceia do Senhor, Saltério, Ordinal (Ordenações de Diáconos, Presbíteros e Bispos), Catecismo, XXXIX Artigos de Religião, fórmulas para os cultos domésticos e orações especiais para festas (como a Quaresma) ou ocasiões (como visita a parturientes ou enfermos). Ou seja, um LOC completo, que foi respeitado e amplamente popularizado.
Do Prefácio daquela edição, lemos: “Da Igreja da Inglaterra recebeu a nossa Igreja-Mãe o bom depósito da Fé uma vez confiada aos santos” , e dessa origem remota, que vai entroncar nos tempos apostólicos, é que, através de quase vinte séculos de milícia, o devocionário cristão chegou até nós como um tesouro de incalculável valia. Desse precioso legado esta Igreja herda e seleciona o seu ritual, escoimada a velha liturgia de tudo aquilo que possa colidir com a Palavra de Deus, ou impedir a Igreja de correr, no grande estádio da vida moderna, a carreira que lhe está proposta perante uma tão grande nuvem de testemunhas. E, ainda: “Exuberante prova do espírito construtivo e conservador desta Igreja é fornecida por este Livro nas belas instruções que ministra sobre a Doutrina da Santíssima Trindade, a salvação pela Fé em Cristo, o ensino bíblico sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria e os Santos Apóstolos e Mártires, a confissão a Deus, a necessidade de arrependimento, os sacramentos administrados pela forma prescrita nas Santas Escrituras, e muitos outros pontos interessantíssimos da Fé Cristã, todos concorrentes à edificação das almas, sem o sacrifício da consciência, essa luz preciosa e brilhantíssima com a qual Deus distinguiu a criatura humana” .
Necessidade de atualização lingüística, e mudança de linha teológica (do evangelicalismo para o anglo-catolicismo, e, deste, para o liberal-catolicismo) levaram a Província do Brasil a abandonar o LOC de 1930 e publicar uma nova versão profundamente mutilada e limitada em 1984, ausente a maioria dos itens de um LOC normal. O Anglicanismo no Sul tendeu a um ritualismo frio, pobre em cerimônias, enquanto no Nordeste tendeu à direção contrária, com cerimônias imitativas de outras ondas denominacionais, empobrecendo o Rito.
O Brasil foi marcado pela proibição de sinais externos de arte sacra não Católica Romana e de ritos apenas em línguas estrangeiras para protestantes imigrantes, durante a Colônia e o Império, pela falta de recursos das igrejas para investimento na arte de adoração, pelo limitado nível cultural dos fiéis, que atingia a sensibilidade estética, e por um antagonismo radical anti-católico romano, que não soube distinguir o essencial do acidental, seguindo antes o extremismo Anabatista do que o equilíbrio Luterano e Anglicano. Ultimamente, com os cultos midiáticos, centrados nos pastores e cantores artistas, fartos de “animação” e rasos de conteúdo, sem ordem, com a “corinhologia” pauperizada em teologia e no vernáculo, temos apenas agravado a crise Litúrgica, que empobrece o nível do povo de Deus.
A tradição Anglicana tem, historicamente, se preocupado com a beleza arquitetônica e a decoração dos nossos templos, com o lugar apropriado para a cruz, o altar/santa mesa, o atril, o púlpito, os assentos laterais para clero e coro, as vestes, a ordem do processional precedida pelo cruciferário, a dignidade, solenidade e reverência no culto, com uma liturgia participativa e dialogal, entre celebrantes e povo. Essa tradição se encontra em choque com o “informal” (?) espírito Pós-Moderno e com a hegemonia anabatista-pós-pentecostal do culto-espetáculo.
Há de se fazer uma diferenciação entre os Símbolos (presentes nos vitrais, azulejos, mosaicos, móveis e utensílios, como a cruz, o cálice e a patena, as cenas bíblicas) e as Cerimônias, que é o “como” da condução dos Cultos, com seus gestos, suas orações extemporâneas, ao tipo de cântico e de presença de grupos de música ou de dança, o uso ou não de velas e incenso, o persignar-se (sinal da cruz), que, de acordo com as várias correntes litúrgicas dentro de Anglicanismo, e as preferências pessoais e comunitárias, são legítimos em sua diversidade, dos Ritos, que são as palavras textuais, com conteúdo doutrinário, e que não são descartáveis ou selecionáveis, mas de todos os celebrantes se requer. Por outro lado, as Rubricas do LOC, sobre procedimentos e o que é reservado para o Bispo, os Presbíteros e os Diáconos, em nossa Igreja , têm força de Lei.
Na situação de excepcionalidade em que se encontra a nossa Diocese, o LOC da IEAB, o Livro de Ritos Opcionais da DAR e o novo LOC editado por irmãos continuantes são fontes para a nossa prática litúrgica. É dever do Clero conhecer, amar e compartilhar, com fidelidade e criatividade, da nossa Liturgia junto ao nosso Laicato, dando uma contribuição (e não sendo cooptados) para superarmos a pobreza, a superficialidade e a anarquia litúrgica reinante no Cristianismo brasileiro reformado em nossos dias.
(Compilação: Revmo. Dom Robinson Cavalcanti )
Deus, nosso Pai, na Primeira Aliança, comunicou todos os detalhes da construção do Santuário: arquitetura, decoração, móveis e utensílios, e as próprias vestes dos sacerdotes. O templo, construído por Salomão, além da sua funcionalidade para o Culto e o Sacrifício, era marcado por sua beleza, dedicado a Deus, o Sumo Belo, e o Criador da Beleza. A feiúra, a inestética, o não-belo, em todas as suas expressões, é um resultado do pecado, e a plena beleza, como no Jardim do Éden, será restaurada, após o Juízo Final, na Nova Jerusalém.
A Arte Sacra, elaborada por corações contritos, é forma de adoração: os templos, as cerimônias, os ritos ali realizados são Liturgias (no original leitourgia = trabalho do povo). Todas as igrejas, de todas as correntes, são litúrgicas, valorizando ou não a História, com maior ou menor elaboração, conteúdo, nível estético ou doutrinário. As chamadas “liturgias improvisadas” são tão cristalizadas quanto qualquer outra, pois se pode prever cada passo do “improviso” .
Apesar das perseguições do Império Romano, a Igreja Primitiva adotou símbolos, como a cruz e o peixe, e elaborou formas de culto, especialmente para a celebração dominical do Sacramento da Ceia do Senhor. Pode-se verificar esse fato na Carta de Clemente Romano aos Coríntios, ainda no final do primeiro século, e, no segundo século, em textos como o Didaquê, a Carta de Plínio ao Imperador Trajano, e o texto de Justino, o Mártir, sobre o Culto Dominical. No terceiro século, os textos de Hipólito e Cirilo já explicitam Ritos Eucarísticos plenamente elaborados, com as diversas partes que adotamos hoje. No Oriente, as Igrejas Pré-Calcedônias vão adotar o Rito atribuído a Tiago, o irmão do Senhor, e as Igrejas Bizantinas, o rito atribuído a João Crisóstomo. No Ocidente, durante a Idade Média, vão surgir, influenciados pelas culturas regionais, dentre outros, os ritos Romano, Galicano e de Sarum (este na Inglaterra).
Com a Reforma Protestante, foi no Luteranismo onde se expressou uma maior preocupação estética, com a preservação dos antigos templos, e a reelaboração de Símbolos, Cerimônias e Ritos, mantidos em sua beleza histórica, porém expurgados dos desvios doutrinários surgidos na Igreja de Roma no período anterior. A posição Luterana foi: “Devemos manter tudo aquilo que a Igreja Cristã elaborou, e que não se choque com a Palavra de Deus” . O Anglicanismo – como parte da mesma Primeira Reforma – seguiu a orientação Luterana. Isso contrastava com radicalismos encontrados entre Calvinistas: o culto como “quatro paredes caiadas e um sermão” , ou entre setores Anabatistas, que, adotando a incorreta teoria da “apostasia geral da Igreja” , negava toda criação de quinze séculos, e pretendia uma ahistórica reconstituição idealizada da Igreja Primitiva. Lutero sai do seu exílio, onde estava traduzindo a Bíblia, para combater a Iconoclastia (destruição das obras de Arte Sacra) empreendida pelo extremista Carlstad . O radicalismo iconoclasta surge sempre da generalizada identificação entre Arte Sacra e Idolatria, que não tem base nem no Judaísmo, nem no Cristianismo, mas que vai se instalar no Islamismo, e em setores do Protestantismo posterior.
Apesar da importância do trabalho teológico de um Richard Hooker , e do conteúdo doutrinário dos XXXIX Artigos de Religião, o Anglicanismo, pelo gênio do Arcebispo Thomas Cranmer , coloca nossos princípios doutrinários na Liturgia popularizada do Livro de Oração Comum (LOC), dando lugar à compreensão, entre nós, do “Lex Credendi, Lex Orandi” , confessamos aquilo que oramos. O Livro de Oração Comum teve várias edições, refletindo um período de instabilidade política da Inglaterra (com governos protestantes – anglicanos e presbiterianos – e católicos romanos): 1549, 1552, 1559, 1604, e, finalmente, 1662, adotada desde então. O objetivo do Livro de Oração Comum foi sistematizar e simplificar um conjunto de liturgias históricas reformadas no vernáculo, colocada nas mãos do clero e do povo.
O Livro de Oração Comum de 1662 foi o único adotado pela Igreja da Inglaterra dos séculos XVI a XIX, em todo o mundo, com profundas influências em outras denominações. Com o surgimento da Comunhão Anglicana, no século XIX, cada Província viria a adotar sua própria versão do LOC, além de ritos complementares ou alternativos, mantidos a estrutura e a doutrina originais. O Conselho Consultivo Anglicano (ACC) tem orientado como princípios para essas reelaborações: a) a fidelidade às Sagradas Escrituras; b) a flexibilidade pastoral; c) a Inculturação; d) a Inclusividade/Ecumenicidade
No Brasil, um excelente trabalho foi empreendido por nosso segundo Bispo, Dom Thomas , resultando no LOC brasileiro de 1930, contendo: Calendário e Lições para o Ano Cristão, Batismo, Matrimônio, Ofícios de Sepultura, Oração Matutina, Oração Vespertina, Ceia do Senhor, Saltério, Ordinal (Ordenações de Diáconos, Presbíteros e Bispos), Catecismo, XXXIX Artigos de Religião, fórmulas para os cultos domésticos e orações especiais para festas (como a Quaresma) ou ocasiões (como visita a parturientes ou enfermos). Ou seja, um LOC completo, que foi respeitado e amplamente popularizado.
Do Prefácio daquela edição, lemos: “Da Igreja da Inglaterra recebeu a nossa Igreja-Mãe o bom depósito da Fé uma vez confiada aos santos” , e dessa origem remota, que vai entroncar nos tempos apostólicos, é que, através de quase vinte séculos de milícia, o devocionário cristão chegou até nós como um tesouro de incalculável valia. Desse precioso legado esta Igreja herda e seleciona o seu ritual, escoimada a velha liturgia de tudo aquilo que possa colidir com a Palavra de Deus, ou impedir a Igreja de correr, no grande estádio da vida moderna, a carreira que lhe está proposta perante uma tão grande nuvem de testemunhas. E, ainda: “Exuberante prova do espírito construtivo e conservador desta Igreja é fornecida por este Livro nas belas instruções que ministra sobre a Doutrina da Santíssima Trindade, a salvação pela Fé em Cristo, o ensino bíblico sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria e os Santos Apóstolos e Mártires, a confissão a Deus, a necessidade de arrependimento, os sacramentos administrados pela forma prescrita nas Santas Escrituras, e muitos outros pontos interessantíssimos da Fé Cristã, todos concorrentes à edificação das almas, sem o sacrifício da consciência, essa luz preciosa e brilhantíssima com a qual Deus distinguiu a criatura humana” .
Necessidade de atualização lingüística, e mudança de linha teológica (do evangelicalismo para o anglo-catolicismo, e, deste, para o liberal-catolicismo) levaram a Província do Brasil a abandonar o LOC de 1930 e publicar uma nova versão profundamente mutilada e limitada em 1984, ausente a maioria dos itens de um LOC normal. O Anglicanismo no Sul tendeu a um ritualismo frio, pobre em cerimônias, enquanto no Nordeste tendeu à direção contrária, com cerimônias imitativas de outras ondas denominacionais, empobrecendo o Rito.
O Brasil foi marcado pela proibição de sinais externos de arte sacra não Católica Romana e de ritos apenas em línguas estrangeiras para protestantes imigrantes, durante a Colônia e o Império, pela falta de recursos das igrejas para investimento na arte de adoração, pelo limitado nível cultural dos fiéis, que atingia a sensibilidade estética, e por um antagonismo radical anti-católico romano, que não soube distinguir o essencial do acidental, seguindo antes o extremismo Anabatista do que o equilíbrio Luterano e Anglicano. Ultimamente, com os cultos midiáticos, centrados nos pastores e cantores artistas, fartos de “animação” e rasos de conteúdo, sem ordem, com a “corinhologia” pauperizada em teologia e no vernáculo, temos apenas agravado a crise Litúrgica, que empobrece o nível do povo de Deus.
A tradição Anglicana tem, historicamente, se preocupado com a beleza arquitetônica e a decoração dos nossos templos, com o lugar apropriado para a cruz, o altar/santa mesa, o atril, o púlpito, os assentos laterais para clero e coro, as vestes, a ordem do processional precedida pelo cruciferário, a dignidade, solenidade e reverência no culto, com uma liturgia participativa e dialogal, entre celebrantes e povo. Essa tradição se encontra em choque com o “informal” (?) espírito Pós-Moderno e com a hegemonia anabatista-pós-pentecostal do culto-espetáculo.
Há de se fazer uma diferenciação entre os Símbolos (presentes nos vitrais, azulejos, mosaicos, móveis e utensílios, como a cruz, o cálice e a patena, as cenas bíblicas) e as Cerimônias, que é o “como” da condução dos Cultos, com seus gestos, suas orações extemporâneas, ao tipo de cântico e de presença de grupos de música ou de dança, o uso ou não de velas e incenso, o persignar-se (sinal da cruz), que, de acordo com as várias correntes litúrgicas dentro de Anglicanismo, e as preferências pessoais e comunitárias, são legítimos em sua diversidade, dos Ritos, que são as palavras textuais, com conteúdo doutrinário, e que não são descartáveis ou selecionáveis, mas de todos os celebrantes se requer. Por outro lado, as Rubricas do LOC, sobre procedimentos e o que é reservado para o Bispo, os Presbíteros e os Diáconos, em nossa Igreja , têm força de Lei.
Na situação de excepcionalidade em que se encontra a nossa Diocese, o LOC da IEAB, o Livro de Ritos Opcionais da DAR e o novo LOC editado por irmãos continuantes são fontes para a nossa prática litúrgica. É dever do Clero conhecer, amar e compartilhar, com fidelidade e criatividade, da nossa Liturgia junto ao nosso Laicato, dando uma contribuição (e não sendo cooptados) para superarmos a pobreza, a superficialidade e a anarquia litúrgica reinante no Cristianismo brasileiro reformado em nossos dias.
(Compilação: Revmo. Dom Robinson Cavalcanti )
Os Anglicanos e os Sacramentos
O terceiro item do Quadrilátero de Lambeth , dentre as crenças doutrinárias centrais para os Anglicanos, se encontra: “Os dois Sacramentos ordenados por Cristo mesmo – Batismo e Ceia do Senhor – ministrados com o uso das inexoráveis palavras de Cristo na instituição e dos elementos ordenados por Ele”.
Um Sacramento já foi definido como: “Um sinal externo e visível de uma graça interna e espiritual, que se nos concede, instituído pelo próprio Cristo, como meio de recebermos essa graça, e como penhor que nos assegura dela”.
O Sacramento deve ter sido instituído pelo próprio Cristo – conforme relato dos Evangelhos – cujas palavras são repetidas pelos celebrantes, deve conter elementos externos, visíveis, da natureza (água, pão, vinho), e deve concorrer para alimentar os fiéis, que os recebem pela fé, com a graça de Deus. No Catecismo de um dos Livros de Oração Comum (LOC) de uma de nossas Províncias Anglicanas, Graça é entendida como “o favor de Deus para conosco”.
Em nosso Documento Doutrinário Anglicano da época da Reforma Protestante, do século XVI, os “XXXIX Artigos de Religião” , em seu artigo XXV – Dos Sacramentos, lemos a seguinte afirmativa: “Os Sacramentos instituídos por Cristo não são unicamente designações ou indícios da profissão dos Cristãos, mas antes testemunhos certos e firmes, e sinais eficazes da graça, e da boa vontade de Deus para conosco, pelos quais Ele opera invisivelmente em nós, e não só vivifica, mas, também, fortalece e confirma a nossa fé Nele. São dois os Sacramentos instituídos por Cristo nosso Senhor no Evangelho, isto é, o Batismo e a Ceia do Senhor”.
Aquele importante documento nega o status de “sacramento” a outros ritos não instituídos por Cristo, mas sim pela Igreja, ao longo dos séculos, por mais benéficos que sejam: Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio e Unção dos Enfermos. Faltar-lhe-ia os elementos essenciais para tanto. Posteriormente, passaram a ser denominados no Anglicanismo de “Ritos Sacramentais” , ou de “Sacramentos Menores” . Enquanto os Sacramentos estão na economia da salvação, os ritos sacramentais estariam na economia da santificação.
O Artigo XXVII – Do Batismo, do Documento acima citado, nos ensina que: “O Batismo não é um sinal de profissão e marca de diferença, com que se distinguem os Cristãos dos que o não são, mas também um sinal de regeneração ou Nascimento novo, pelo qual, como por instrumentos, os que recebem o Batismo devidamente, são enxertados na Igreja; as promessas da remissão dos pecados, e da nossa adoção como filhos de Deus pelo Espírito Santo, são visivelmente marcadas e seladas, a fé é confirmada, e a graça aumentada por virtude da oração de Deus. O Batismo das crianças deve conservar-se de qualquer modo na Igreja como sumamente como à instituição de Cristo”.
O Batismo tem sido entendido como “o ato de imergir, infundir ou aspergir, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sobre o convertido ou criança “filha da promessa”, ou seja, de pais e/ou avós já crentes” . Ambos os batismos, seguindo, na Nova Aliança, a tradição da Primeira Aliança (circuncisão e batismo de prosélitos) na Igreja Primitiva, segundo farta e confiável documentação do período dos Pais Apostólicos (segundo século). O convertido professa a sua fé, e os filhos da promessa ( “para tu e os de tua descendência” ) recebem a semente do Evangelho, que uma vez devidamente regada pela família da carne e pela família da fé, haverá de germinar, como tão bem nos ensina Calvino.
Como a quantidade de água, além de não-essencial, foi diversa nos primórdios do Cristianismo, os Anglicanos não somente batizam adultos e crianças, mas também o fazem por imersão (em água corrente ou não) e por infusão ou aspersão na pia batismal, com o uso das palavras da instituição por nosso Senhor Jesus Cristo. Em todos os casos deve-se preparar as pessoas e chamar a atenção para a importância desse rito de iniciação cristã.
O segundo Sacramento é tratado no Artigo XXVIII – Da Ceia do Senhor: “A Ceia do Senhor não é só um sinal de mútuo amor que os cristãos devem ter uns para com os outros; mas antes é um Sacramento da nossa Redenção pela morte de Cristo, de sorte que para os que devida e dignamente, e com fé o recebem, o pão que partimos é a participação do Corpo de Cristo; e de igual modo o Cálice de bênção é uma participação do Sangue de Cristo” . Nossa posição rejeita a doutrina da Transubstanciação da Igreja Romana e da Consubstanciação da Igreja Luterana, bem como o do mero memorial defendido pelos Anabatistas. Afirma esse Artigo: “O Corpo de Cristo é dado, tomado, e comido na Ceia, somente dum modo celeste e espiritual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é recebido e comido na Ceia é a Fé” . Daí os Anglicanos afirmarem, mas não definirem racionalmente (pois sacramento é mistério, apreendido pela fé) o sentido da “Presença Real” de Cristo, que é espiritual e não material, estando presente não nos elementos, isoladamente, mas no Sacramento: rito, palavras solenes, elementos, cristãos com fé.
Os Artigos de Religião afirmam a necessidade de, em obediência ao que está prescrito pelas Escrituras, celebrarmos a Ceia com ambos os elementos: o pão e o vinho, nem só o pão (Igreja de Roma), nem pão e suco de uva (prática que apareceu na Igreja Metodista dos EUA no século XIX), são condenados os que participam indignamente ou sem fé, e afirma-se que a fé e o caráter do celebrante não afetam o Sacramento devidamente administrado e devidamente recebido.
Como afirmação do Corpo Místico de Cristo, e de que nós, os Anglicanos, somos uma parcela provisória e reformada desse Corpo, praticamos a chamada “Ceia Aberta” (a Mesa é do Senhor e não da Igreja Anglicana) a todas as pessoas batizadas, que confessem Cristo como Senhor e Salvador e estejam em paz com Deus e em comunhão com as suas igrejas.
A Ceia do Senhor, ou Eucaristia ( “Ação de Graças” ) era celebrada dominicalmente pela Igreja dos primeiros séculos, como afirmação da redenção e da ressurreição. Fórmulas e ritos foram sendo elaborados, sendo a mais antiga (adotada pela Igreja Ortodoxa Siriana) atribuída a Tiago, irmão do Senhor. As tradições da Igreja Celta e da Igreja Romana foram profundamente afetadas pela Reforma Luterana na adoção dos Ritos pelo Livro de Oração Comum, da Igreja da Inglaterra. Hoje, variações que não afetem o essencial, são adotadas nos LOC's de cada uma das 38 Províncias Anglicanas, e em Ritos Alternativos ou Opcionais, devidamente autorizados pelo Bispo de cada Diocese, único detentor do “jus liturgicum” (autoridade para adotar liturgias).
Os Sacramentos têm como fundamento a própria Encarnação de Cristo, que dignifica a Natureza, e o uso dos seus componentes para o bem estar material e espiritual. Para os Anglicanos as Escrituras e os Sacramentos alimentam a fé e proclamam a fé. Deve-se, contudo, evitar o formalismo, a banalização ou a superstição (magicismo) no tocante aos Sacramentos, que devem ser celebrados “com ordem e decência” , com solenidade e docência, segundo a Liturgia Oficial da Igreja (como prescrevem os Cânones).
Ao convidarmos parentes, amigos e vizinhos para as celebrações do Batismo e da Ceia, emprestamos aos Sacramentos uma dimensão missionária, evangelizadora, como anúncios solenes das Boas Novas. Pregamos, assim, não pela verborragia , mas pela Liturgia , usada, poderosamente, pelo Espírito Santo.
Não podemos negar a História da Igreja e a herança apostólica, negando os Sacramentos. O equilíbrio entre Pregação e Sacramento como explicitações da Palavra de Deus para o Povo de Deus é uma das mais profundas marcas do Anglicanismo.
Vivamos essa Verdade!
Autor: Dom Robinson Cavalcanti, Bispo Anglicano
Um Sacramento já foi definido como: “Um sinal externo e visível de uma graça interna e espiritual, que se nos concede, instituído pelo próprio Cristo, como meio de recebermos essa graça, e como penhor que nos assegura dela”.
O Sacramento deve ter sido instituído pelo próprio Cristo – conforme relato dos Evangelhos – cujas palavras são repetidas pelos celebrantes, deve conter elementos externos, visíveis, da natureza (água, pão, vinho), e deve concorrer para alimentar os fiéis, que os recebem pela fé, com a graça de Deus. No Catecismo de um dos Livros de Oração Comum (LOC) de uma de nossas Províncias Anglicanas, Graça é entendida como “o favor de Deus para conosco”.
Em nosso Documento Doutrinário Anglicano da época da Reforma Protestante, do século XVI, os “XXXIX Artigos de Religião” , em seu artigo XXV – Dos Sacramentos, lemos a seguinte afirmativa: “Os Sacramentos instituídos por Cristo não são unicamente designações ou indícios da profissão dos Cristãos, mas antes testemunhos certos e firmes, e sinais eficazes da graça, e da boa vontade de Deus para conosco, pelos quais Ele opera invisivelmente em nós, e não só vivifica, mas, também, fortalece e confirma a nossa fé Nele. São dois os Sacramentos instituídos por Cristo nosso Senhor no Evangelho, isto é, o Batismo e a Ceia do Senhor”.
Aquele importante documento nega o status de “sacramento” a outros ritos não instituídos por Cristo, mas sim pela Igreja, ao longo dos séculos, por mais benéficos que sejam: Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio e Unção dos Enfermos. Faltar-lhe-ia os elementos essenciais para tanto. Posteriormente, passaram a ser denominados no Anglicanismo de “Ritos Sacramentais” , ou de “Sacramentos Menores” . Enquanto os Sacramentos estão na economia da salvação, os ritos sacramentais estariam na economia da santificação.
O Artigo XXVII – Do Batismo, do Documento acima citado, nos ensina que: “O Batismo não é um sinal de profissão e marca de diferença, com que se distinguem os Cristãos dos que o não são, mas também um sinal de regeneração ou Nascimento novo, pelo qual, como por instrumentos, os que recebem o Batismo devidamente, são enxertados na Igreja; as promessas da remissão dos pecados, e da nossa adoção como filhos de Deus pelo Espírito Santo, são visivelmente marcadas e seladas, a fé é confirmada, e a graça aumentada por virtude da oração de Deus. O Batismo das crianças deve conservar-se de qualquer modo na Igreja como sumamente como à instituição de Cristo”.
O Batismo tem sido entendido como “o ato de imergir, infundir ou aspergir, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sobre o convertido ou criança “filha da promessa”, ou seja, de pais e/ou avós já crentes” . Ambos os batismos, seguindo, na Nova Aliança, a tradição da Primeira Aliança (circuncisão e batismo de prosélitos) na Igreja Primitiva, segundo farta e confiável documentação do período dos Pais Apostólicos (segundo século). O convertido professa a sua fé, e os filhos da promessa ( “para tu e os de tua descendência” ) recebem a semente do Evangelho, que uma vez devidamente regada pela família da carne e pela família da fé, haverá de germinar, como tão bem nos ensina Calvino.
Como a quantidade de água, além de não-essencial, foi diversa nos primórdios do Cristianismo, os Anglicanos não somente batizam adultos e crianças, mas também o fazem por imersão (em água corrente ou não) e por infusão ou aspersão na pia batismal, com o uso das palavras da instituição por nosso Senhor Jesus Cristo. Em todos os casos deve-se preparar as pessoas e chamar a atenção para a importância desse rito de iniciação cristã.
O segundo Sacramento é tratado no Artigo XXVIII – Da Ceia do Senhor: “A Ceia do Senhor não é só um sinal de mútuo amor que os cristãos devem ter uns para com os outros; mas antes é um Sacramento da nossa Redenção pela morte de Cristo, de sorte que para os que devida e dignamente, e com fé o recebem, o pão que partimos é a participação do Corpo de Cristo; e de igual modo o Cálice de bênção é uma participação do Sangue de Cristo” . Nossa posição rejeita a doutrina da Transubstanciação da Igreja Romana e da Consubstanciação da Igreja Luterana, bem como o do mero memorial defendido pelos Anabatistas. Afirma esse Artigo: “O Corpo de Cristo é dado, tomado, e comido na Ceia, somente dum modo celeste e espiritual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é recebido e comido na Ceia é a Fé” . Daí os Anglicanos afirmarem, mas não definirem racionalmente (pois sacramento é mistério, apreendido pela fé) o sentido da “Presença Real” de Cristo, que é espiritual e não material, estando presente não nos elementos, isoladamente, mas no Sacramento: rito, palavras solenes, elementos, cristãos com fé.
Os Artigos de Religião afirmam a necessidade de, em obediência ao que está prescrito pelas Escrituras, celebrarmos a Ceia com ambos os elementos: o pão e o vinho, nem só o pão (Igreja de Roma), nem pão e suco de uva (prática que apareceu na Igreja Metodista dos EUA no século XIX), são condenados os que participam indignamente ou sem fé, e afirma-se que a fé e o caráter do celebrante não afetam o Sacramento devidamente administrado e devidamente recebido.
Como afirmação do Corpo Místico de Cristo, e de que nós, os Anglicanos, somos uma parcela provisória e reformada desse Corpo, praticamos a chamada “Ceia Aberta” (a Mesa é do Senhor e não da Igreja Anglicana) a todas as pessoas batizadas, que confessem Cristo como Senhor e Salvador e estejam em paz com Deus e em comunhão com as suas igrejas.
A Ceia do Senhor, ou Eucaristia ( “Ação de Graças” ) era celebrada dominicalmente pela Igreja dos primeiros séculos, como afirmação da redenção e da ressurreição. Fórmulas e ritos foram sendo elaborados, sendo a mais antiga (adotada pela Igreja Ortodoxa Siriana) atribuída a Tiago, irmão do Senhor. As tradições da Igreja Celta e da Igreja Romana foram profundamente afetadas pela Reforma Luterana na adoção dos Ritos pelo Livro de Oração Comum, da Igreja da Inglaterra. Hoje, variações que não afetem o essencial, são adotadas nos LOC's de cada uma das 38 Províncias Anglicanas, e em Ritos Alternativos ou Opcionais, devidamente autorizados pelo Bispo de cada Diocese, único detentor do “jus liturgicum” (autoridade para adotar liturgias).
Os Sacramentos têm como fundamento a própria Encarnação de Cristo, que dignifica a Natureza, e o uso dos seus componentes para o bem estar material e espiritual. Para os Anglicanos as Escrituras e os Sacramentos alimentam a fé e proclamam a fé. Deve-se, contudo, evitar o formalismo, a banalização ou a superstição (magicismo) no tocante aos Sacramentos, que devem ser celebrados “com ordem e decência” , com solenidade e docência, segundo a Liturgia Oficial da Igreja (como prescrevem os Cânones).
Ao convidarmos parentes, amigos e vizinhos para as celebrações do Batismo e da Ceia, emprestamos aos Sacramentos uma dimensão missionária, evangelizadora, como anúncios solenes das Boas Novas. Pregamos, assim, não pela verborragia , mas pela Liturgia , usada, poderosamente, pelo Espírito Santo.
Não podemos negar a História da Igreja e a herança apostólica, negando os Sacramentos. O equilíbrio entre Pregação e Sacramento como explicitações da Palavra de Deus para o Povo de Deus é uma das mais profundas marcas do Anglicanismo.
Vivamos essa Verdade!
Autor: Dom Robinson Cavalcanti, Bispo Anglicano
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